Itália

Em meados do século IV, Roma tinha sido suplantada como capital política do Império por Milão no Ocidente e Constantinopla no Oriente. Em 402, a capital ocidental tinha sido transferida de novo, em face da ofensiva bárbara, para uma posição mais defensável em Ravena. Roma foi invadida pelos visigodos (410) e os vândalos (455), e o norte da Itália pelos hunos (452), mas nenhum desses povos aí se fixou. A deposição do último imperador latino no Ocidente, Rômulo Augústulo, em 476, por Odoacro, não marcou qualquer mutação dramática, porquanto o Império Ocidental, agora constituído apenas pela Itália, tinha sido governado desde a década de 380, intermitentemente, por chefes militares bárbaros.

A primeira invasão bárbara importante e duradoura da península foi a dos ostrogodos (490-93), cujo rei Teodorico, o Grande, depôs Odoacro e instalou-se em Ravena. O reino ostrogodo foi finalmente eclipsado pela reconquista bizantina da Itália pelos generais Belisário e Narsés, a mando do imperador Justiniano, após prolongada guerra (535-55). Em 568, a Itália foi invadida pelos lombardos, que estabeleceram um reino no norte e ducados em Spoleto e Benevento, mergulhando a maior parte da península em nova série de guerras. Roma, ainda o centro espiritual da Cristandade, resistiu e estava efetivamente sob domínio papal em fins do século VI. O exarcado bizantino de Ravena caiu em 751.

Atendendo a uma solicitação papal, Carlos Magno conquistou o reino lombardo e o ducado de Spoleto (773-74), que por isso foram absorvidos pelo reino franco. Em 800, sua coroação como imperador foi realizada pelo papa em Roma. A Itália setentrional e central foi efetivamente governada pelos carolíngios até a morte de Luís II (875) e, daí em diante, por quase 90 anos, por uma sucessão de governantes menos competentes, de origem franca. Durante esse período, o continente foi assolado, a intervalos, por incursões dos magiares (899-950) e sarracenos, instalados na Sicília desde 825. No reinado de Basílio I, Bizâncio expulsou os sarracenos da região meridional da península, ficando o poder nessa região dividido, em 900, entre bizantinos e lombardos. Tendo anexado a Itália ao reino germânico em ascensão, Oto I garantiu sua coroação como imperador pelo papa (962); e o título imperial foi ostentado daí em diante por sucessivos reis alemães, até meados do século XIII. As relações com o Papado, quase invariavelmente más, foram especialmente acrimoniosas durante a Questão das Investiduras (1076-1122).

O século XI presenciou importantes desenvolvimentos políticos e econômicos na península. Quando a integridade do Estado se fragmentou durante o século X, a autoridade passou a estar cada vez mais localizada, o que se refletiu na disseminação de cidades fortificadas (castelli). Em fins do século XI tinha início a formação de comunas, com Pisa e Gênova entre as primeiras. No sul, as conquistas normandas da década de 1070, desalojando lombardos e bizantinos, puseram fim ao monopólio comercial de Bizâncio no Mediterrâneo oriental, em proveito de Veneza. Com o início das Cruzadas, também floresceu o comércio nas cidades marítimas de Pisa e Gênova. O crescimento da riqueza e da independência citadinas foi rápido; em meados do século XII, comunas tinham sido estabelecidas em todas as principais cidades do norte e centro da Itália. A tentativa de Frederico Barba-Ruiva de recuperar a autoridade imperial nas cidades do norte provocou a confederação retaliatória da Liga Lombarda (1167), mas a rivalidade intercidades era a norma. Nas décadas seguintes à morte de Frederico II (1250), o poder nas comunas passou a estar cada vez mais concentrado nas mãos de autocratas urbanos (signori) num período de contínua prosperidade econômica.

A morte de Frederico, que cortou a conexão direta com a Alemanha, marcou também o começo do gradual declínio do efetivo controle imperial no interior da península, embora não o das intervenções externas; em 1266-68, os angevinos suplantaram os Hohenstaufen como a principal dinastia estrangeira na Itália continental, competindo com os aragoneses, depois de 1282, pelo controle duradouro da Sicília e do reino de Nápoles. O Papado, cuja autoridade temporal na Itália central tinha sido consideravelmente ampliada com Inocêncio III (1198-1216), tornou-se cada vez mais politizado, e o final do século XIII assistiu à ascensão de poderosas famílias papais, como os Colonna e os Gaetani, cujas maquinações redundaram na transferência da residência papal para Avignon (1309-77).

Desde os começos do século XIV, a arena política na Itália foi dominada por questões internas, especialmente nos Estados pontifícios, na Toscana e no norte. A adesão aos partidos guelfo e gibelino, inicialmente de apoio ao Papado e ao Império, respectivamente, passara a significar alinhamento político dentro de cidades e entre cidades. A guerra entre estas tornou-se particularmente intensa e de efeitos econômicos devastadores no começo do século XIV. A falência das casas bancárias internacionais dos Peruzzi e dos Bardi em Florença (na década de 1340) foi seguida pelas devastações da Peste Negra (1348), a qual eliminou em algumas áreas talvez metade de uma população já debilitada pela crise econômica. Foi esse, porém, o período germinal da Renascença. Durante os 150 anos seguintes, as cidades-Estados conheceram fortunas várias, usualmente sob governos oligárquicos ou despóticos. As guerras prosseguiram entre os estados mais poderosos, sobretudo Veneza, Milão e Florença, até a Paz de Lodi (1454), e daí em diante com menos frequência, até terem inicio as Guerras da Itália em 1494. Durante esse período, a península testemunhou a intervenção estrangeira numa escala sem precedentes, instigada por Carlos VIII da França. (DIM)