aprendizado da virtude

VIDE aprendizagem

Cumpre levantar o problema da acessibilidade ou inacessibilidade à possibilidade extrema da excelência (ἀρετή [arete]) compreendida como escolha tomada de antemão ou resolução decisiva de uma determinada situação (πρᾶξις [praxis]). A questão é tanto mais problemática, quanto Platão parece defender teses diferentes nas passagens dos diálogos que focam o problema [Cf. Josef Moural, On the Teachability of Arete in Pinto, Filozof Cas, 1990, pp. 463-480.]. A pergunta pelo acesso ao sentido da excelência (ἀρετή) pretende saber concomitantemente se ela é ou não «ensinável», «exercitável», «apreensível», se é «por natureza» ou é «de qualquer outro modo» que ela «surge no humano» [Prot., 319a e seg.]. O desenvolvimento e a repetição destas questões no Protágoras, a saber, se a excelência (ἀρετή) é ou não um «conteúdo de conhecimento comunicável» (διδακτόν μάθημα [didakton mathema]), são rejeitados por Sócrates. A excelência (ἀρετή) não pode ser fornecida aos homens por outros homens. Ela não se constitui por natureza (φύσει [physei]) nem de uma forma espontânea.

Esta dissensão de opiniões permite uma focagem das estruturas elementares, de cuja tematização depende uma verdadeira circunscrição do sentido da excelência (ἀρετή). Ela serve para fazer perceber que a excelência (ἀρετή) não está disponível no modo como naturalmente nos temos a nós, nem no modo como se processa a nossa [50] relação com os outros ou com os acontecimentos que nos afetam. No horizonte natural em que nos encontramos não temos qualquer possibilidade de aceder ao horizonte em que a excelência (ἀρετή) eclode.

A excelência (ἀρετή) não é nenhum conteúdo de aprendizagem (μάθημα), porquanto a situação de aprendizagem do que possa ser esse conteúdo não se pode concretizar em enunciados que o descrevam. A pergunta pela excelência (ἀρετή) não é feita como se faz uma pergunta por um qualquer outro conteúdo de saber. A pergunta pela excelência (ἀρετή) tem de ser levantada a partir da experiência urgente da necessidade de saber o que há a fazer, quando aparentemente todas as possibilidades de vida estão perdidas. A situação (πρᾶξις) em que nos encontramos com a necessidade de saber o que fazer não é nem a situação mais ou menos tranquila em que nos apropriamos de um qualquer conteúdo do saber (μάθημα) ou obtemos um qualquer bom conselho acerca do que quer que seja para nos tomarmos bons cidadãos, mas antes é uma situação na qual nada se vê, tudo é impossibilidade. [CaeiroArete:50-51]