altruísmo

(in. Altruism; fr. Altruisme; al. Altruismus; it. Altruísmo).

Esse termo foi criado por Comte, em oposição a egoísmo, para designar a doutrina moral do positivismo. No Catecismo Positivista (1852), Comte enunciou a máxima fundamental do altruísmo: viver para os outros. Essa máxima, acreditava ele, não contraria indistintamente todos os instintos do homem já que o homem possui, ao lado dos instintos egoístas, instintos simpáticos que a educação positivista pode desenvolver gradualmente, até torná-los predominantes sobre os outros. Com efeito, as relações domésticas e civis tendem a conter os instintos pessoais, quando eles suscitam conflitos entre os vários indivíduos, e a promover as inclinações benévolas que se desenvolvem espontaneamente em todos os indivíduos. Esse termo logo foi aceito por Spencer (Princípios de psicologia, 1870-72), segundo o qual a antítese entre egoísmo e altruísmo estaria destinada a desaparecer com a evolução moral e que haveria cada vez mais coincidência entre a satisfação do indivíduo e o bemestar e a felicidade do outro (Data of Ethics, § 46). Como se vê, o fundamento da ética altruísta é naturalista, porque apela para os instintos naturais que levam o indivíduo em direção aos outros e pretende promover o desenvolvimento de tais instintos. O seu termo polêmico é a ética individualista do séc. XVIII, que reivindica os valores e os direitos do indivíduo contra os da sociedade, em especial do Estado. Comte, como todo o Romantismo, obedece à exigência oposta, que insiste no valor preeminente da autoridade estatal; por isso, sua ética prescreve pura e simplesmente o sacrifício do indivíduo. Não é, portanto, de se estranhar que as doutrinas interessadas na defesa do indivíduo tenham considerado com hostilidade e desprezo a moral do altruísmo. Assim, em Nietzsche, ao identificar-se amor ao próximo com altruísmo, este é condenado por Zaratustra. “Vós ides ao próximo fugindo de vós mesmos e quereríeis fazer disso uma virtude; mas eu leio através do vosso altruísmo.. Não sabeis suportar-vos a vós mesmos e não vos amais o bastante; e eis que quereis seduzir o vosso próximo induzindo-o ao amor e embelezar-vos com o seu amor” (Also sprach Zarathustra, cap. sobre o Amor ao próximo). Em terreno mais objetivo e científico, Scheler (Sympathie, II, cap. I) negou a identificação (pressuposta também por Nietzsche) do altruísmo com o amor. Observou que os atos que se dirigem para os outros enquanto outros nem sempre são, necessariamente, “amor”. A inveja, a maldade, a alegria maligna, referem-se igualmente aos outros enquanto outros. Um amor que faz abstração total de si mesmo apoia-se num ódio ainda mais primitivo, isto é, o ódio de si mesmo. “Fazer abstração de si, não poder suportar o colóquio consigo mesmo, são coisas que nada têm a ver com o amor”. Na realidade, a máxima do altruísmo, “viver para os outros”, se tomada literalmente, faria de todos os homens meios para um fim que não existe; por isso, é contrária a um dos teoremas mais bem estabelecidos da ética moderna (e da ética em geral), isto é, aquele segundo o qual o homem nunca deve ser considerado um simples meio, mas deve ter sempre, também, valor de fim. [Abbagnano]


a) Em psicologia significa um sentimento de amor a outrem que, como tal, se opõe a egoísmo. Este sentimento pode ser instintivo em virtude dos laços naturais de uma interdependência orgânica, que os membros de uma espécie experimentam entre si, segundo Comte, que oferece abnegação como sinônimo.

b) Há porém quem rejeite o uso da palavra altruísmo neste sentido, limitando-o a uma atitude consciente que, intencionalmente, visa a vantagem de um outro. Admitindo-se conjuntamente os elementos instintivo e intencional, ele pode ser posto em oposição de uma lado ao egoísmo e, de outro lado, à caridade.

Nessa confrontação o egoísmo visa somente a vantagem do indivíduo. O altruísmo realiza a concatenação natural do gênero humano pela identificação dos interesses do indivíduo com os dos outros, de determinados outros, ou da humanidade como tal; e a caridade cristã, abandonando a apreciação dos vínculos naturais e das suas sugestões, considera os outros sob um ângulo novo, descobrindo e realizando um fundamento sobrenatural de comunidade.

c) Como “amor ao próximo mais que a si mesmoScheler considera como a culminação da filantropia moderna baseada no ressentimento, e opõe-lhe o amor cristão, dirigido à pessoa ideal e espiritual, e contrário ao sacrifício da própria salvação, que para o cristão tem um valor tão alto como o amor ao próximo. O “amor ao próximo mais que a si mesmo” representa, para Scheler, uma manifestação do ressentimento, uma forma do ódio a si mesmo.

d) Na ética é a doutrina que tem como objetivo de conduta moral a realização dos interesses do próximo. Como tal opõe-se ao individualismo, ao hedonismo e, em certa medida, ao utilitarismo. [MFSDIC]