Se a sociologia científica nasce e se desenvolve sobretudo na França, sob o signo do positivismo, a psicologia científica nasce e se desenvolve sobretudo na Alemanha, em contato com ciências — então em rápido progresso — como a física, a biologia, a anatomia e, especialmente, a fisiologia. A gênese da psicologia científica está ligada aos nomes de Ernst Henrich Weber (1795-1888), Gustav Fechner (1801-1877), Hermann von Helmholtz (1821-1894) e Wilhelm Wundt (1832-1920).
Professor de anatomia em Lípsia, Weber dedicou-se muito intensamente, de 1829 a 1834, ao estudo das sensações táteis (sua obra, escrita em latim, De tactu, é de 1834), tendo calculado que, a fim de produzir um incremento igual de sensações, os estímulos deviam ser aumentados proporcionalmente à sua intensidade originária. Em outros termos, Weber procurou fixar quantitativamente a diferença mínima entre um peso e outro, por exemplo, para que se pudesse ter a sensação de que um é mais pesado que o outro. Em suma, ele tentou estabelecer a relação existente entre a intensidade do estímulo e os juízos que os sujeitos dão sobre essas diversas intensidades.
Foi Gustav Fechner que, através de acuradas pesquisas experimentais, aperfeiçoou os resultados alcançados por Weber, chegando àquela “lei psicofísica fundamental” (a lei de Weber-Fechner) segundo a qual “os estímulos crescem em progressão geométrica, as sensações em progressão aritmética e, portanto, a relação entre estímulos e sensações é representada por curva logarítmica”. Ou seja, as sensações são proporcionais ao logaritmo dos estímulos que os geram, de modo que (estabelecendo S para as sensações, E para os estímulos e C para a constante, a ser determinada experimentalmente) temos uma formulação matemática da lei que se expressa assim: S = C log. E.
Essa equação de Fechner dá roupagem matemática a fatos facilmente observáveis: “Se, em um cômodo já iluminado por uma vela, acrescentamos segunda, o aumento de iluminação será certamente muito mais sensível do que se levamos uma vela para um cômodo onde já existem dez. Ou, ainda, a diferença de poucos gramas entre dois pacotes leves é logo notada, ao passo que nos passa despercebida a mesma diferença de poucos gramas entre duas malas pesadas”. Da mesma forma, é possível ouvir um cochicho em um cômodo silencioso, mas é preciso gritar a alta voz para se fazer ouvir em uma rua barulhenta (G. Zunini).
Falando de nascimento da psicologia científica, juntamente com Weber e Fechner, deve-se recordar também o grande físico e fisiólogo Hermann Helmholtz, que, precisamente com base em vasto conhecimento dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso, afirmou que os órgãos dos sentidos não são tanto registradores, e sim muito mais elaboradores: com efeito, nós não registramos objetos que estão diante dos nossos olhos, mas julgamos sua forma, a distância, a sua disposição em um espaço e assim por diante. Os nossos órgãos dos sentidos trabalham analogamente ao astrônomo, que, para determinar a posição de um astro, mede, compara e efetua argumentações dedutivas: eles organizam os “objetos”, elaborando-os e avaliando-os. [Reale]