Joaquim de Fiore (1145-1202)
Nasceu em Dorfe Célico, Cosenza (Itália) e morreu na Calábria, no mosteiro de São João de Fiore, fundado por ele e do qual era abade desde 1191. A lenda apoderou-se deste abade profeta, místico, teólogo, comentarista bíblico e filósofo da utopia. Os dados sobre sua vida são tardios, pois procedem de um monge do séc. XVI. Destes dados, transmitidos por J. Greco do cenóbio de Fiore, sabe-se que Joaquim de Fiore, depois de uma viagem à Terra Santa, onde se livrou de uma peste, entregou-se ao ascetismo. Novamente na Itália, entrou no mosteiro cisterciense de Sambrucino e Corazzo (Sicília), onde foi abade. Posteriormente se retirou para a vida de anacoreta (1119), fundando então o cenóbio de São João de Fiore, onde reuniu muitos discípulos.
Mais interessante do que sua vida é a sua doutrina, aliás, sua vida é a sua própria doutrina. De sua numerosa produção restam três obras fundamentais: 1) Concordia Veteris et Novi Testamenti. 2) Expositio inApocalypsim; 3) Psalteriumdecem chordarum. Além destas obras indiscutíveis, se lhe atribuem estas outras: Tractatus super Quattuor Evangelio; De unitate et essentia Trinitatis contra Pedro Lombardo; um escrito Adversus Judaeos; uma exposição sumária da fé católica, intitulada De articulis fidei. E finalmente, o Líber flgurarum, descoberto em 1937, um livro de desenhos e figuras reconhecido pelos pesquisadores como autêntico. Nele expressa a sua doutrina de forma simbólica em árvores que produzem flores e frutos, em figuras geométricas e em visões de formas estranhas em que as árvores se transformavam em águias etc.
Quais são as ideias e a originalidade deste homem tão pesquisado e estudado hoje em dia? Seguindo um pouco a ordem e o conteúdo de suas três obras fundamentais, podemos resumir seu pensamento desta forma:
Concordia Veteris et Novi Testamenti. Neste livro, J. de Fiore elabora sua filosofia da história. A compreensão espiritual da Escritura, meta e tarefa contínua de Joaquim, leva-o a superar o sentido literal tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. A história culminará numa era final, produto das duas anteriores, a do AT e a do NT. Assim é como se constrói a sua filosofia trinitária da história, em que as três Pessoas da Trindade se transformam numa estrutura temporal: a era do Pai, Antigo Testamento; a era do Filho, Novo Testamento; a era do Espírito Santo, o tempo atual da história até o final dos tempos. Seu início seria próximo ao ano 1260. Seria a irrupção do Espirito que varreria a corrupção da Igreja e implantaria a verdadeira religião.
Na Expositio in Apocalypsim anuncia a iminente crise do diabo, tal como a pintam as imagens do Apocalipse, personificado na figura do anticristo, e a subsequente vida do Espirito que preencherá a terra.
Seu Psalterium decem chordarum interpreta a doutrina da Trindade através do símbolo e visão do saltério de dez cordas. Opõe-se ao pensamento de Pedro Lombardo, que de tanto distinguir entre a essência e as três pessoas, parecia admitir uma quarta.
Joaquim de Fiore é um grande poeta e artista. E principalmente o homem que luta constantemente contra “o sentido literal” para chegar ao espírito, porque este é o que dá vida e sentido à história. Esse espírito é o que faz dele um profeta dos novos tempos. Suas especulações trinitárias vinculam-se, assim, numa mensagem profética que nos leva ao “Evangelho eterno”, obra do Espírito que supera toda letra e toda lei.
O terceiro estado que há de vir, se caracterizará por uma inteligência da Palavra divina, já não literal, mas espiritual. Os homens conhecerão verdadeiramente o seu significado real. “A mensagem joaquinista é documento de uma grande expectativa do advento e dos valores espirituais já sobre a terra. Suas aspirações renovadoras se cristalizarão e se expressarão melhor em sucessivos movimentos ortodoxos. Influenciou principalmente o movimento franciscano, não já em sua inspiração original, mas em sua evolução especulativa. Notável é o seu influxo teórico sobre muitos escritores, especialmente sobre Dante” (Diccionario de filósofos). Sua importância e influência são grandes na construção da utopia cristã.
BIBLIOGRAFIA: E. Gebhart, La Italia mística, 1945; Historia Universal, Siglo XXI. 11, c.10, com a bibliografia. (Santidrián)