A questão das fronteiras da história da filosofia, conexa à das origens, tampouco se pode resolver com exatidão. E inegável que tem havido, em certas épocas, nos países do Extremo Oriente e, sobretudo, na índia, verdadeira floração de sistemas filosóficos. Mas, trata-se de saber se o mundo greco-romano, depois cristão, de uma parte, e o mundo extremo oriental, de outra, tiveram desenvolvimento intelectual completamente independente um do outro: neste caso, seria possível fazer abstração da filosofia do Extremo Oriente em uma exposição da filosofia ocidental. A situação está bem longe de ser clara: desde logo, para a Antiguidade, as relações comerciais fáceis, a partir de Alexandre até a invasão dos árabes, entre o mundo greco-romano e o Extremo Oriente, tornaram possíveis as relações intelectuais. Disso não temos testemunhos apreciáveis. Os gregos, viajantes ou filósofos, muito escreveram sobre a índia dessa época; os restos dessa literatura, particularmente nos II e III séculos de nossa era, dão testemunho, pelo menos, de viva curiosidade pelo pensamento indiano. De outra parte, na alta Idade Média, desenvolveu-se, no mundo muçulmano, uma filosofia, cujo essencial se constituía, certamente, do pensamento grego, aristotélico ou neoplatônico, mas que, entretanto, não parecia haver-se formado sem sofrer, em várias oportunidades, a influência da vizinhança indiana. Ver-se-á que lugar ocupou essa filosofia árabe na cristandade, desde o século XIII até o XVI. É, portanto, uma questão muito importante saber quais os graus e os limites dessa influência, direta ou indireta. Mas é também uma questão muito difícil: a influência da Grécia sobre o Extremo Oriente, hoje provada em matéria de arte, tem sido, sem dúvida, muito forte no domínio intelectual e muito mais forte que a influência inversa da índia sobre o helenismo. Dada a incerteza de datas da literatura indiana, as semelhanças entre o pensamento grego e indiano não podem atestar de qual das duas provém a influência. Parece que só por influxo grego chegaram os hindus a dar à exposição de suas ideias o caráter sistemático e ordenado que nossos hábitos intelectuais, herdados dos gregos, nos fazem considerar como inseparáveis da própria noção”de filosofia.
Apesar dessas dificuldades, uma história da filosofia não tem o direito de ignorar o pensamento extremo oriental: assim, á parte das indicações que temos dado sobre as influências do Oriente, à medida em que se manifestam no Ocidente, pedimos ao conhecido especialista do pensamento hindu, ao mesmo tempo filósofo, P. Masson-Oursel, [P. MASSON-OURSEL, Esquisse d’une histoire de ia philosophie indienne, Paris, 1923; ver, também, sua contribuição à Inde antique et la Civilisation indienne, 1933. Cf. OLTRAMARE, Histoire des idées théosophiques dans l’Inde, 2 vols., 1907 e 1923.] completar essa História, expondo o desenvolvimento da filosofia no Médio e Extremo Oriente. [Bréhier]