Spinoza

SPINOZA (Baruch de), filósofo holandês (Amsterdam 1632 — Haia 1677). Filho de um mercador judeu de Amsterdam, Spinoza recebeu uma brilhante educação. Sua atitude bastante livre em relação às práticas religiosas fez com que fosse excomungado da sinagoga. Foi nos meios cristãos que encontrou os mestres que o iniciaram nas ciências: o médico Van den Enden ensinou-lhe física, geometria e a filosofia cartesiana. Cativado pela filosofia de Descartes, retirou-se para os arredores de Haia e mais tarde para a própria Haia; consagrou sua vida à meditação, ganhando sua subsistência a polir lentes de microscópios. Sua principal obra, A ética (1677), é uma doutrina da salvação pelo conhecimento de Deus. Esse “tratado de beatitude” apresenta-se como um racionalismo absoluto, uma filosofia sem mistério. A salvação é possível porque nossa alma participa originalmente do entendimento divino. A ética não é somente um tratado de Deus, é também um tratado do homem que analisa a alma humana, suas afeições e paixões, todos os elementos da existência individual. Esse desvio é destinado a permitir uma educação concreta do indivíduo, levando-o a reconhecer em si próprio, no fundo de seu “pensamento”, a própria presença de Deus. A dificuldade dessa filosofia vem de que Spinoza se coloque sempre do ponto de vista de Deus ou da sabedoria. Fichte e Hegel censuraram-no por ter “exposto” a verdade, sem, contudo, tê-la feito “compreender”. Entretanto, esse panteísmo não excitou menos, durante vários séculos, a imaginação dos maiores pensadores, nem fecundou menos as filosofias de Fichte, Schelling e Hegel ou deixou de solicitar quase todos os historiadores da filosofia (Lagneau, Brunschwicg, Gueroult). Deve-se-lhe também um Tratado teológico-político (1670), onde une seu racionalismo religioso a um liberalismo político. Escrevera antes um Curto tratado de Deus, do homem e da saúde de sua alma, denominado Curto tratado (publicado em caráter póstumo em 1677); o Tratado da reforma do entendimento (também póstumo), onde Spinoza expõe o princípio do método reflexivo; e finalmente Os princípios da filosofia de Descartes, completados pelos Pensamentos metafísicos (póstumos). [Larousse]


Em muito poucos homens correspondeu a vida tão bem ao pensamento como neste. Dir-se-ia que Spinoza tivesse sido criado e posto no mundo para produzir o spinozismo, pois todo ele está na sua especulação.

Era um judeu de Amsterdão, onde nasceu em 1632, e sua família era de origem portuguesa. Recebeu o prenome de Baruch. Seu pai achava-se à testa da pequena comunidade judaica e desde cedo o colocaram nos estudos, onde ultrapassou toda expectativa e não tardou a dar motivos de inquietação. Aprendeu a ler no texto original a Bíblia e os outros escritos hebraicos clássicos, especialmente a Mishná. Elucidava tudo com os historiadores, os filósofos e os comentadores, e bem depressa a interpretação tradicional se lhe tornou insuficiente. Por sua vez, também fez tabula rasa à sua maneira — maneira, quiçá, ainda mais radical do que a preconizada por Descartes. Recusou-se a receber o próprio Deus de outra fonte que não fosse a sua meditação.

Seguindo por esse caminho, expunha-se à perseguição tão logo se manifestasse ou fosse descoberto, e a perseguição não faltou. Aceitou-a Spinoza com coragem. Em 1656 foi excomungado formalmente pelo conselho dos anciãos, indo então estabelecer-se no campo, em Ouderkerk, onde viveu solitário durante três anos. Transfere-se em seguida para as proximidades de Haia, e depois para Haia mesmo. A fim de garantir a sua existência material aprendera o ofício de polidor de lentes para instrumentos de óptica. Mas a sua doutrina começava a difundir-se e não faltaram protetores poderosos para ampará-lo. Pouco a pouco foi-se tornando célebre. João de Witt defendeu-o contra possíveis perseguições, Leibniz veio procurá-lo, o grande Conde testemunhou por ele especial consideração. Atingido pela tuberculose, morreu muito antes da velhice aos quarenta e cinco anos, em 1677.

Foi a personificação da sua obra, dissemos acima, levando uma vida inteiramente consagrada à meditação, observando costumes e hábitos de absoluta regularidade. Fugia ao ruído e o que se fazia em torno dele não deixava de perturbá-lo. A mediocridade lhe parecia a única condição possível para um filósofo. Conta-se que, tendo-lhe Simão de Vries oferecido dinheiro, recusou para não ser distraído em seu trabalho por preocupações financeiras. Muito simples e de trato ameno, era inflexível no que dizia respeito à justiça; conta-se também que recusou a sucessão desse mesmo Simão de Vries a fim de não prejudicar o herdeiro legal.

Compôs em Ouderkerk o Breve tratado, cuja matéria passaria depois para a Reforma do entendimento e para a Ética. Em 1663 publicou os Princípios da filosofia de René Descartes, um manual para uso de seu aluno Casuarius, onde emprega a forma geométrica. Desde 1670 se tornara conhecido o Tratado Teológico-Político. O principal da obra de Spinoza foi editado pelos seus amigos em 1677, ano da sua morte. Compreendia a Ética, o Tratado teológico-político, o Tratado da reforma do entendimento, a Correspondência e um Compêndio de gramática hebraica. Foram trazidos à luz mais tarde o Breve tratado de Deus, do homem e da saúde de sua alma, Notas sobre o tratado teológico-político, o Tratado do arco-íris e um opúsculo sobre o Cálculo das probabilidades. A vida de Spinoza foi descrita com respeitosa afeição e em todos os pormenores por um de seus contemporâneos e admiradores, Colerus. [Truc]


Benedictus Spinoza (1632-1677) procura, através da filosofia, o bem supremo, que é Deus. Para isso, usa o método matemático de Descartes, e pretende raciocinar a “more geométrico”. Deus é substância infinita, entendendo por substânciao que é em si mesmo e por si mesmo se concebe, isto é, aquilo cujo conceito não necessita do conceito de outra coisa para ser formado”. Deus é, assim, a causa de si mesmo, e sua essência implica a sua existência. Não há para Spinoza duas substâncias, a pensante e a extensa, mas tanto a substância pensante como a extensa são atributos de Deus. Deus é Natureza (Deus sive Natura). São esses dois atributos o pensamento e a extensão, os únicos que são compreendidos pelo homem de um modo claro e distinto. Por isso se chamou a doutrina de Spinoza de panteísmo (pan, em grego, tudo), o que significa doutrina que afirma que Deus é tudo ou tudo é Deus. [MFS]