vir a ser

gr. γέγονε, gegone

[…] o advérbio ἀεί, que aparece no texto de Oxford em 28A1 [Timeu], nunca fez parte do argumento de Platão. Em outras palavras, ele não pretendia comparar a estabilidade eterna do mundo das Formas com a instabilidade eterna do mundo do espaçotempo, mas, antes, contrastar a estabilidade eterna de qualquer Forma — uma eternidade naturalmente caracterizada pela ausência de vir-a-ser para aquela Forma — e a instabilidade temporal de qualquer objeto sensível, uma temporalidade limitada em todo e cada caso por um momento de começo no tempo e um momento de dissolução no tempo.

Tomada esta distinção como base de sua argumentação, Platão parte para delinear as três características definidoras de um objeto sensível — visibilidade, tangibilidade e o fato de possuir massa. Considerando essas três características como precisamente as mesmas que definem o mundo, ele conclui que o mundo também é um objeto sensível e, por isso, como todos os objetos sensíveis, algo que deve ter tido um começo no tempo.

É um argumento forte, embora perigosamente exposto à crítica de que pode implicar uma falácia crucial de composição. E ele faz um uso excelente e preciso da distinção ontológica entre uma Forma (eterna) e um objeto sensível (temporal) com o qual começou. Na compreensão contrária, na qual os constituintes ontológicos dos dois universos eternos são supostamente contrastados, a única conclusão que teria constituído alguma coisa próxima da boa lógica teria sido que o mundo que nos é familiar “está num estado eterno de vir-a-ser”. Mas a expressão decisiva “ele veio a ser” (γέγονε) — uma afirmação pronunciada antes de qualquer conversa sobre os detalhes de tal vir-a-ser ou sobre sua “probabilidade” enquanto detalhes — deixa claro que, a menos que ele deva ser acusado de confusão quase total em seu pensamento, Platão quis que inferíssemos, a partir de seu argumento, que o mundo que nos é familiar teve um começo no tempo. [RobinsonPsi:22]