adequação judicativa

A valorização dos seus elementos é subjetivismo e ultrapassa os limites da teoria do conhecimento. Cada um dos seus momentos, em relação ao todo, não vale mais nem menos do que qualquer dos outros, porque a presença de qualquer um deles é revelação de mutualidade existencial [Diz o autor noutro passo: «Objeção é uma função espontânea do pensamento e significa: ato de tornar objeto qualquer manifestação da realidade. Se eu objetivo — ou torno objeto — esta mesa em que escrevo, significa isto que dirigi para a mesa o meu interesse de conhecimento. Ato de objeção é tornar objeto «algo» ainda indiferenciado, isto é, com a forma própria e genérica sem a qual seria impensável e incognoscível. Não é correta a afirmação de que o mundo é constituído por «objetos» e «relações de objetos». O objeto é já um estádio do ato de conhecimento e, como tal, não existe independente e per se. Neste sentido, é perfeitamente correto afirmar-se que nãosujeito sem objeto, porque a atividade do sujeito consiste na determinação de objetos; e também que nãoobjeto sem sujeito, porque o objeto, como já deixamos dito, é um produto da atividade do sujeito. Assim se manifesta a mutualidade existencial do sujeito e objeto.»]. Para certa corrente da filosofia contemporânea [O neopositivismo ou positivismo lógico.], conhecimento é produto da formulação de enunciados sobre a realidade. Mas conhecimento não é só adequação do enunciado ao ato de juízo, ou, melhor, ao ato de constatação; no próprio ato de constatação está o complexo fundamental do conhecimento. Nem toda a atividade cognitiva é judicativa, embora a expressão do conhecimento exija e implique a formulação de enunciados, que são sempre de ordem simbólica, quer seja pelo uso de termos que simbolizam coisas, qualidades ou relações, quer por intermédio de qualquer outro sistema de expressão. Cada símbolo não está em relação com a coisa que pretende simbolizar, mas sim com a representação que na consciência existe dela. Por este motivo, afirmamos antes a existência do duplo processo de conhecimento: representativo e simbólico. A «representação» é, depois da «objeção», o primeiro momento do conhecimento; a simbolização (ou a expressão), o segundo momento. A adequação pode, pois, ser conseguida pela representação e destruída pela simbolização, se traduzirmos com símbolos inadequados ou imperfeitos o que a representação nos deu adequadamente. Pode também ser a representação inadequada e também inadequada a simbolização, e é este o caso vulgar, quando nenhum interesse de precisão e clareza anima o desejo de conhecer. O interesse de conhecimento científico valoriza identicamente a representação adequada, e também uma adequada simbolização. Trata-se duma adequação em dois planos, que tem como possível uma dupla causa de erro. [Delfim Santos, Conhecimento e Realidade, Lisboa, 1940, pp. 111-115]