…a theosis constitui a doutrina central da teologia ortodoxa. Acrescente-se que ela está intimamente ligada às disciplinas espirituais dos hesicastas (de hesychia, “tranquilidade”, “paz de espírito”) , cenobitas que habitavam os mosteiros do monte Sinai. A prática preferida desses monges era a “prece do coração” ou a “prece de Jesus”. Este texto curto: “Senhor Jesus Cristo, filho de Deus, tenha piedade de mim” devia ser incansavelmente repetido, meditado e “interiorizado”. A partir do século VI, o hesicasmo propaga-se do monte Sinai para o mundo bizantino. João Clímaco (séculos VI-VII), o mais significativo teólogo sinaíta, já havia realçado a importância da hesychia. Mas é com Nicéforo, o Solitário (século XIII), que essa corrente mística se implanta no monte Atos e em outros mosteiros. Lembra Nicéforo que a finalidade da vida espiritual é tomar consciência, através dos sacramentos, do “tesouro escondido no coração”; em outras palavras, juntar o espírito (o nous) ao coração, o “lugar de Deus”. Obtém-se essa junção fazendo “descer” o espírito até o coração, tendo por veículo o alento. (Eliade)
Um estado de vida e o estado correspondente da alma: a reclusão e a solidão de um lado, e de outro o repouso, o silêncio dos pensamentos e dos movimentos, a quietude, a suspensão que torna a alma e particularmente a mente (“o olho da alma”) e o coração (“a raiz dos poderes”) disponíveis para uma contemplação tão ininterrupta quanto possível. Contemplação, diria-se também justamente oração pois tudo é um. Explica-se que a hesychia, como a oração do coração da qual é ao mesmo tempo clima e emanação, vieram abarcar toda a riqueza da mística e da ascese a partir do desinteresse, da apatia e da nudez da mante até esta inconsciência de si na oração que a oração pura celebrada por Evágrio e também o não–saber que assim forma a experiência suprema. (Jean Gouillard – Pequena Philokalia)