método experimental

Os métodos da indução não são senão a parte central do método experimental. Este último pretende ditar regras sobre o conjunto dos processos que utilizam as disciplinas que se fundamentam sobre a experiência, enquanto que o primeiro só diz respeito à passagem lógica do particular ao universal. Os principais problemas colocados pela metodologia das ciências experimentais, sem contar os da própria indução, parecem ser o do papel da hipótese na pesquisa e o das relações da indução e da dedução no método. Uma exposição geral destes problemas será encontrada em Les théories de l’induction et de l’expérimentation de Lalande, e na obra clássica de Claude Bernard: Introduction à l’étude de la médecine expérimentale.

Apêndice. – Observe-se simplesmente que o raciocínio por semelhança pode ser encarado como um processo racional no qual, de um ou de vários fatos, se infere um outro fato particular. Exemplo:
Pedro, Paulo, Tiago foram curados por tal remédio . . .
Logo, João será igualmente curado por esse remédio.

Tal raciocínio pode ser figurado analiticamente por uma indução que seria seguida de uma dedução:
Pedro, Paulo, Tiago foram curados por tal remédio . . .
Logo, todo homem é curado por esse remédio
Ora, João é homem
Logo, João será curado por esse remédio.

O exemplo que Aristóteles considera como a forma retórica da indução, não é senão um esboço de indução destinado a tornar mais acessível ou mais sensível uma verdade. [Gardeil]


Perante uma série de fenômenos, isto é, de sensações — visto que, em última análise, a elas se reduz tudo quanto percepcionamos e que se nos afigura existir fora de nós —, o espírito humano, na constituição da ciência, passa necessariamente por três operações sucessivas.

Em primeiro lugar, o espírito observa, isto é, concentra a atenção sobre as suas sensações, e deste modo desenvolve uma certa atividade, em vez de permanecer no estado passivo em que, a princípio, se encontrava em relação a elas. Um selvagem esconde-se quando troveja; ao invés, um sábio concentra-se do melhor modo possível no discernimento das características do ruído que ouve e nas formas do clarão que vê. Para tornar fecunda a observação é necessário fazê-la ordenada e metodicamente; e o melhor processo para alcançar tal fim é o uso da classificação, que reúne os seres ou os fatos semelhantes, os distribui por grupos, os permite reencontrar facilmente sem os confundir e, portanto, empresta à observação a estabilidade necessária para servir de ponto de partida a novas investigações.

Em segundo lugar, é necessário formular uma hipótese: é um ato de imaginação que consiste em supor uma certa relação que se nos afigure verossímil entre os fatos observados. É necessário, dizia Descartes, «supor a existência de ordem mesmo entre objetos que não decorrem naturalmente uns dos outros» [Discours de la Méthode, 2.a parte, regra III]. Com efeito, a observação pode evidenciar-nos perfeitamente o que se passou em todos. As leis dos fenômenos não estão ao alcance dos sentidos; primeiramente é necessário adivinhá-las; a natureza, como a Esfinge, só por este preço revela os seus segredos. Foi deste modo que Kepler, por razões completamente metafísicas, imaginou que os astros deviam obedecer, nos seus movimentos, a certas leis que hoje têm o seu nome, e somente mais tarde verificou, pelo exame dos fatos, o que, de princípio, era somente uma concepção da sua imaginação.

Descartes medita, como filósofo, no fato de geralmente os fenômenos se produzirem de harmonia com a linha de menor resistência; tem a ideia de investigar se a luz não se comportaria também deste modo; e descobre as leis da refração. Pasteur estudava a fermentação; surge-lhe a ideia de que certas doenças apresentavam analogias com aquela: não seriam devidas a seres orgânicos como esses cuja existência se admitia nos fermentos? Experimenta e funda a teoria microbiana. Todas as descobertas, grandes ou pequenas, tiveram a sua origem numa hipótese.

Mas, evidentemente, não nos podemos contentar com ela. Por cada hipótese verdadeira, o espírito humano, sempre à procura da ciência, emite facilmente dez hipóteses falsas. É, pois, necessário separar o trigo do joio. Tal coisa compete à experimentação. Toda hipótese implica um certo número de consequências; e se a relação, a suposta lei que constitui esta hipótese, sendo abstrata, não pode ser do domínio sensorial, as suas consequências, que são fenômenos concretos, podem ser submetidas à verificação da observação. Se elas se efetivarem, a hipótese é boa. Se se não verificarem, é falsa.

Depois da arte de fazer hipóteses engenhosas, a maior qualidade do sábio é, portanto, saber escolher as consequências cuja presença ou ausência porão a claro a justeza ou a falsidade da sua hipótese, isto é, saber elaborar experiências decisivas.

Por consequência, a experimentação é a última fase do método experimental e, por assim dizer, a síntese dos dois outros; porque, na verdade, consiste numa observação, como no primeiro momento deste método; mas diverge dele porque é uma observação combinada e dirigida em vista a um certo fim: à verificação duma hipótese. [André Lalande (philosophe), Lectures sur la Philosophie des Sciences, pp. 124-126]