circunvisão

Umsicht

O modo de lidar, talhado segundo o instrumento, e único lugar em que ele se pode mostrar genuinamente em seu ser como, por exemplo, o martelar com o martelo, não apreende tematicamente esse ente como uma coisa que apenas ocorre, da mesma maneira que o uso não sabe da estrutura do instrumento como tal. O martelar não somente tido sabe do caráter instrumental do martelo como se apropriou de tal maneira desse instrumento que uma adequação mais perfeita não seria possível. Ao se lidar com o instrumento no uso, a ocupação se subordina ao ser para (Um-zu) constitutivo do respectivo instrumento; quanto menos se fixar na coisa martelo, mais se sabe usá-lo, mais originário se torna o relacionamento com ele e mais desvelado é o modo em que se dá ao encontro naquilo que ele é, ou seja, como instrumento. O próprio martelar é que descobre o “manuseio” especifico do martelo. Denominamos de manualidade o modo de ser do instrumento em que ele se revela por si mesmo. O instrumento está disponível para o manuseio, em sentido amplo, unicamente porque todo instrumento possui esse “ser-em-si”, não sendo o que simplesmente ocorre. Por maior que seja o grau em que se visualize precisamente a “configuração” das coisas na qual elas aparecem desta ou daquela maneira, nunca se conseguirá descobrir o que é o manual. A visualização puramente “teórica” das coisas carece de uma compreensão da manualidade. O modo de lidar com os instrumentos no uso e no manuseio não é porém cego. Possui seu modo próprio de ver que dirige o manuseio e lhe confere uma segurança especifica. O modo de lidar com instrumentos subordina-se a multiplicidade de referências do “ser para” (Um-zu). A visão desse subordinar-se é a CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

A atitude teórica visualiza meramente, sem CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

Embora destituído de CIRCUNVISÃO, visualizar não é por isso desprovido de regras. STMSC: §15

O que está à mão, o manual, nem se apreende teoricamente nem se torna diretamente tema da CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

Isso significa: descobri-lo nas referências constitutivas da obra, em vários graus de explicitação e em diferentes envergaduras de aprofundamento da CIRCUNVISÃO. STMSC: §15

Mas o que a impossibilidade de emprego descobre não é a constatação visual de propriedades e sim a CIRCUNVISÃO da lida no uso. STMSC: §16

Numa perturbação da referência – na impossibilidade de emprego para…, a referência se explicita, se bem que ainda não como estrutura ontológica, mas, onticamente, para a CIRCUNVISÃO, que se depara com o dano do utensílio. STMSC: §16

A CIRCUNVISÃO desperta a referência a um específico ser para isso (Dazu), tornando assim visível não apenas tal ser, mas o contexto da obra, todo o “canteiro da obra” e, na verdade, como aquilo em que a ocupação sempre se detém. STMSC: §16

O conjunto instrumental não se evidencia como algo nunca visto e sim como um todo já sempre visto antecipadamente na CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

Da mesma forma, a falta de um manual, cuja disponibilidade cotidiana é tão evidente que dele nem sequer tomamos conhecimento, constitui uma quebra dos nexos referenciais descobertos na CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

A CIRCUNVISÃO depara-se com o vazio e só então é que vê para que (wofur) e com que (womit) estava à mão aquilo que faltava. STMSC: §16

Embora já sempre aberto à CIRCUNVISÃO, ele mesmo é inacessível à CIRCUNVISÃO por esta estar sempre voltada para o ente. “ STMSC: §16

Para que se possa encontrar o instrumento manual em seu “ser-em-si” nas ocupações cotidianas do “mundo circundante”, as referências e conjuntos referenciais em que a CIRCUNVISÃO “se empenha” não devem ser tematizados nem para ela e nem, principalmente, para uma apreensão “temática”, desprovida de CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

Como o manual intramundano já se tornou acessível, o mundo já deve ter-se aberto previamente para a ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §16

Segundo a interpretação feita até aqui, ser-no-mundo significa: empenhar-se de maneira não temática, guiando-se pela CIRCUNVISÃO, nas referências constitutivas da manualidade de um conjunto instrumental. STMSC: §16

Como se deve compreender mais precisamente a totalidade referencial em que se “move” a CIRCUNVISÃO e cujas possíveis quebras impõem o ser simplesmente dado dos entes? STMSC: §16

Ele se volta para a CIRCUNVISÃO do modo de lidar da ocupação e isso de tal maneira que a CIRCUNVISÃO, seguindo-lhe a indicação, dá uma “visão panorâmica” explícita de cada envergadura do mundo circundante. STMSC: §17

A visão panorâmica da CIRCUNVISÃO não apreende o que está à mão; ao contrário, ela recebe uma orientação no mundo circundante. STMSC: §17

Sinal não é uma coisa que se ache numa relação caracterizada pelo mostrar, mas um instrumento que, explicitamente, eleva um todo instrumental à CIRCUNVISÃO, de modo que a determinação mundana do manual se anuncie conjuntamente. STMSC: §17

No vestígio, o que se deu e aconteceu torna-se acessível à CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

Cria-se o sinal numa previsão cuidadosa própria da CIRCUNVISÃO e a partir dela. STMSC: §17

É uma previsão cuidadosa que necessita da possibilidade manual de, a cada passo, fazer anunciar o mundo circundante para a CIRCUNVISÃO, mediante o que está à mão. STMSC: §17

Por isso o modo de lidar da CIRCUNVISÃO no mundo circundante necessita de um instrumento à mão que assuma, em seu próprio caráter instrumental, a “obra” de causar surpresa de um manual. STMSC: §17

A ação de mostrar não dá origem apenas a uma disponibilidade orientada na CIRCUNVISÃO de um conjunto instrumental à mão e do mundo circundante em geral, mas ela pode até mesmo principiar um movimento de descoberta. STMSC: §17

É a CIRCUNVISÃO própria ao cultivo do campo que, levando-o em conta, descobre justamente aí o vento sudeste em seu ser. STMSC: §17

Fica, no entanto, a questão de como se descobre o ente nesse encontro prévio, se é como uma coisa que ocorre pura e simplesmente e não tanto como um instrumento não compreendido, ou se é como um manual que até então se mantinha entranhado para a CIRCUNVISÃO por não se saber “o que fazer” com ele. STMSC: §17

Também aqui, novamente, não se deve interpretar os caracteres instrumentais ainda não descobertos do manual pela CIRCUNVISÃO como mera coisalidade, destinada a uma apreensão do que é simplesmente dado. STMSC: §17

O que ele mostra é que há sempre algo com que se ocupar na CIRCUNVISÃO da cotidianidade. STMSC: §17

Na maior parte das vezes, enquanto sinal, ele não apenas está à mão somente para o seu “inventor” como, mesmo para ele, pode tornar-se inacessível, de tal maneira que um segundo sinal se faz necessário para o emprego possível do primeiro pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

O sinal não está apenas à mão junto com outro instrumento, mas, em sua manualidade, o mundo circundante torna-se, cada vez, explicitamente acessível à CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

Aí se enraíza o privilégio desse manual em meio ao mundo circundante, ocupado pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §17

A análise feita até o momento mostrou: o ente intramundano que vem ao encontro é liberado em seu ser para a CIRCUNVISÃO própria da ocupação, é levado em conta. STMSC: §18

Essas “relações” e “relatas” do ser-para, do ser em virtude de, do estar com de uma conjuntura, em seu conteúdo fenomenal, resistem a toda funcionalização matemática; também não são algo pensado, posto pela primeira vez pelo pensamento, mas remissões em que a CIRCUNVISÃO da ocupação sempre se detém como tal. STMSC: §18

O enteà mão” sempre possui uma proximidade diferente que não se estipula medindo-se distâncias. Essa proximidade regula-se a partir do uso e manuseio “a se levar em conta” na CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

A CIRCUNVISÃO da ocupação fixa o que, desse modo, está próximo também quanto à direção em que o instrumento é, cada vez, acessível. STMSC: §22

Chamamos de região este para onde da possível pertinência instrumental, previamente visualizado no modo de lidar da ocupação dotada de uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

Para que a indicação e o encontro de lugares dentro de uma totalidade instrumental disponível à CIRCUNVISÃO sejam possíveis, é preciso que já se tenha descoberto previamente uma região. STMSC: §22

O lugar “em cima” é o lugar no “teto”, o “embaixo” é o “no chão”, o “atrás” é o “junto à porta”; todos os onde são descobertos e interpretados na CIRCUNVISÃO, através das passagens e caminhos do modo de lidar cotidiano, e não constatados e enumerados numa leitura de medições do espaço. STMSC: §22

Os próprios lugares dependem dos entes que se acham à mão na CIRCUNVISÃO da ocupação ou que, como tais, são encontrados. STMSC: §22

O que constantemente está à mão não tem um lugar, pois é previamente levado em conta pelo ser-no-mundo da CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

Assim, por exemplo, o sol cuja luz e calor são usados cotidianamente possui seus lugares marcados e descobertos pela CIRCUNVISÃO, a partir da possibilidade de emprego variável daquilo que ele propicia: o nascente, o meio-dia, o poente, a meia-noite. STMSC: §22

Ela mesma só se torna visível no modo da surpresa, numa descoberta do que está à mão, guiada pela CIRCUNVISÃO segundo os modos deficientes de ocupação. STMSC: §22

O espaço que, no ser-no-mundo da CIRCUNVISÃO, descobre-se como espacialidade do todo instrumental, pertence sempre ao próprio ente como o seu lugar. STMSC: §22

O “mundo circundante” não se orienta num espaço previamente dado, mas a sua manualidade específica articula, na significância, o contexto conjuntural de uma totalidade específica de lugares referidos à CIRCUNVISÃO. STMSC: §22

Dis-tanciar é, numa primeira aproximação e, sobretudo, um aproximar dentro da CIRCUNVISÃO, isto é, trazer para a proximidade no sentido de providenciar, aprontar, ter à mão. STMSC: §23

Essas medidas exprimem que elas não apenas não querem “medir” como também indicam que as distâncias avaliadas pertencem a um ente com que lidamos numa CIRCUNVISÃO e ocupação. STMSC: §23

As distâncias são avaliadas, em primeiro lugar, de acordo com a CIRCUNVISÃO, mesmo quando se conhecem medidas estabelecidas “oficialmente”. STMSC: §23

O manual do mundo circundante, na verdade, não se oferece como algo simplesmente dado para um observador eterno, destituído de presença (Dasein), mas vem ao encontro na cotidianidade da presença (Dasein), empenhada em ocupações dentro da CIRCUNVISÃO. STMSC: §23

Por mais que se saibam com exatidão aqueles intervalos, este saber permanecerá cego por não possuir a função de aproximar o mundo circundante descoberto na CIRCUNVISÃO; este saber só se aplica num ser e para um ser que, em suas ocupações, não está medindo trechos de um mundo que “lhe diz respeito”. STMSC: §23

O dis-tanciamento guiado por uma CIRCUNVISÃO na cotidianidade da presença (Dasein) descobre o ser-em-sido “mundo verdadeiro”, isto é, de um ente junto ao qual a presença (Dasein), existindo, já sempre está. STMSC: §23

É a ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO que decide sobre a proximidade e distância do que está imediatamente à mão no mundo circundante. STMSC: §23

Aproximar significa: na periferia do que está imediatamente à mão numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §23

Ocupar um lugar deve ser concebido como distanciar o manual do mundo circundante dentro de uma região previamente descoberta numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §23

Espacial, a presença (Dasein) existe segundo o modo da descoberta do espaço inerente a CIRCUNVISÃO, no sentido de se relacionar num continuo distanciamento com os entes que lhe vêm ao encontro no espaço. STMSC: §23

A ocupação exercida na CIRCUNVISÃO é um distanciamento direcional. STMSC: §23

É ele que mantém expressamente abertas as regiões utilizadas na CIRCUNVISÃO, cada destino do pertencer, do encaminhar-se, do ir buscar e levar. STMSC: §23

Assim como o dis-tanciamento, o direcionamento é conduzido, previamente, como modo de ser-no-mundo pela CIRCUNVISÃO da ocupação. STMSC: §23

Dis-tanciamento e direcionamento enquanto características constitutivas do serem determinam a espacialidade da presença (Dasein) de estar no espaço intramundano, descoberto na CIRCUNVISÃO das ocupações. STMSC: §23

A ação liberadora de deixar e fazer em conjunto se perfaz no modo da referência, guiada pela CIRCUNVISÃO e fundada numa compreensão prévia da significância. STMSC: §24

Mostra-se assim que, dentro de uma CIRCUNVISÃO, o ser-no-mundo é espacial. STMSC: §24

De acordo com a possível transparência da CIRCUNVISÃO ocupacional, distancia-se e direciona-se o manual intramundano junto ao ser fático da presença (Dasein). STMSC: §24

Enquanto ocupação com o mundo numa CIRCUNVISÃO, a presença (Dasein) pode tanto “arrumar” como desarrumar e mudar a arrumação, e isso porque o arrumar, entendido como existencial, pertence a seu ser-no-mundo. STMSC: §24

Em si mesma, ela está presente à CIRCUNVISÃO na não surpresa do manual a cuja ocupação se entrega a CIRCUNVISÃO. STMSC: §24

A espacialidade do que vem imediatamente ao encontro numa CIRCUNVISÃO pode tornar-se tema da própria CIRCUNVISÃO e suscitar uma tarefa de cálculo e medição como, por exemplo, na construção de uma casa ou na medição do campo. STMSC: §24

Com esta tematização da espacialidade do mundo circundante, operada de forma predominante na CIRCUNVISÃO, o espaço já é, de certo modo, visualizado em sisi mesmo. STMSC: §24

A pura visão pode seguir o espaço que assim se revela, abandonando a única possibilidade de acesso prévio, isto é, o cálculo empreendido pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §24

A descoberta do espaço puramente abstrato, destituído de CIRCUNVISÃO, neutraliza as regiões do mundo circundante, transformando-as em puras dimensões. STMSC: §24

Os lugares e a totalidade de lugares, orientados pela CIRCUNVISÃO dos instrumentos à mão, mergulham num sistema de coordenadas, destinado a qualquer coisa. STMSC: §24

O “também” significa a igualdade no ser enquanto ser-no-mundo que se ocupa dentro de uma CIRCUNVISÃO. “ STMSC: §26

Eles vêm ao encontro a partir do mundo em que a presença (Dasein) se mantém, de modo essencial, empenhada em ocupações guiadas por uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §26

No “aqui”, a presença (Dasein) que se empenha em seu mundo não se dirige para si mesma, mas de si mesma para o “lá” de um manual da CIRCUNVISÃO, aludindo, porém, a si na espacialidade existencial. STMSC: §26

O “estar em volta” é um modo existencial de ser: o ficar desocupado e desprovido de CIRCUNVISÃO junto a tudo e a nada. STMSC: §26

Se o ser-com constitui existencialmente o ser-no-mundo, ele deve poder ser interpretado pelo fenômeno da cura, da mesma forma que o modo de lidar da CIRCUNVISÃO com o manual intramundano que, previamente, concebemos como ocupação. STMSC: §26

Assim como a CIRCUNVISÃO pertence à ocupação enquanto modo de descoberta do manual, a preocupação está guiada pela consideração e pela tolerância. STMSC: §26

Por isso, a mundanidade do mundo assim constituída, em que a presença (Dasein) já sempre é e está de modo essencial, deixa que o manual do mundo circundante venha ao encontro junto com a co-presença (Dasein) dos outros, na própria ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §26

Ele se move, de início, segundo o modo de ser mais imediato do ser-no-mundo que é com, no conhecer compreensivo do que a presença (Dasein) encontra e do que ela se ocupa na CIRCUNVISÃO do mundo circundante. STMSC: §26

Com efeito, pode-se sempre ainda ampliar a análise no sentido de se distinguir a presença (Dasein) dos entes não dotados do caráter de presença (Dasein), mediante uma caracterização comparativa dos desdobramentos da ocupação e sua CIRCUNVISÃO, da preocupação e sua consideração, e através de uma explicação mais apurada do ser de todos os entes intramundanos possíveis. STMSC: §28

Nele, a presença (Dasein) se faz cega para si mesma, o mundo circundante da ocupação se vela, a CIRCUNVISÃO da ocupação se desencaminha. STMSC: §29

Deixar e fazer vir ao encontro é, primariamente, uma CIRCUNVISÃO e não simplesmente sensação ou observação. STMSC: §29

Numa ocupação dotada de CIRCUNVISÃO, deixar e fazer vir ao encontro tem o caráter de ser atingido, como agora se pode ver mais agudamente a partir da disposição. STMSC: §29

Que a CIRCUNVISÃO cotidiana se equivoque, devido à abertura primordial da disposição e esteja amplamente sujeita a ilusão, isto é, segundo a ideia de um conhecimento absoluto de “mundo”, um me ón. STMSC: §29

A CIRCUNVISÃO vê o amedrontador por já estar na disposição do medo. STMSC: §30

A visão que, junto com a abertura do pre (das Da), se dá existencialmente e, de modo igualmente originário, a presença (Dasein), nos modos básicos de seu ser já caracterizados, a saber, a CIRCUNVISÃO da ocupação, a consideração da preocupação, a visão de ser em virtude da qual a presença (Dasein) é sempre como ela é. STMSC: §31

Ao se mostrar que toda visão funda-se primariamente no compreender – a CIRCUNVISÃO da ocupação é o compreender enquanto compreensibilidade – retira-se da intuição pura a sua primazia que, noeticamente, corresponde à primazia ontológica tradicional do ser simplesmente dado. “ STMSC: §31

A CIRCUNVISÃO descobre, isto é, o mundo já compreendido se interpreta. STMSC: §32

Todo preparar, acertar, colocar em condições, melhorar, completar, se realiza de tal modo que o manual dado na CIRCUNVISÃO é interpretado em relação aos outros em seu ser-para e vem a ser ocupado segundo essa interpretação recíproca. STMSC: §32

O que se interpreta reciprocamente na CIRCUNVISÃO de seu ser-para como tal, ou seja, o que expressamente se compreende, possui a estrutura de algo como algo. STMSC: §32

A questão que se levanta numa CIRCUNVISÃO: o que é esse manual determinado? A interpretação da CIRCUNVISÃO responde do seguinte modo: ele é para… STMSC: §32

O modo de lidar da CIRCUNVISÃO e interpretação com o manual intramundano, que o “vê” como mesa, porta, carro, ponte, não precisa necessariamente expor o que foi interpretado na CIRCUNVISÃO num enunciado determinante. STMSC: §32

Se, porém, todo e qualquer perceber de um instrumento à mão já é compreender e interpretar, e assim permite, na CIRCUNVISÃO, o encontro de algo como algo, não será que isso significa que primeiro se faz a experiência de algo simplesmente dado para depois apreendê-lo como porta ou como casa? STMSC: §32

Tudo o que está à mão sempre já se compreende a partir da totalidade conjuntural. Esta, no entanto, não precisa ser apreendida explicitamente numa interpretação temática. Mesmo quando percorrida por uma interpretação, ela se recolhe novamente numa compreensão implícita. E é justamente nesse modo que ela se torna fundamento essencial da interpretação cotidiana da CIRCUNVISÃO. STMSC: §32

O mostrar a partir de si mesmo e por si mesmo no enunciado se dá com base no que já se abriu no compreender e descobriu na CIRCUNVISÃO. STMSC: §33

Sem nenhum exame, pressupõe-se de antemão como “sentido” da proposição que a coisa martelo tem a propriedade de peso. Numa primeira aproximação”, não existem tais enunciados na CIRCUNVISÃO ocupacional. STMSC: §33

O exercício originário da interpretação não se acha numa enunciação teórica, mas na recusa e na troca do instrumento inadequado dentro de uma CIRCUNVISÃO ocupacional, “sem se perder tempo com uma palavra sequer”. STMSC: §33

Por outro lado, a interpretação pronunciada na CIRCUNVISÃO ainda não é, necessariamente, um enunciado no sentido definido. STMSC: §33

Quais as modificações ontológico-existenciais que fazem com que a interpretação {CH: de que modo a proposição pode realizar-se mediante uma transformação da interpretação?} da circunvisão gere o enunciado? STMSC: §33

A vantagem do enunciado consiste nesse nivelamento que transforma o “como” originário da interpretação, guiada pela CIRCUNVISÃO, no “como” de uma determinação do que é simplesmente dado. STMSC: §33

Chamamos de “como” hermenêutico-existencal o “como” originário da interpretação que compreende numa CIRCUNVISÃO (hermeneia), em contraste ao “como” apofântico do enunciado. STMSC: §33

Assim como estas, elas têm “origem” na interpretação da CIRCUNVISÃO. STMSC: §33

A ocupação é dirigida pela CIRCUNVISÃO que descobre o que está à mão e o preserva nesse estado de descoberta. STMSC: §36

A CIRCUNVISÃO confere a todos os desempenhos e a todos os dispositivos a pista de procedimento, os meios de execução, a ocasião adequada e o momento apropriado. STMSC: §36

A CIRCUNVISÃO é que, sem dúvida, se libera por não mais se achar comprometida com o mundo do trabalho. STMSC: §36

No repouso, a cura se recolhe à liberdade da CIRCUNVISÃO. STMSC: §36

A descoberta do mundo do trabalho, própria da CIRCUNVISÃO, tem o caráter ontológico do dis-tanciar. STMSC: §36

A CIRCUNVISÃO liberada já não tem mais nada à mão, de cuja proximidade tivesse de se ocupar. STMSC: §36

Mesmo esse nada ter a ver, o único que a fala cotidiana da CIRCUNVISÃO é capaz de compreender, não é um nada completo. STMSC: §40

Apenas por isso o ente “independente” pode fazer-se acessível como algo intramundano, que vem ao encontro na CIRCUNVISÃO. STMSC: §43

A ocupação que se dá na CIRCUNVISÃO ou que se concentra na observação descobre entes intramundanos. STMSC: §44

Na presença (Dasein) está em jogo o seu poder-ser-no-mundo e, com isso, a ocupação que descobre na CIRCUNVISÃO o ente intramundano. STMSC: §44

A presente análise deve esclarecer apenas como o em-penhar-se da ocupação comporta-se frente ao possível: não através de uma consideração temática e teórica do possível como possível e nem mesmo no tocante à sua possibilidade como tal, mas sim no modo em que ele, na CIRCUNVISÃO desvia o possível na direção de um possivelmente para-quê. STMSC: §53

Compreendendo-a, a presença (Dasein) ocupada numa CIRCUNVISÃO remete para o que vem ao encontro da mão. STMSC: §60

Na descoberta de “mundo”, guiada pela CIRCUNVISÃO nas ocupações, visualiza-se conjuntamente a ocupação. STMSC: §63

Quer “teórica”, quer “praticamente”, a compreensibilidade só se ocupa dos entes passíveis de serem supervisionados pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §63

Toda experiência ôntica de um ente, tanto a avaliação do que está à mão a numa CIRCUNVISÃO como o conhecimento científico de algo simplesmente dado, está sempre fundada em projetos mais ou menos transparentes do ser do respectivo ente. STMSC: §65

A decisão antecipadora abre de tal maneira cada situação do pre (das Da) que, agindo, a existência se ocupa numa CIRCUNVISÃO do que, faticamente, está à mão no mundo circundante. STMSC: §65

Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a cura é ocupação guiada por uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §66

A ocupação que conta e controla na CIRCUNVISÃO descobre, de início, o tempo, e leva à elaboração de uma contagem do tempo. STMSC: §66

Contando com seu tempo, o descobrir da CIRCUNVISÃO nas ocupações deixa vir ao encontro no tempo o manual e o ser simplesmente dado descobertos. STMSC: §66

Esta deve confirmar-se mediante a caracterização do ser-no-mundo cotidiano e imediato da ocupação decadente na CIRCUNVISÃO. STMSC: §67

É a sua temporalidade que possibilita a modificação da CIRCUNVISÃO em visualização perceptiva e em conhecimento teórico aí fundado. STMSC: §67

Ao contrário, compreender constitui o ser do pre (das Da) na medida em que uma presença (Dasein), com base na compreensão, pode, em existindo, formar as múltiplas possibilidades de visão, CIRCUNVISÃO e mera visualização. STMSC: §68

No modo da CIRCUNVISÃO cotidiana, o ter medo abre algo que ameaça. STMSC: §68

O extrair-se no esquecimento de um poder-ser fático e decidido baseia-se nas possibilidades de salvação e escape previamente descobertas numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §68

A análise da temporalidade da ocupação se atém, inicialmente, ao modo de atarefar-se, numa CIRCUNVISÃO, com o que está à mão. STMSC: §69

Depois, persegue a possibilidade existencial e temporal de a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, modificar-se em descoberta “meramente” visualizadora dos entes intramundanos, no sentido de certas possibilidades da pesquisa científica. STMSC: §69

A interpretação da temporalidade do ser junto a, tanto o guiado pela CIRCUNVISÃO como o que se ocupa teoricamente do que está à mão e é simplesmente dado dentro do mundo, mostra, igualmente, como esta temporalidade já é, preliminarmente, a condição de possibilidade do ser-no-mundo, em que se funda o ser junto aos entes intramundanos. STMSC: §69

A interpretação existencial e temporal do ser-no-mundo considera, pois, três aspectos: a) a temporalidade da ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO; b) o sentido temporal em que a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, se modifica em conhecimento teórico do que é simplesmente dado dentro do mundo; c) o problema temporal da transcendência do mundo. STMSC: §69

a ) A temporalidade da ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO Como obter a visão capaz de orientar a análise da temporalidade da ocupação? STMSC: §69

O modo de lidar da ocupação só pode deixar que um manual venha ao encontro numa CIRCUNVISÃO, caso já se compreenda a conjuntura, isto é, que sempre algo está junto com algo. STMSC: §69

O ser junto a… da ocupação, que descobre numa circunvisão, é um deixar e fazer em conjunto, ou seja, um projeto que compreende a conjuntura. STMSC: §69

O deixar e fazer em conjunto, fundado na temporalidade, já instalou a unidade das remissões em que se “movimenta” a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

É baseado nele que o manual, enquanto o ente que é, pode vir ao encontro numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

Por isso, pode-se esclarecer ainda mais a temporalidade da ocupação com o exame dos modos de deixar vir ao encontro numa CIRCUNVISÃO, já caracterizados como surpresa, importunidade e impertinência. STMSC: §69

Na CIRCUNVISÃO, o não estar à mão descobre-se no dar pela falta. STMSC: §69

O que não pode ser dominado pelo modo de lidar na ocupação, entendido como produzir, providenciar e também desviar, afastar, proteger-se de…, desvela-se em sua impossibilidade de superação. A ocupação se contenta com isso. O contentar-se com… é, no entanto, um modo próprio de deixar vir ao encontro numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

Neste intuito, observaremos o “surgimento” da atitude teórica frente ao “mundo” a partir da ocupação do manual, guiada pela CIRCUNVISÃO. STMSC: §69

Tanto a descoberta guiada pela CIRCUNVISÃO quanto a descoberta teórica dos entes intramundanos danos fundam-se no ser-no-mundo. STMSC: §69

b ) O sentido temporal em que a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, se modifica em descoberta teórica do que é simplesmente dado dentro do mundo Se, no movimento das análises ontológico-existenciais, questionamos o “aparecimento” da descoberta teórica a partir da ocupação guiada pela CIRCUNVISÃO, então o que se problematiza não é a história e o desenvolvimento ôntico da ciência e nem suas condições fatuais ou seus fins mais imediatos. STMSC: §69

Orientando-se pelo propósito de penetrar na constituição temporal do ser-no-mundo, investigaremos apenas a transformação formação da ocupação do manual, guiada pela CIRCUNVISÃO, em pesquisa do ser simplesmente dado dentro do mundo. STMSC: §69

É fácil caracterizar a transformação do manejo e uso “práticos”, guiados pela CIRCUNVISÃO, em pesquisa “teórica”, considerando que: a pura visualização dos entes aparece na medida em que a ocupação se abstém de todo manejo. STMSC: §69

Todavia, a suspensão de um manejo específico no modo de lidar da ocupação não faz da CIRCUNVISÃO orientadora um simples resto. STMSC: §69

A ocupação é que se desloca para a mera CIRCUNVISÃO de si mesma. STMSC: §69

Ao contrário, demorando-se na suspensão do manejo, a ocupação pode assumir o caráter de uma CIRCUNVISÃO ainda mais aguçada, no sentido de “testar”, examinar o que foi alcançado ou de supervisionar o “funcionamento” que justamente agora “está parado”. STMSC: §69

Abster-se do uso instrumental significa tão pouco “teoria” que, na “observação” demorada, a CIRCUNVISÃO permanece inteiramente atada ao instrumento ocupado e à mão. STMSC: §69

De acordo com a primazia da “visão”, deve-se iniciar a demonstração da gênese existencial da ciência, mediante a caracterização da CIRCUNVISÃO que rege a ocupação “prática”. STMSC: §69

A CIRCUNVISÃO movimenta-se nas remissões conjunturais de um nexo instrumental à mão. STMSC: §69

Através de uma interpretação do que se vê, a CIRCUNVISÃO “supervisora”, própria da ocupação, coloca mais perto da presença (Dasein) aquilo que, em cada uso e manejo, está à mão. STMSC: §69

Chamamos de reflexão a aproximação específica que interpreta, numa CIRCUNVISÃO, aquilo de que se ocupa. STMSC: §69

A reflexão guiada pela CIRCUNVISÃO ilumina cada posição fática da presença (Dasein) em seu mundo circundante de ocupações. STMSC: §69

A reflexão também pode realizar-se sem que aquilo mesmo que se aproxima numa CIRCUNVISÃO esteja ao alcance da mão ou vigente no campo mais próximo da visão. STMSC: §69

Este colocar mais perto o mundo circundante, na reflexão guiada pela CIRCUNVISÃO, tem o sentido existencial de uma atualização. STMSC: §69

A CIRCUNVISÃO que torna atual não se refere a “meras representações”. STMSC: §69

A atualização, guiada pela CIRCUNVISÃO, é, no entanto, um fenômeno de múltiplos fundamentos. STMSC: §69

Pela reflexão, o caráter de conjuntura do que está à mão não é descoberto mas apenas aproximado, de tal maneira que a reflexão faz ver como tal, numa CIRCUNVISÃO, aquilo junto com o que algo está em conjunto. STMSC: §69

O enraizamento da atualidade no porvir e no vigor de ter sido é a condição existencial e temporal de possibilidade para que aquilo que se projetou no compreender da compreensão, guiada por uma CIRCUNVISÃO, possa ser colocado mais perto numa atualização. STMSC: §69

Mas em que a caracterização temporal da reflexão, guiada pela CIRCUNVISÃO, e de seus esquemas contribui para responder à questão em suspenso sobre a gênese da atitude teórica? STMSC: §69

Contribui apenas para esclarecer a situação, dotada do caráter de presença (Dasein), em que a ocupação, guiada pela CIRCUNVISÃO, transforma-se em descoberta teórica. STMSC: §69

A própria análise da transformação deve ser investigada sob o fio condutor de um enunciado elementar característico da reflexão, guiada pela CIRCUNVISÃO, e de suas possíveis modificações. STMSC: §69

No uso de uma ferramenta, guiado por uma CIRCUNVISÃO, podemos dizer: o martelo é muito pesado ou muito leve. STMSC: §69

Mas a frase também pode dizer: o ente que aqui se encontra e que, numa CIRCUNVISÃO, já conhecemos como martelo, tem um peso, isto é, a “propriedade” de ser pesado; ele exerce uma pressão sobre o seu suporte; afastando-se do apoio, ele cai. STMSC: §69

A fala de “muito pesado” ou “muito leve”, guiada por uma CIRCUNVISÃO, não possui agora mais nenhum sentido, ou seja, o ente que agora vem ao encontro não oferece, nele mesmo, nada mais com referência a que algo possa ser “considerado” muito pesado ou muito leve. STMSC: §69

Mas será que uma atitude científica já se constitui por se “conceber” como simplesmente dado algo que, numa reflexão guiada pela CIRCUNVISÃO, está à mão? STMSC: §69

Visando a uma primeira caracterização da gênese da atitude teórica a partir da CIRCUNVISÃO, estabelecemos como base um modo de apreensão teórica dos entes intramundanos, a saber, a natureza física, em que a modificação da compreensão de ser equivale a uma transformação. STMSC: §69

Ela difere da atualidade da CIRCUNVISÃO, sobretudo, por a descoberta da respectiva ciência só aguardar a descoberta do que é simplesmente dado. STMSC: §69

Caso, porém, a tematização do ser simplesmente dado dentro do mundo seja uma transformação da ocupação descobridora, guiada por uma CIRCUNVISÃO, então o ser “prático” junto ao que está à mão deve ter como base uma transcendência da presença (Dasein). STMSC: §69

c ) O problema temporal da transcendência do mundo A compreensão de uma totalidade conjuntural inserida na CIRCUNVISÃO das ocupações funda-se numa compreensão preliminar das remissões de ser-para, para quê, ser para isso, em virtude de. STMSC: §69

Sendo essencialmente decadente, a temporalidade perde-se na atualização, compreendendo-se não apenas numa CIRCUNVISÃO a partir do que está à mão nas ocupações, mas também retirando, daquilo que a atualização sempre encontra de vigente, a saber, as relações espaciais, os parâmetros para articular o que a compreensão compreende e pode interpretar. STMSC: §70

Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença (Dasein) se compreende a partir do que vem ao encontro no mundo circundante e daquilo de que se ocupa numa CIRCUNVISÃO. STMSC: §75

A ocupação, comumente compreendida a partir de uma CIRCUNVISÃO, funda-se na temporalidade e no modo de uma atualização que aguarda e retém. STMSC: §79

Porque o dizer que interpreta alguma coisa pronuncia, conjuntamente, a si mesmo, isto é, pronuncia o ser junto ao que está à mão, que compreende numa CIRCUNVISÃO e que vem ao encontro na descoberta. STMSC: §79

O ser-no-mundo cotidiano da CIRCUNVISÃO precisa de possibilidade de visão, ou seja, de claridade para poder lidar, numa ocupação, com o que está à mão em meio ao que é simplesmente dado. STMSC: §80

Aguardando a possibilidade de visão dentro da CIRCUNVISÃO das ocupações, a presença (Dasein) compreende-se a partir de seus trabalhos diários, no “então, quando amanhecer” e, assim, ela dá a si mesma o seu tempo. STMSC: §80

E o faz a partir daquilo que, no horizonte do abandono ao mundo, vem ao encontro como uma conjuntura privilegiada para o poder-ser-no-mundo de uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §80

com a abertura de mundo, o tempo do mundo se torna público, de tal maneira que qualquer ser que se ocupa do tempo junto a entes intramundanos os compreende numa CIRCUNVISÃO como o que vem ao encontro “no tempo”. STMSC: §80

De que maneira o “tempo” se temporaliza numa primeira aproximação para a ocupação cotidiana, guiada por uma CIRCUNVISÃO? STMSC: §81

Como se define, portanto, o tempo revelado no uso do relógio próprio das ocupações, guiadas por uma CIRCUNVISÃO que toma tempo? STMSC: §81

Toda discussão seguinte a respeito do conceito de tempo atém-se fundamentalmente à definição aristotélica, ou seja, tematiza o tempo tal como ele se mostra na ocupação, guiada por uma CIRCUNVISÃO. STMSC: §81