É a doutrina filosófica de Aristóteles (384-322 a. C.) e de sua escola (chamada Liceu ou Escala peripatética), que mais tarde, na Idade Média, se tornou dominante entre os Árabes (Averróis) e os Judeus (Moisés Maimônides) e que, a partir do século XII, devido sobretudo a S. Alberto Magno e a S. Tomás de Aquino, exerceu preponderante influência no Ocidente europeu, não sem ter sofrido alterações essenciais exigidas pelo dogma cristão (escolástica). Aristóteles fundamenta a verdade do conhecimento humano, não num mundo ideal transcendente (platonismo), separado das coisas da experiência, mas nas formas que as coisas contêm e que constituem o correlato real das ideias da mente humana. Na formação e desenvolvimento do conhecimento humano cooperam a experiência sensível e a abstração do entendimento. A filosofia primeira ou metafísica, ciência do ser e de suas formas mais elevadas, ocupa o lugar de primazia no concerto de todas as ciências. O ser contingente, sujeito ao movimento, ao devir e ao perecer, consta de uma parte constitutiva potencial e de outra atual, que são respectivamente a matéria e a forma. O devir não é a produção de algo inteiramente novo e não ainda existente, mas uma mudança de essência, enquanto a matéria, parte deter-minável, concebida como eterna e incriada, perde sua forma essencial precedente e recebe, por influxo de uma causa eficiente, outra nova determinação formal (hilemorfismo). As opiniões divergem, quando se procura encontrar uma interpretação mais exata destes elementos, principalmente da forma, bem como mostrar a diferença entre esta explicação e a atitude platônica. As formas constituem igualmente o fim interno do ser ou “telos” (donde: enteléquia). Isto assume peculiar importância, quando aplicado aos princípios formais do ser vivente: à alma dos vegetais, dos animais e dos homens. A alma humana, una, exerce também as funções da vida vegetativa e animal. O homem não tira de si, por um ato criativo, o conhecimento intelectual, mas adquire-o mediante t influxo determinante dos sentidos; nesta operação, em vez de se manter meramente passivo, ele atua pela força espontânea do intelecto agente (intelectus agens), distinto do intelecto passivo. Só o intelecto agente é imortal; o homem não o recebe^por geração; vem-lhe “de fora”. Os Árabes viram, no texto obscuro de Aristóteles, um monopsiquismo: a unidade do intellectus agens em todos os homens. No que tange à vida volitiva, Aristóteles defende a liberdade de opção, sem todavia distinguir claramente o que é livre do que é meramente voluntário Admite Deus como Ato puríssimo (noesis goeseos = pensamento do pensamento) e Primeiro Motor das esferas celestes. Permanece envolta em dúvida a natureza pessoal de Deus. Nem este é o criador do universo. Em ética, propõe como fim da vida humana a felicidade (eudaimonia), a qual consiste na prática da virtude; contudo, em sua forma mais elevada, a felicidade é descrita como atividade contemplativa da verdade. O prazer é apenas o eco da perfeição alcançada. Na teoria política defende a origem natural da família e da comunidade estatal, e rejeita o Estado utópico de Platão com a comunidade de mulheres e de bens. Aristóteles, via de regra, fundamenta suas doutrinas numa discussão exaustiva, cautelosa e histórico-crítica de seus predecessores, os pré-socráticos e especialmente Platão. — Schuster. [Brugger]
(in. Aristotelianism; fr. Aristotélisme; al. Aristotelismus; it. Aristotelismó).
Por esse termo entendem-se alguns fundamentos da doutrina de Aristóteles que passaram à tradição filosófica ou que inspiraram as escolas ou os movimentos que se reportam mais diretamente ao próprio Aristóteles, como a escola peripatética, o aristotelismo árabe, o aristotelismo cristão medieval, o aristotelismo do Renascimento e várias outras tendências do mundo medieval e moderno. Tais fundamentos podem ser resumidos da seguinte forma:
1) Importância atribuída por Aristóteles à natureza e o valor e a dignidade das indagações a ela dirigidas. Enquanto Platão pensava que tais indagações só poderiam atingir um grau de probabilidade muito inferior ao conhecimento científico (Tim., 29 c), Aristóteles considerava que nada há na natureza tão insignificante que não valha a pena ser estudado, já que, em todos os casos, o verdadeiro objeto da pesquisa é a substância das coisas (v. substância).
2) Conceito de metafísica como filosofia primeira e teoria da substância, assim como fundamento da enciclopédica completa das ciências (v. metafísica).
3) Doutrina das quatro causas (formal, material, eficiente, final) doutrina do movimento, como passagem da potência ao ato, que permitiram a interpretação de toda a realidade natural (v. os verbetes correspondentes).
4) Teologia com seu conceito do Primeiro Motor e do Ato Puro (v. Deus).
5) Doutrina da essência substancial ou necessária como base da teoria do conhecimento e da lógica (v. alma; essência, ser).
6) Importância atribuída à lógica, cujo primeiro expositor sistemático é Aristóteles, como instrumento de todo conhecimento científico (v. conceito; lógica; silogismo; Tópica; etc).
As várias correntes do aristotelismo só se reportaram, habitualmente, a alguns desses fundamentos; isso explica por que o aristotelismo ora apareceu como metafísica teológica (na escolástica medieval), ora como naturalismo (no Renascimento), ora como espiritualismo (em algumas interpretações modernas, p. ex., as de Ravaisson e Brentano). [Abbagnano]