O termo “ortodoxa” deveria ser corretamente aplicado à Igreja Católica em contraposição às seitas heréticas, mas é usado em geral para descrever a Igreja oriental, a qual consiste, após as invasões islâmicas, no patriarcado de Constantinopla, somado àquelas igrejas em terras de língua eslava que lhe ficaram devendo sua conversão. Essa Igreja aceitou a autoridade das Escrituras e dos sete concílios ecumênicos: Niceia I (325), Constantinopla I (381), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla II (553), o qual condenou os Três Capítulos Nestorianos, Constantinopla III (680), que condenou os monotelistas, e Niceia II (787), que condenou os iconoclastas. Repudiou o primado do papa e considerou o imperador seu chefe divinamente autorizado, embora (uma vez que seu cargo era, em teoria, eletivo) governasse como representante de toda a comunidade de fiéis. Era o imperador quem nomeava o patriarca de Constantinopla e quem, após a conquista muçulmana dos patriarcados de Jerusalém, Antioquia e Alexandria, era aceito como a principal autoridade espiritual no leste. A Igreja de Constantinopla foi um fator decisivo na conversão de sérvios, búlgaros, romenos, morávios e russos.
Em 867 e em 1054, eclodiram disputas entre o clero ortodoxo e o católico, redundando em quebras de unidade. A causa dessas disputas era basicamente política (a pretensão de Roma de representar São Pedro e a autoridade suprema do Cristo), embora tivesse também algo de doutrinária (a natureza da procissão do Espírito Santo), pelo que é duvidoso se a descrição geralmente usada de cismas (definidos como uma “separação formal e deliberada da unidade da Igreja”) não será, na verdade, demasiado forte para podermos considerá-la correta. A comunhão entre as duas Igrejas foi restabelecida depois de 867, mas nunca mais depois de 1054; uma tentativa de reunião foi realizada no Concílio de Ferrara (1438) mas a Igreja Ortodoxa nunca a aceitou. Isso não chegava a ser surpreendente, porquanto as relações entre Oriente e Ocidente pioraram cada vez mais, e de forma constante, a partir do século X; e em 1204 a cidade de Constantinopla e a igreja metropolitana de Santa Sófia tinham sido brutalmente saqueadas pelos francos católicos.
Na Igreja Ortodoxa, os bispos e toda a hierarquia superior do clero eram celibatários e tradicionalmente recrutados nos mosteiros. Os párocos eram escolhidos localmente por suas congregações e apresentados ao bispo para ordenação; era exigido que se casassem. A autoridade sacerdotal era um pouco menor do que no Ocidente; por outro lado, a influência de teólogos leigos que eram monges ou eremitas era muito maior. A Regra básica do monasticismo oriental era a de São Basílio. No plano doutrinário, a Igreja era marcada por uma liturgia imutável e uma devoção especialmente profunda à Ressurreição. A Virgem Bendita, a “Santa das Santas”, foi aclamada como padroeira da Igreja e da cidade de Constantinopla.
No século VIII, a Igreja Ortodoxa esteve envolvida numa séria controvérsia sobre a veneração de imagens. Uma dinastia de imperadores “iconoclastas” oriundos das províncias asiáticas (possivelmente influenciados pela estrita proibição de imagens do Islã) tentou abolir o uso de imagens e ícones, com o argumento de que induziam à idolatria. A doutrina foi impopular e acabou sendo formalmente condenada em 787; desde então, os ícones têm desempenhado um importante papel no culto ortodoxo. No século XIV, surgiu uma disputa em torno do ensino Hesychasm (do grego hesychia, “quietude divina” NT), um sistema de contemplação mística que leva à iluminação pela divina luz de Deus, praticada entre os monges do Monte Athos. Como os adversários do Hesychasm eram geralmente identificados com a influência ocidental, ela passou a ser, depois de 1351, um ensinamento aceito da Igreja, embora sua influência declinasse a partir do século XVI. (DIM)