cânon

(gr. kanon; in. Canon; fr. Canon; al. Kanon; it. Canone).

Critério ou regra de escolhas para um campo qualquer de conhecimento ou de ação. É provável que esse termo tenha sido introduzido pelo escultor Policleto, que deu esse título a uma obra na qual descrevia a simetria do corpo e indicava as regras e as proporções que o escultor deve respeitar (40, A, 3 Diels). Epicuro chamou de canônica a ciência do critério; para ele, critério é a sensação no domínio do conhecimento e o prazer no domínio prático (Dióg. L., X, 30). Esse termo foi retomado pelos matemáticos do séc. XVIII e Leibniz o emprega para designar “as fórmulas gerais que dão o que se .pede” (Mathematische Schriften, VIII, 217), p. ex., a fórmula que dá dois números cuja soma e subtração se conhecem, ou a que dá as raízes de uma equação. Stuart Mill chama de cânon as regras que exprimem os quatro métodos da pesquisa experimental, isto é, concordância, diferença, resíduos e variações concomitantes (Logic, II, 8, § 1 ss.). Kant entende por cânon o uso legítimo de uma faculdade humana em geral; por isso, considera a lógica geral como um cânon para o intelecto e a razão no que tange à forma (já que prescinde de qualquer conteúdo); considera a analítica transcendental como “o cânon do intelecto puro” e chama de “cânon da razão pura” o conjunto de princípios a priori do uso legítimo de certas faculdades cognoscitivas em geral. Onde não é possível o uso legítimo de uma faculdade, não há cânon; por isso, a dialética transcendental, isto é, o uso especulativo da razão, não tem um cânon ou pelo menos não tem um cânon teorético, mas pode ter apenas um para uso prático (Crít. R. Pura, Doutr. do método, cap. II). Por outro lado, ele fala de cânon do juízo moral, assim expresso: “Deve-se poder querer que a máxima da nossa ação se torne lei universal” (Grundlegung zur Met. der Sitten, II). Na filosofia moderna e na filosofia contemporânea, emprega-se mais frequentemente o termo critério. No entanto, às vezes cânon também é empregado no sentido tradicional. Dewey chama de cânon os princípios lógicos de identidade, contradição e terceiro excluído (Logic, cap. XVII). [Abbagnano]


A regra prática, modelo a ser seguido. Por exemplo, a arte grega, particularmente o estatuário Policleto, propôs um cânon para a representação do homem, que atribui à cabeça 1/6 do corpo humano, e do qual o Doríforo de Policleto dá o melhor exemplo. [Larousse]