(in. Verification; fr. Verification; al. Verifikation; it. Verificazioné).
1. Em geral, qualquer procedimento que permita estabelecer a verdade ou a falsidade de um enunciado qualquer. Uma vez que os graus e os instrumentos da verificação podem ser inumeráveis, esse termo tem alcance generalíssimo e indica a aplicação de qualquer procedimento de atestação ou prova. Esse termo também pode ser usado para indicar a aferição de uma situação qualquer com base em regras ou instrumentos idôneos; nesse sentido, fala-se em verificar as contas, os graus de um ângulo ou a autenticidade de certos documentos, etc. Neste sentido geral, esse termo também é empregado sem referência à experiência ou aos fatos, podendo-se falar em verificação de uma expressão matemática, de um enunciado analítico da lógica, assim como em verificação de um enunciado factual ou hipótese científica. Por outro lado, a noção de verificação às vezes é ampliada para nela incluir não só o procedimento que permite estabelecer a verdade ou a falsidade de um enunciado, mas também o que permite estabelecer a verdade, a falsidade ou a indeterminação do enunciado: isso com referência a uma lógica de três valores, e não de dois (cf. Reichenbach, “The Principle of Anomaly in Quantum Mechanics”, 1948, em Reading in the Phil. of Science, 1953, pp. 519-20).
2. Em sentido restrito e específico, a verificação diz respeito aos enunciados factuais e é um procedimento que recorre à experiência ou aos fatos. Foi exatamente nesse sentido que o empirismo lógico entendeu a verificação como critério do significado das proposições: critério que o Círculo de Viena interpretava da forma mais rigorosa, declarando desprovidos de sentido todos os enunciados que não se prestassem a uma absoluta verificação empírica. Esse ponto de vista foi expresso com todo o rigor por Carnap em sua obra Der logische Aufbau der Welt (1928). A possibilidade de uma verificação absoluta foi, porém, negada, no âmbito do próprio Círculo de Viena, por K. Popper (Logik der Forschung, 1935) e depois por Lewis (“Experience and Meaning”, em Philosophical Review, 1934) e por Nagel (em Journal of Phi-losophy, 1934). Assim, o próprio Carnap modificava seu ponto de vista, e num ensaio de 1936 (“Testability and Meaning”, agora em Readings in the Phil. of Science, 1953, p. 47-92) falava de confirmação (confirmation) dos enunciados, em vez de verificação Sempre que a verificação completa não seja possível (e quase nunca é possível no campo da ciência), o princípio da verificabilidade expressa a exigência de uma confirmação gradualmente crescente (Ibid., p. 49). Deste ponto de vista, a aceitação ou a recusa de um enunciado factual contém sempre um componente convencional, que consiste na decisão prática que se deve tomar para considerar o grau de confirmação de um enunciado como suficiente para a sua aceitação. Este ponto de vista é hoje amplamente aceito.
3. No que diz respeito ao procedimento de verificação factual, pouco foi dito até agora pelos filósofos. Reichenbach dividiu esse procedimento em duas fases, que são: 1) introdução de uma classe fundamental O de enunciados observacionais, ou seja, de significados primitivos ou diretos que não estão sob indagação durante o curso da análise; 2) um conjunto de relações derivativas (ou regras de transformação) D, que permitem ligar alguns termos com as bases O. Depois de definidas por indagação específica tanto a base O quanto as relações derivativas D, o termo “verificado” pode ser definido como “o ser derivado da base O nos termos das relações D’. A esta descrição Reichenbach acrescenta uma determinação importante: a condição do significado não é a atual, mas a verificação possível (sem a qual os enunciados históricos, p. ex., não teriam significado); portanto, a noção de verificação pressupõe a de possibilidade, e a esse respeito Rei-chenbach distingue a possibilidade lógica, a possibilidade física e a possibilidade técnica, distinguindo correspondentemente três espécies de significados (“Verifiability Theory of Meaning”, em Proceedings of the American Academy of Arts and Sciences, 1951, pp. 46 ss.). Assim, a teoria de verificação está ligada à noção da possibilidade. [Abbagnano]
O controle da verdade de uma teoria, de uma afirmação. — A verificação é o terceiro momento do método experimental, segundo J. S. Mill, sendo o primeiro a “observação” e o segundo a “indução” ou colocação da “hipótese”. A verificação consiste em estender a todos os casos possíveis a hipótese explicativa que se formulou: é a “experimentação”. Por exemplo, é experimentando um foguete, em todos os lugares e em todas as condições, que se pode verificar os cálculos teóricos que presidiram sua construção. [Larousse]
Como ação de verificar, a verificação consiste num exame de que algo é verdadeiro ou certo. Como o que resulta verdadeiro ou certo é um enunciado, a verificação é o exame de que um enunciado é verdadeiro. A verificação, no entanto, não é apenas o exame, mas também o resultado do mesmo. Por este motivo, a verificação é uma comprovação. Na medida em que se supõe que o enunciado que se trata de verificar é verdadeiro, a verificação é também uma confirmação. Por isso, verificação, comprovação e confirmação têm sido às vezes usadas para designar a mesma operação, ou série de operações. Em toda a teoria do conhecimento, o problema da verificação de enunciados ocupa um lugar proeminente. Alguns autores trataram o problema da verificação dentro do que se tem chamado criteriologia, por considerarem que verificar requer ter certos critérios de verdade. A questão da natureza e modos de levar a cabo a verificação de enunciados tem ocupado, portanto, todos os filósofos interessados em problemas do conhecimento. No entanto, tem ocupado sobre tudo dois grupos de filósofos: os pragmatistas e os positivistas lógicos e, em geral, os neopositivista..
Existe, contudo, uma diferença fundamental no modo como os referidos grupos têm entendido a verificação.
Para os pragmatistas tem-se tratado sobretudo de fazer verdadeiras as proposições no sentido de que nenhuma proposição dever ser admitida como verdadeira se não pode, pelo menos, em princípio, ser verificado. Se todo o enunciado tem uma pretensão de verdade, esta pretensão não ficará cumprida senão quando tenha sido verificado.
Os que chamaremos neopositivistas não se interessaram tanto por verificar a verdade (ou falsidade) das proposições); como por verificar a significação (ou falta de significação) das proposições. O critério de verificação da significação é o chamado “princípio de verificação”, e o modo, ou modos, como se procede, ou pode proceder-se, à verificação das proposições chama-se “método de verificação”. O princípio de verificação sustenta que a significação de uma proposição equivale a sua verificação. As proposições não verificáveis não são,, propriamente falando, proposições, porque carecem de significação. Por isso, apenas podem verificar-se as proposições chamadas empíricas, visto que apenas há verificação empírica. O que não é verificação empírica, não é verificação. Muitos enunciados resultam, de acordo com isto, inverificáveis; enunciados teológicos, enunciados metafísicos, enunciados axiológicos, etc. As expressões da lógica e da matemática não são tão pouco empiricamente verificáveis, mas não é necessário excluí-las, porque se trata de tautologias. Os neopositivistas seguiam com isto a ideia de Hume de classificar todos os enunciados em “proposições sobre fatos” e “proposições sobre relações de ideias”. O princípio de verificação refere-se às proposições sobre fatos. O princípio de verificação em sentido restrito foi rapidamente denunciado por alguns dos próprios neopositivistas, como insustentável. Dizer que só têm significação as proposições empiricamente verificáveis equivale a excluir proposições empíricas que podem não ser efetivamente verificáveis. Por isso, propô-se um princípio de verificação mais liberal ou mais débil, que consistem em dizer que só têm sentido as proposições verificáveis em princípio, seja ou não possível efetivar atualmente a sua verificação. [Ferrater]