Ao tentarmos fazer uma leitura do texto filosófico, como se nele estivessem em ação mecanismos de compreensão semelhantes aos de um texto literário, fazemos apenas uma aproximação exterior para situarmos o texto filosófico como fazendo parte do ato da leitura, como acontece na Literatura. Com esse recurso, simplesmente possibilitamos a introdução de uma expressão de Harold Bloom, quando fala em desleitura. Podemos continuar, nessa linha superficial, para fins de introdução posterior do que pretendemos significar com o caráter único da leitura de um texto filosófico.
Tanto na Literatura como na Filosofia está em ação um movimento de escritura e de leitura, e é assim que esta se determina, a partir de textos que se encontram já concluídos e de textos que resultarão do ato de escrever. À primeira vista não nos importamos tanto com uma diferença fundamental que entra em ação, quando está em jogo o caráter de posterioridade de um dos textos que, de algum modo, sempre chega tarde com relação ao texto sobre o qual exercemos nossa leitura e nossa crítica. Está em jogo, portanto, uma relação entre a apropriação do texto anterior e do texto que surge de nossa atividade crítica. E evidente que o exercício de leitura sempre é um ato crítico, sobretudo quando resulta de um escritor-leitor forte que quer ter uma eficácia sobre o texto com que se encontra. A pergunta que poderia surgir imediatamente é o que está por trás da relação entre leitura e o texto que nos vem do passado. Primeiramente, a leitura e a interpretação escrita resultam de um ator, em cuja história há uma espécie de prolongamento de elementos psicológicos de avaliação e decisão. É isso que faz com que o texto que nos vem da tradição, com o qual estabelecemos uma relação de leitores e de críticos, seja sempre submetido a uma desleitura.