Sempre verde, mesmo no solstício de inverno o pinheiro representa a celebração da vida que mesmo no mais frio e mais escuro período do ano exibe esta vida. Acredita-se que a adoção do pinheiro de Natal esteja conectado com uma festa pagã relativa ao deus Attis, cujo festival incluía a decoração de um pinheiro; embora se dê preferência à combinação de dois costumes: o romano de decorar as casas com verdes nas Calendas de Janeiro e a crença popular que nas vésperas de Natal algumas árvores, floresciam ou até davam frutos fora da época.
O primeiro registro de uma árvore de Natal vem de um alemão escrevendo em 1605. Em 1737, um professor na Universidade Wittenburg relata o caso de uma senhora que que fazia uma árvore decorada, cercada de velas e presentes, para seus filhos. Na Inglaterra só em 1840 quando a Rainha Vitória trouxe uma árvore de Natal para a comemoração no palácio é que o costume ganhou prestígio geral.
PERENIALISTAS
Jean Laurent: Pinheiro de Natal, traduzido de Études Traditionnelles 482, 1983
O pinheiro de Natal teria aparecido em nossas regiões (Vosges, França) no princípio do século XX. De fato ele é antigo como o mundo. Com efeito, ele é madeira da qual se faz o fogo, a árvore plantada no centro polar da criação, o portador das formas manifestadas.
Na noite de inverno de minha terra, Vosges, o pinheiro coberto de neve parece um bom gigante que inclina seu olhar doce coberto de um grosso supercílio branco para os que passam.
Mas há passantes inocentes nesta noite de Natal onde a morte de um tempo vem contemplar a eterna natividade?
O pinheiro verdadeiro, ou Abies, faz parte da família das Pináceas. O grupo Abies comporta cinquenta espécies. O pinheiro de Natal autêntico é para mim a Abies alba, ou pinheiro do Voges (pinheiro comum). Este pinheiro vive dois ou três séculos. Seu crescimento é lento e irregular sobre os topos de minhas montanhas onde é concorrido pela epiceia. O pinheiro, embora comum, tem o porte nobre, triste e o aspecto venerável. No meio das terras frias do inverno, a árvore verde significa a vida, mas jamais a primavera, pois é insensível às estações.
Sua forma piramidal lhe confere uma estatura arquetípica. Embora nascendo até na Turquia, evoca as florestas siberianas, a neve, a montanha; é a árvore de um monte polar legendário. Suas grandes ramas que se desprendem ao redor de todo tronco desdobram os sinais da manifestação ao redor do grande eixo da verticalidade: é a árvore do mundo.
A lenha e o fogo
Janus tem uma face olhando para frente e uma face olhando para trás. A terceira face, o corte entre a primeira e a segunda, é virtual. As festas de Janus, que eram as festas dos solstícios se tornaram as festas de João (o Batista e o Evangelista).
No inverno, o sol no mais baixo nível (no hemisfério norte): queima-se a lenha na chaminé. No verão, o sol está no mais alto: queima-se a lenha e a palha nos “fogos de São João”.
A lenha de Natal consagra o fogo de luz e de calor no coração da intimidade da casa.
No Natal, o sol terminando seu curso e começando um outro, se põe no topo principal da árvore do mundo: é uma pobre estrela no coração da noite do tempo e do espaço, que indica a festa do renascimento e decora nossos pinheiros.
No Paraíso, os frutos são as árvores elas mesmas. No Natal, a lenha que se consome é o pinheiro ele mesmo; e, como em uma eucaristia, a lenha de Natal se vê comida!
Esta árvore–fruto devorada é o signo do Paraíso. Na noite de Natal, a paz desce sobre o mundo; os animais falam; os anjos dos céus interpelam os pastores. Nossas formas terrestres são penetradas pelo mundo de glória.
Na mais longa noite do ano, queima a lenha aspergida de água e de sal.
As bolas da árvore
O rosário representa os mundos manifestados de maneira sucessiva e cíclica em grãos enfileirados sobre o fio fechado da serpente Ouroboros.
Na noite de Natal, os mundos manifestados se desdobram instantaneamente em todas as direções do espaço, figuradas pelas ramas do pinheiro. São os frutos de ouro da árvore do Paraíso. Eles atraem a mão da criança.
Essas bolas de enfeite cercam o horizonte de microcosmos. Na imensidade do espaço–tempo, nossa terra é uma destas maças de ouro que o homem cobriu de lama.
Presentes de Natal
Os presentes de Natal são uma oferenda do homem a Deus. A oferenda a Deus apela à reciprocidade. O presente é vital: vimos que se comia a árvore paradisíaca. Dante revela que, fora do Paraíso, isto não é possível.
Na época de Natal não se jejua: doce à São Nicolau, lenha ao Natal, torta aos Reis. Aqui ainda, o pão tem uma significação importante. Ele preside à mesa do réveillon. De um Natal a outro, não se faz pão. A parte do pobre — de Deus — deve ser respeitada.
O presente é também uma conjuração. Oferece-se a Deus por intermédio do fogo, do vinho, do sal, do trigo, etc, para proteger a colheita e prevenir seu lucro (quanto mais o trigo lançado sobre o metal em brasa salta alto, mais importante sera a colheita, etc).
Em nossa época espessa e rica, o presente se desprendeu do pinheiro, perdeu sua significação vital; não é mais que o prazer intercambiado. Resta, no entanto, a refeição compartilhada no coração da noite santa.
Papai Noel
O Papai Noel é a denominação moderna do velho homem — rei pontífice polar — que vem na noite do ano fazer medo e alegria aos pequeninos. O Papai Noel seria o nome atual de São Nicolau, também chamado Santa Claus, também Pai do Natal. Para alguns, ele seria o valete de São Nicolau: Knetch Ruprecht, denominado ainda Hans Trapp, antigamente Wotan, e recentemente liberado do serviço, com a perda de poder do grande São Nicolau.
O Papai Noel é o Rei-Sacerdote desta noite paradisíaca, como Melquisedeque sobre sua terra de Salem. Há uma situação central no tempo, e central também no espaço: ele vem do polo sobre seu carro celeste puxado por renas voadoras. A comunicação com as crianças do homem se estabelece pela chaminé de onde a fumaça sobe ao céu.
Seu duplo aspecto de grande benfeitor e de gigante se deve à situação temporal desta noite de Natal que termina um ciclo (donde o grande tamanho do sacerdote pontífice e seu aspecto de rigor) e começa um outro (donde seu pequeno tamanho e seu aspecto benfeitor). Como o solstício de inverno é a porta dos Deuses, porta celeste e estreita, compreende-se que o Papai Noel entra na casa pela chaminé.
Luiz Pontual: O SIMBOLISMO DA ÁRVORE DE NATAL