conceito de ser

O conceito de ser é um conceito simplicíssimo, comuníssimo e essencial.

É o primeiro objeto do intelecto. É formalmente pobre, mas concretamente rico. Todo ser é unidade, alguma coisa, bondade (valor), verdadeiro, entidade, relação (como ainda veremos).

O Ser, enquanto tal, não é um gênero e não é um universal.

Transcende as categorias que são nele, e dele.

É o mais comum, por ser o mais inteligível.

É uma unidade de simplicidade e uma unidade de razão.

Não existe a parte de outro.

É único.

É o sujeito de todos os predicados e predicado de todos os sujeitos.

É eternamente presente.

Inseria, em si, tudo.

É a eterna presença e eficacidade pura.

Inclui a finitude e a infinitude, e todas as modalidades de ser.

É perfeito, proficiente, pois nada lhe falta, nem nada há fora dele.

É a primordialidade de tudo quanto é.

Agora, se considerarmos o conteúdo conceitual propriamente dito, veremos que há nele uma analogia, quando aplicado a vários entes. Se considero a cadeira um “móvel composto de assento, encosto e pernas, com a função de permitir que uma pessoa nela se assente”, entre esta cadeira e aquela, o conceito, que nelas é comum, porque nelas considera apenas aquelas notas que têm em comum, é univoco. Ou em outras palavras, há univocidade conceitual entre essas duas cadeiras. Nelas, estou desprezando tudo o mais que as pode diferenciar, como o ser esta de madeira, aquela de metal, etc. Há, deste modo, uma certa identidade entre esses objetos, identidade parcial, pois desconsidero o que nelas é heterogêneo.

Mas o conceito de ser apresenta uma particularidade que o diferencia dos outros. É que o que é heterogêneo é ainda ser, e não apenas o que há de homogêneo, o que não se verificava no exemplo anterior. Não há, aí, portanto, identidade no que expressa, porque se considerarmos que ser apenas expressa uma parte dos objetos (isto é, se admitimos que o conceito de ser tem uma representação parcial) as notas heterogêneas seriam extrínsecas ao ser, e neste caso seriam idênticas ao não-ser, o que nos colocaria num verdadeiro contra-senso.

Portanto, concluem os tomistas, o conceito de ser é apenas proporcional entre os seres, não é unívoco, mas apenas análogo.

Mostram-nos os tomistas que todo conceito unívoco pode ser expresso por um termo abstrato e por um termo concreto. O termo abstrato expressa uma abstração “formal”, por ex. dureza. Expressam eles certa forma ou qualidade, isolada do seu sujeito, (exprimit subiectum sed non totum). Quando digo que esta casa é verde, considero-a dotada da côr verde. Indica o sujeito integralmente (a casa), mas qualifica-o por uma de suas determinações (exprimit subiecto totum, sed non totaliter = expressa todo o objeto, não porém totalmente). É o termo concreto. O termo concreto expressa o próprio sujeito afectado de uma determinação particular. É o resultado de uma abstração “total”, isto é, efetuada sobre o todo. Quando digo “negro” refiro-me a um certo sujeito dotado da “negrura”.

Posso predicar o termo concreto do sujeito, mas o termo abstrato não pode ser predicado do sujeito. Posso dizer que este homem é negro, não posso dizer porém que ele é negrura, pois não posso considerar a parte como idêntica ao todo.

O termo ser empregado expressa sempre o sujeito totalmente e sob todos os aspectos e relações (exprimit subiectu totum et totaliter = expressa todo e totalmente o sujeito). O ser, por abstrato que se queira tornar, não exclui, não separa, não isola um aspecto parcial do sujeito; desta forma, no ser, a abstração total e a abstração formal se equivalem. Se digo que este livro existe ou que este livro é sua existência, é indiferente, porque existe e existência são equivalentes.

Fazem deste modo os tomistas questão de salientar que o ser não é nunca um aspecto, um elemento, uma determinação dissassociável, mesmo quando considerado logicamente, dos outros, pois quaisquer das outras determinações são intrínsecas e formalmente o ser.

Esse o aspecto misterioso do real, unidade na diversidade e diversidade na unidade. Quando conceptualizcraios a ideia de ser, temos uma ideia, mas confusa (de confundere, de fundir com, misturada), por isso analógica do ser, que na sua essência nos escapa, isto é, temos um saber quiditaitvo do ser não quiddita-tive, isto é, exaustivo até à sua essência, o que froneticamente. se o tivéssemos, por fusão com ele, nos poria em estado de beatitude, o que, pelos tomistas, nos é negado nesta vida. [MFS]