A filosofia é dividida em três partes: I — teoria da ciência (integrada pela lógica, pela gnosiologia e pela epistemologia); II — teoria dos valores (pela axiologia, ética, estética e filosofia da religião ou hierosofia); III — teoria do mundo e do homem (pela cosmologia e pela antropologia filosófica ou antroposofia).
Esta divisão justifica-se por si mesma, pois a filosofia, como tal, se refere tanto ao universo exterior como ao interior. A ciência do universo interior representa uma auto-reflexão do espírito, que pode referir-se tanto aos atos teóricos como aos práticos. Os primeiros se realizam na teoria da ciência, os últimos na teoria dos valores. Consequentemente, a filosofia como autocontemplação se reparte nas referidas teorias, cabendo à teoria da ciência três disciplinas: a lógica, a gnosiologia ou teoria do conhecimento filosófico, e a epistemologia ou teoria do conhecimento científico, sendo a primeira a doutrina formal da ciência que estuda as estruturas do pensamento; a segunda é a doutrina material da ciência; e a terceira, uma subespécie da segunda. A teoria dos valores investiga os valores éticos, estéticos e religiosos. Como tudo ocorre no mundo, que circunda e envolve o homem, cumpre perfilar ao lado da ciência do universo interior, junto à autocontemplação, a ciência do universo exterior, que se biparte em cosmologia e antropologia filosófica, ou antroposofia.
O quadro sinóptico que resume a divisão da filosofia proposta é o seguinte:
Filosofia | teoria da ciência | lógica |
gnosiologia | ||
epistemologia | ||
teoria dos valores | axiologia | |
ética | ||
estética | ||
filosofia da religião (ou hierosofia) | ||
teoria do mundo e do homem | cosmologia | |
antropologia filosófica (ou Antroposofia) |
1. Princípio da divisão. — Podemos colocar-nos em variados pontos-de-vista para distinguir as diferentes partes da Filosofia. Uma divisão hoje corrente consiste em distinguir quatro partes: Lógica, Psicologia, Moral e Metafísica. Mas esta ordem é contestável, antes de mais nada, porque deixa supor que a Moral poderia constituir-se integralmente sem a Metafísica: veremos a seno que isto não procede — depois, porque a Cosmologia, estudo do mundo material como tal, ou parece não se integrar na Filosofia, mas pertencer unicamente às ciências da natureza, o que é um erro, ou se insere ora, na Lógica material, ora na Metafísica, o que não é, em um, nem em outro caso, o seu lugar normal.
Dividiremos mais logicamente a Filosofia partindo do princípio de que as coisas podem ser consideradas quer em si mesmas quer em ralação a nós, Do primeiro ponto-de-vista, trata-se simplesmente de conhece las por seus princípios supremos e por suas causas primeiras: e o objeto da filosofia especulativa. — Do segundo ponto-de-vista, trata-se de saber como devemos usar as coisas para nosso bem absoluto: é o objeto da filosofia prática. — Estas partes essenciais da Filosofia serão, por outro lado, naturalmente precedidas do estudo da lógica, que é como que o instrumento universal do saber, enquanto define os meios de chegar ao verdadeiro.
Os diferentes tratados da Filosofia. — As subdivisões das três partes da Filosofia resultarão das seguintes considerações:
a) Problemas da Lógica. A Lógica pode comportar dois pontos de vista: ou visa a determinar as condições universais de um pensamento coerente consigo mesmo: (Lógica formal ou menor), ou se aplica a definir os processos ou os métodos exigidos, em ( cada disciplina particular, pelos diferentes objetos do saber (Lógica material ou Metodologia).
b) Problemas da Filosofia especulativa. A Filosofia especulativa, tendo por fim o conhecimento puro, visa a conhecer o mundo da natureza em si mesmo (Filosofia da natureza), — assim como a causa primeira do mundo, que é Deus (Teodiceia).
A filosofia da natureza se dividirá por sua vez em duas partes, conforme se refira ao, mundo material como tal (Cosmologia) ou ao homem (Psicologia) .
O estudo de Deus (existência e natureza de Deus), que compõe a Teodiceia, não pode ser abordado diretamente, pois Deus não nos é conhecido senão como autor do ser universal. Também deverá ela ser precedida logicamente de um tratado consagrado ao conhecimento do ser em geral; este é o objeto da Ontologia.
A Ontologia, por seu turno, requer o estudo preliminar do valor da nossa faculdade de conhecer. Esta, de fato, vai daqui em diante aplicar-se a realidades que hão são de qualquer maneira objetos da apreensão sensível. Importa então saber-se, e em que medida, suas pretensões de chegar até aos primeiros princípios das coisas são justificadas. Este é o objeto da Crítica do conhecimento,
Crítica do conhecimento, Ontologia (ou Metafísica geral) e Teodiceia constituem, em conjunto, a Metafísica.
c) Problemas da filosofia prática. A Filosofia prática, já o dissemos, tem por fim definir o bem do homem. Por isto é possível colocar se num duplo ponto-de-vista: do ponto-de-vista do fazer, isto é, da obra a produzir (arte em geral e artes do belo em particular), objeto da Filosofia da arte, — ou do ponto-de-vista do agir, isto é, da ação a realizar, o que constitui o objeto da Moral.
O quadro seguinte resume esta divisão da filosofia:
Partes da Filosofia | Tratados | Objetos | |
Lógica | Lógica formal ou menor | As leis do raciocínio correto | |
Lógica material ou maior | Os métodos particulares | ||
Filosofia especulativa | Filosofia da Natureza | Cosmologia | O mundo material como tal |
Psicologia | O homem | ||
Metafísica | Crítica do conhecimento | Valor da razão | |
Ontologia | O ser em geral | ||
Teodiceia | Existência e natureza de Deus | ||
Filosofia prática | Filosofia da arte | O belo e as artes | |
Moral | A ação humana |