análise

A decomposição de um dado em seus princípios ou em seus elementos. — A análise é, juntamente com a síntese, um dos processos mais gerais do pensamento. Nas ciências do mundo (Física, Química), ela consiste em passar do visível complexo ao invisível simples. Foi a necessidade de análise que animou toda a procura dos elementos primeiros das coisas, desde Demócrito e Epicuro até a moderna microfísica. No domínio da alma humana, a análise psíquica (psicanálise) busca atrás das condutas do homem, e sobretudo atrás de seus fracassos na vida, uma motivação profunda justificada pela existência de “complexos”, isto é, de uma inadaptação ao real. Ela descobre essa motivação principalmente pela análise dos sonhos nos quais o inconsciente se manifesta de maneira sistemática. A análise reflexiva, praticada em filosofia, aplica-se sobre as condições e a estrutura do pensamento; seu objetivo é chegar ao conhecimento da natureza original do espírito e, fundamentalmente, resolver o problema da liberdade absoluta ou da predestinação. (Foi praticada principalmente por Spinoza na Ética, livro II; por Fichte, por Lagneau e por A. Gehlen.) [Larousse]


Significa etimologicamente resolução (de um todo em suas partes). Na terminologia filosófica usual, análise significa o método da dissecação mental de um todo (real ou conceitual) em seus conteúdos parciais; assim, os conteúdos parciais de início apenas conhecidos de maneiro implícita (implicite), ou seja, em seu complexo global, são isolados em seus componentes particulares e, por essa forma, conhecidos de maneira explicita (explicite). A direção oposta do pensamento denomina-se síntese. — Em particular a análise de um conceito designa a dissecação ou decomposição de um todo conceituai nos conteúdos parciais primeiramente apenas conhecidos de maneira implícita, e que se denominam notas. Se uma destas notas for expressa num juízo como predicado do sujeito designado pelo todo conceitual, dizemos haver juízo analítico (juízo explicativo; p. ex., o quadrado tem quatro ângulos retos); assim, pelo menos Kant entende esta expressão. Outros falam — menos acertadamente — também de juízo analítico, quando o predicado, não sendo pensado simultaneamente, desde o princípio, no conceito do sujeito, se segue necessariamente do conteúdo desse conceito, e portanto apresenta uma “propriedade essencial” (um “proprium”) do sujeito. Predicáveis. — Noutro sentido, a análise consiste em remontar das conclusões aos axiomas fundamentais (princípios do conhecimento). — Analítico designa o que se serve da análise como método ou o que se obteve ou pretende obter por meio desta. — De Vries [Brugger]


(Em grego analysis, de aná, para cima, e lysein, resolver, desfazer uma solução).

a) Decomposição de um todo em suas partes, seja na ordem material (análise química), seja na ordem mental (análise de um conceito), pela definição.

Segundo Taine, tanto nas ciências morais, como nas ciências físicas, o progresso consiste no emprego da analise, e todo o esforço que ela tem de fazer é o de multiplicar os fatos, os dados elementares, que estão contidos implicitamente em um nome. A nossa tarefa é de descobrir, sob os sinais, os fatos distintos. Para saber o que é uma «natureza», toma-se um animal, uma planta, um mineral e estudam-se-lhes as características. Notar-se-á que a palavra «natureza» aparece no momento em que se tem feito a soma das características importantes e distintivas.

b) Se concebemos a análise como uma redução a elementos primários, é evidente que ela toma aspectos bastante diferentes, conforme os objetos a que se aplica. As espécies de análise podem ser análogas, mas cada uma tem um caráter especial, determinado pela natureza do objeto, que cabe decompor. «Redução aos elementos primários» significa, nas ciências naturais, redução aos fatos de observação empírica, no sentido da exposição de Taine acima citada.

c) Na Lógica, os «elementos primários» são a própria forma lógica, e a análise consiste em demonstrar a aplicação correta das leis do raciocínio de um material dado.

Não se trata, porém, só de analisar um raciocínio sob o ponto de vista da Lógica Formal, mas a proposição tem que ser examinada quanto à sua veracidade, pela redução às premissas que figuram como os últimos elementos, admitidos como verdadeiros.

Duhamel caracteriza este procedimento analítico como segue: «Quando temos que achar a demonstração de uma proposição enunciada, procuramos primeiro se ela pode deduzir-se como consequência necessária de proposições admitidas. Neste caso, ela também tem de ser admitida e, consequentemente, já está demonstrada. Se não sabemos de quais proposições conhecidas ela poderia ser deduzida, temos de procurar de que proposição não admitida ela podia deduzir-se, e, então, a questão será reduzida a demonstrar a veracidade dessa última proposição. Se se pode deduzir esta de proposições admitidas, ela será reconhecida como verdadeira e, por consequência, também a anterior, senão, procuraremos de que proposição ainda não admitida ela se podia deduzir, e toda questão seria provar a veracidade desta última. Assim se continuará até chegar a uma proposição reconhecida como verdadeira; e com isto, estará provada a veracidade da proposição da qual partimos».

Assim se vê que este método, que se chama «análise», consiste no estabelecimento de uma corrente de proposições, que começa com a que queremos demonstrar e termina numa proposição conhecida, e partindo da primeira que queremos demonstrar, cada uma será uma consequência necessária da proposição seguinte; donde se segue que a primeira é uma consequência da última, e, portanto, verdadeira como esta.

Em vista disso, cada método, que implica em um exame discursivo, toma a denominação de Análise, mesmo que se prenda simultaneamente à operação contrário de síntese. Este sentido que reúne decomposição e recomposição, acha-se em Condillac, quando diz que «o método analítico consiste em observar numa ordem sucessiva as qualidades de um objeto, para logo atribuir-lhe, no espírito, a ordem de simultaneidade na qual existem . . . Promovemos essa composição e decomposição de conformidade com as relações que existem entre as coisas?.

d) O emprego que Kant faz das palavras análise e analítico prende-se ao uso consagrado por Aristóteles, que distingue, no seu livro «Organon» sobre a Lógica Formal, uma «analítica primária» (teoria do raciocínio) e «analítica secundária» (teoria das provas). Essa análise lógica, que é essencialmente decomposição dos conceitos, se opõe diametralmente à síntese, como operação contrária. Kant, no propósito de aplicar as formas lógicas ao conhecimento da realidade, parte deste sentido da palavra, quando procura as condições a priori da experiência na sua chamada analítica transcendental.

e) A análise psicológica consiste em uma introspecção para fins de análise; quer dizer, para reduzir estados psíquicos complexos aos elementos mais simples que a compõem. Este método, que tomou especial significação na

«Psicanálise» de Sigmund Freud, se opõe, em princípio, ao método meramente descritivo.

f) O método analítico na Pedagogia consiste em uma decomposição dos conhecimentos já adquiridos, não aos últimos elementos constituintes, mas naquelas unidades de divisão e ideias, cuja presença atual no espírito dos alunos parece a melhor preparação para a assimilação de novos conhecimentos.

Sobre «juízo analítico» vide «analítico». [MFSDIC]


Na idade média e em grande parte da idade moderna entendeu-se o termo “análise” quase exclusivamente no sentido que lhe davam os matemáticos. Um exemplo disso reside na definição de Euclides: “a análise parte daquilo que se procura como algo admitido e passa disso, mediante várias consequências a algo que é aceite como o seu resultado” (Elementos). A análise é, neste sentido, uma resolução – resolve-se o complexo no simples – ou uma regressão – regressa-se, mediante uma sequência lógica de proposições, a uma proposição que se declara evidente, partindo de outra proposição que se pretende demonstrar e que se admite como verdadeira. Por isso chamou-se ao método de análise “método de resolução ou método resolutivo”. Esse método foi utilizado por alguns matemáticos e filósofos modernos (Galileu, Vieta, Descartes, Hobbes, entre outros). A acepção anterior do termo não coincide com aquilo que hoje se usa amiúde na literatura filosófica e científica. Com efeito, atualmente costuma entender-se a análise como a decomposição de um todo nas suas partes. Mais que de um todo real e dos seus componentes reais – como acontece nas análises químicas – entende-se essa decomposição num sentido lógico ou então mental. Fala-se assim de análise de uma proposição enquanto investigação dos elementos que a compõem, ou de análise de um conceito enquanto investigação dos sub-conceitos com que se construiu esse conceito. Em todos estes casos, a análise opõe-se à síntese: que é uma decomposição do previamente decomposto. Note-se, contudo que essa oposição não impede que se usem os dois métodos, o analítico e o sintético, quer na ciência, quer na filosofia. É uma opinião muito generalizada de que os dois métodos têm de ser complementares, uma vez analisado um todo nas suas partes componentes, a recomposição sintética destas partes tem de dar como resultado o todo de que se partiu. Este segundo conceito de análise foi usado também por muitos filósofos e cientistas modernos, especialmente no século XVII. A co-existência destes dois sentidos do termo, cujo o exemplo mais destacado talvez seja a obra de Descartes, produz uma peculiar imprecisão que só pode solucionar-se atendendo ao termo e ao contexto em que se encontre. De qualquer modo, foi a significação implícita no segundo preceito, do –Discurso– “dividir cada uma das dificuldades que se examinam nas partes que for possível e necessário para melhor as resolver” que teve mais fecundas consequências na literatura filosófica posterior. As atuais correntes ou escolas designadas por “análise lógica” e “movimento analítico”, podem considerar-se como um refinamento deste sentido.

Dever-se-iam, pois, classificar as filosofias em analíticas e sintéticas. As primeiras supõem, de um modo geral, que a realidade de um todo, qualquer que ele seja, aparece na decomposição das suas partes. As segundas afirmam que o todo é irredutível às suas partes.

Com o termo “análise”, ou também com a expressão análise lógica, designa-se hoje um amplo movimento filosófico de caráter anti-metafísico que abarca tendências muito diversas: positivismo lógico, empirismo lógico ou científico, escola (analítica) de Cambridge, grupo de Oxford, círculo de Wittgenstein, etc. Neste movimento incorporam-se muitos dos que trabalham em temas de lógica simbólica e de semiótica, quando esse trabalho não é entendido num sentido neutral e pretende dar uma determinada ideia da atividade filosófica. Muito comum nestas tendências é a rejeição dos rasgos especulativos do pensamento filosófico e a redução deste a um pensar crítico e analítico, com o consequente desmascaramento dos problemas tradicionais como “imbróglios” causados pela complexidade da linguagem vulgar. A juntar a isto, é comum, mas não exclusivo das tendências analíticas, a negação de que a filosofia tenha um objeto próprio; assim, a filosofia reduz-se a um exame das proposições com o fim de averiguar se têm ou não significação. Se são regras lógicas ou linguísticas, proposições sobre fatos ou meras expressões de emoções. Ora, estas bases comuns não são suficientes para caraterizar nenhuma das tendências qualificadas de analíticas; cada uma delas tem, além disso, caracteres próprios e por vezes dificilmente comparáveis aos de outras tendências. De qualquer modo, pode tentar-se uma classificação que, embora só aproximada, permite situar as diferentes correntes:

a) o analitismo anti-formalista linguístico, preocupado com as opiniões formuladas em linguagem vulgar, com o fim de ver se têm ou não sentido ou demonstrar que todas as questões filosóficas são pseudoproblemas; b) o analitismo anti-formalista psicológico, que se aplica um tanto à posição anterior, mas que resolve os problemas considerando a linguagem um dos modos do comportamento humano e não mediante puras análises linguísticas; c) o analitismo formalista, mais interessado nos problemas lógicos, e mais preocupado com construir linguagens precisas onde fiquem eliminados os paradoxos e nas quais possam traduzir-se as partes não contraditórias da linguagem falada. Paradoxalmente, os partidários da posição c), que é mais técnica que as duas anteriores, que parece mais afastada das tradicionais posições filosóficas, são os que mais se aproximam delas. Com efeito, o analitismo no sentido c) pretende, em última análise, forjar linguagens em que possa descrever-se com rigor a experiência. Portanto, essas linguagens, mesmo quando são formais, devem ser utilizadas para descrever a realidade, ao contrário do que acontece com os outros dois analitismos, que são antes um modo de iludir os problemas da descrição do real.

As três posições atrás citadas encontram-se em Wittgenstein mas foram desenvolvidas muitas vezes independentemente dele. Como representantes destacados das mesmas, podemos considerar os seguintes: para a posição a), os chamados analistas de Cambridge, tais como Moore, John Wistom e, em geral, antigos discípulos de Moore; wittgensteinianos de tendência linguística; Ryle e os filósofos do grupo de Oxford. Para a posição b), os wittgensteinianos que aderiram ao positivismo terapêutico. Para a posição c), os antigos positivistas lógicos de tendência formalista, como Carnap e muitos dos que trabalham no campo da lógica matemática com o fim de encontrarem linguagens no sentido indicado. [Ferrater]


(gr. analysis; lat. Analysis; in. Analysis; fr. Analyse; al. Analyse; it. Analisí).

Em geral, a descrição ou a interpretação de uma situação ou de um objeto qualquer nos termos dos elementos mais simples pertencentes à situação ou ao objeto em questão. A finalidade desse processo é resolver a situação ou o objeto nos seus elementos, de modo que um processo analítico é considerado bem-sucedido quando tal resolução é realizada. Esse processo foi empregado por Aristóteles na lógica da demonstração (apodítica), com a finalidade de resolver a demonstração no silogismo, o silogismo nas figuras, as figuras nas proposições (An.pr, I, 32, 47 a 10). Na lógica do séc. XVII, a diferença entre análise e síntese começou a ser exposta como a diferença entre dois métodos de ensino. “A ordem didática”, dizia Jungius, “pode ser sintética, isto é, compositiva, ou analítica, isto é, resolutiva”. A ordem sintética vai “dos princípios ao principiado, dos constituintes ao constituído, das partes ao todo, do simples ao composto” e é empregada pelo lógico, pelo gramático, pelo arquiteto e também pelo físico, quando passa das plantas aos animais ou dos seres menos perfeitos aos mais perfeitos. A ordem analítica procede por via oposta e é própria do físico e do ético, na medida em que este último passa, por exemplo, da consideração do fim à consideração da ação honesta (Logica hamburgensis, 1638, IV, cap. 18). A partir de Descartes, a análise e a síntese deixaram de ser consideradas dois métodos de ensino e passaram a ser dois processos diferentes de demonstração. Diz Descartes: “A maneira de demonstrar é dupla: uma demonstra por meio da análise ou resolução, a outra por meio da síntese ou composição. A análise demonstra o verdadeiro caminho pelo qual a coisa foi metodicamente inventada e permite ver como os efeitos dependem da causa… A síntese, ao contrário, como se examinasse as causas a partir de seus efeitos (ainda que a prova que ela contém vá não raro das causas aos efeitos), na verdade demonstra com clareza o que está contido nas suas conclusões e utiliza uma longa série de definições, postulados, axiomas, teoremas, problemas” (Rép. aux II Ob.). O próprio Descartes nota que os antigos geômetras utilizaram, de preferência, a síntese (como, de fato, fizeram Papos, VII, 1 ss., e Proclo, Com. ao I livro de Euclides, p. 211, Friedlein), enquanto ele preferiu a análise, porque esse caminho “parece o mais verdadeiro e o mais adequado ao ensino”. Hobbes repetia, substancialmente, essas considerações (Decorp., VI, § 1-2) e a Lógica de Port-Royal chamava a análise de “método de invenção” e a síntese de “método de composição” ou “método de doutrina” (Log., IV, 2). Esse ponto de vista sancionava a superioridade do processo analítico na filosofia moderna. Essa superioridade também é pressuposta por Leibniz, que define a análise do ponto de vista lógico-linguístico: “análise é isto: resolva-se qualquer termo dado em suas partes formais, isto é, dê-se a sua definição; sejam essas partes, por sua vez, resolvidas em partes, isto é, dê-se a definição dos termos da definição, e assim por diante, até as partes simples, ou seja, aos termos indefiníveis” (De arte combinatoria, Op., ed. Erdmann, p. 23 a-b). Com outras palavras, Newton dizia a mesma coisa: “Pelo caminho da análise podemos ir dos compostos aos ingredientes e dos movimentos às forças que os produzem; e, em geral, dos efeitos às suas causas e das causas particulares às gerais, até que o raciocínio termine nas mais gerais” (Opticks, 1704, III, 1, q. 31; ed. Dover, p. 404). Wolff contrapunha, no mesmo sentido, o método analítico e o método sintético: “Chama-se analítico o método pelo qual as verdades são dispostas na ordem em que foram encontradas ou ao menos em que poderiam ser encontradas. Chama-se sintético o método pelo qual as verdades são dispostas de tal modo que cada uma possa ser mais facilmente entendida e demonstrada a partir da outra” (Log., § 885). Não é diferente o significado que Kant deu à oposição dos dois métodos. Mais particularmente, em De mundi sensibilis atque intellegibilis forma et ratione, I, § 1, nota, ele distinguiu dois significados de análise: um qualitativo, que é “o regresso a rationato ad rationem”, e outro quantitativo (que declara utilizar), que é “o regresso do todo às suas partes possíveis, mediadas, ou seja, às partes das partes, de tal modo que a análise não é a divisão, mas a subdivisão do composto dado”. Kant valeu-se desse procedimento em todas as suas obras principais, em cada uma das quais a parte positiva fundamental é constituída de uma “Analítica”. Segundo Kant, é analítico o procedimento próprio da “lógica geral”, porquanto “resolve toda a obra formal do intelecto e da razão nos seus elementos e expõe esses elementos como princípios de toda valorização lógica de nosso conhecimento” (Crít. R. Pura, Lóg. transc., intr., 3). O mesmo procedimento também é próprio da lógica transcendental, que isola o intelecto, isto é, a parte do conhecimento que tem origem só no intelecto (conhecimento a priori), mais precisamente da Analítica transcendental, que é “a resolução de todo o nosso conhecimento a priori nos elementos do conhecimento puro intelectual”. O procedimento analítico também foi usado por Kant em Crítica da Razão Prática, com o fim de isolar os princípios práticos, isto é, morais; e em Crítica do Juízo, a fim de determinar os fundamentos do juízo estético e do juízo teleológico: trata-se, em todos os casos, de determinar os elementos verdadeiros ou efetivos que condicionam essas atividades, em contraste com os elementos aparentes ou fictícios (ou “dialéticos”). Naturalmente, o método analítico nada tem a ver com os juízos analíticos. “O método analítico, enquanto oposto ao sintético, é coisa bem diferente de um complexo de juízos analíticos: quer dizer somente que se parte daquilo que é objeto da questão, como dado, para remontar às condições que o tornam possível” (Prol, § 5, nota). Hegel fixou de modo análogo o caráter fundamental do procedimento analítico quando escreveu: “Mesmo quando o conhecimento analítico procede por relações, que não são matéria exteriormente dada, mas determinações do pensamento, ainda assim continua analítico, porquanto, para ele, essas relações são dados” (Wissenschaft der Logik, III, III, II, A a; trad. it., p. 295). Pode-se afirmar que o reconhecimento de dados é o caráter fundamental do procedimento analítico, o que mais profundamente o distingue do sintético (v. filosofia).

Na filosofia e, em geral, na cultura moderna e contemporânea, a tendência analítica, isto é, a tendência a reconhecer a análise como método de investigação, disseminou-se e mostrou ser muito fértil. Essa tendência coincide substancialmente com a tendência empirista (no sentido metodológico do empirismo) a restringir a investigação aos “fatos observáveis” e às relações entre tais fatoá tendência que implica, em cada caso, a exigência de indicar o método ou o procedimento mediante o qual o fato pode ser efetivamente observado. Nesse sentido, o procedimento analítico leva à eliminação de realidades ou de conceitosem si”, isto é, absolutos ou independentes de qualquer observação ou verificação e pressupostos como realidades ou verdades “últimas”. Sob esse aspecto, a física relativista e a mecânica quântica podem ser consideradas resultados do processo analítico. Quando Einstein observou que, para falar de “fatos simultâneos”, é necessário oferecer um método para observar a simulta-neidade de tais fatos (dando, assim, a chave da teoria da relatividade), só fez levar a bom termo a análise da noção de “fatos simultâneos”. E, quando Niels Bohr e seus alunos evidenciaram o fato de que toda observação física é acompanhada por um efeito do instrumento observador sobre o objeto observado, só fizeram levar a bom termo a análise de “observação física”; e dessa análise nasceu toda a mecânica quântica. Analogamente, a renúncia a postular um meio de transmissão não observável dos fenômenos electromagnéticos (o chamadoéter”) pode ser considerada resultado da consolidação do procedimento analítico. Em matemática, o mesmo procedimento prevaleceu quando se renunciou a discutir o que são os pontos, as retas, os números, em si, e passou-se à análise das relações intercorrentes entre esses termos e dos postulados que as exprimem. Desse ponto de vista, a análise estendeu-se e consolidou-se em detrimento daquilo que se chama “metafísica”, isto é, do domínio das realidades absolutas e das verdades necessárias. No campo das ciências históricas, Dilthey contrapôs ao método metafísico e apriorístico, empregado, p. ex., por Hegel, o método analítico e descritivo próprio da psicologia; daí falar-se hoje de “análise histórica”, que visa compreender um fato histórico nos seus elementos. Fala-se também de “análise sociológica”, no sentido de um método voltado para a resolução da realidade social nos comportamentos, nas atitudes e nas instituições, que constituem seus elementos observáveis.

No domínio da filosofia contemporânea, a análise assume várias formas, segundo os instrumentos com que é feita ou segundo os objetos ou campos de experiência para os quais esteja voltada. Na filosofia de Bergson, a análise tem como alvo a “consciência”, isto é, a experiência interior, e tende a encontrar os dados últimos, isto é, imediatos, de tal experiência. Na filosofia de Dewey, a análise está voltada para a experiência humana em seu caráter total e amorfo e tende a resolvê-la em operações naturais. Na filosofia de Husserl, a análise volta-se para o mundo da consciência como intencionalidade e é “análise intencional”, direcionada para a determinação das estruturas da consciência e as “formas” essenciais dos seus conteúdos objetivos. Na filosofia de Heidegger, a análise está voltada para a existência, isto é, para as situações mais comuns e repetíveis em que o homem se encontra no mundo. No empirismo lógico, a análise é análise da linguagem e tende a eliminar as confusões mediante a determinação e a verificação do significado ou modo de uso dos signos. Essas tendências analíticas da filosofia contemporânea são mais ou menos opostas à metafísica tradicional e tendem a conferir à pesquisa filosófica um método rigoroso para confirmação e a verificação de seus resultados. Ao mesmo tempo, todas elas condescendem, em maior ou menor grau, com certas inflexibilidades metafísicas: ao se falar, p. ex., de “dados últimos”, como Bergson, de “formas ou essências necessárias”, como Husserl, de “estruturas necessárias”, como Heidegger, de “proposições atômicas” ou de “fatos atômicos”, como o empirismo lógico, etc. Pode-se dizer, contudo, que a tendência das filosofias analíticas e da diretriz analítica das ciências consiste na progressiva eliminação de “pontos finais”, isto é, de elementos ou estruturas que, por sua substancialidade e necessidade, bloqueiem o curso ulterior da análise e a imobilizem em resultados assumidos como definitivos e, portanto, subtraídos a toda verificação ulterior. Essa tendência visa, portanto, determinar e utilizar técnicas de verificação passíveis de correção ou retificação. Desse ponto de vista, a análise é o equivalente atualizado do empirismo tradicional e a ela se contrapõe a metafísica no sentido clássico do termo, como ciência ou pretensa ciência daquilo que, sendo “necessariamente” e “em si”, não tem necessidade de ser analisado, isto é, descrito, interpretado ou compreendido mediante procedimentos verificáveis. [Abbagnano]