Cirilo de Alexandria

Cirilo de Alexandria, São (375-444)

Seu nome ficou vinculado à segunda grande controvérsia cristológica que conduziu ao Concílio de Efeso (431) e à condenação de Nestório. Teólogo profundo e dialético sutil, foi reconhecido tardiamente como doutor da Igreja.

Natural de Alexandria, sucedeu seu tio Teófilo, o intrigante e polêmico arcebispo, na sede alexandrina, em 412. Seu pontificado também foi marcado pela polêmica, tanto frente à administração civil quanto às lutas teológicas, arianas e nestorianas de seu tempo. Sua formação clássica e teológica foi a da escola alexandrina, sempre defrontada com a antioquena. Como seu tio, teve reticências e silêncios diante da doutrina e gestão de São João Crisóstomo. Seu caráter duro exercitou-o contra os judeus, novacianos, hereges e pagãos. Houve quem o responsabilizasse pela morte da famosa filósofa Hipácia, cruelmente despedaçada, em março de 415, na escadaria de uma Igreja, por uma chusma de cristãos.

Os últimos anos no patriarcado de Alexandria estão marcados pela luta contra Nestório. Sobretudo a partir de 428, quando Nestório foi nomeado bispo de Constantinopla, Cirilo converteu-se no paladino da ortodoxia. “A velha rivalidade entre Antioquia e Alexandria converteu-se num conflito de toda a Igreja. Nestório afirmou que em Cristo há duas pessoas, uma pessoa divina que é o Logos, que mora numa pessoa humana, e que não se poderia chamar de Theotokos, Mãe de Deus, à Virgem Maria” (Quasten, Patrologia, II, 122s.). Cirilo rejeitou os argumentos de Nestório e não parou até condená-lo no Concílio de Éfeso, 431, em que atuou como delegado do papa. Nesse esforço continuou lutando até a sua morte em 444.

A obra literária de São Cirilo está praticamente motivada pela controvérsia ariana e nestoriana. Completam seu labor os comentários bíblicos. Num simples esquema poderíamos classificar sua obra: a) exegese; b) teológica e apologética; c) sermões; d) cartas e outros escritos. No total, 10 volumes da coleção Migne: PG 68-77.

A obra exegética de Cirilo compreende diversos comentários até de livros do Antigo Testamento (AT). Destaca-se o que tem forma de diálogo entre Cirilo e Paládio sobre a Adoração e o culto em espírito e em verdade e seu complemento Glaphyra, e os 13 livros dos “comentários nobres” sobre passagens escolhidas do Pentateuco. Segue-se o comentário sobre Isaías e os profetas menores. Do Novo Testamento (NT) restam-nos os que fez aos Evangelhos de São João, São Lucas e São Mateus.

De seus comentários dogmático-polêmicos cabe citar seu Thesaurus de sancta et consubstantiali Trinitate, contra os arianos. Contra os nestorianos escreveu Adversus Nestorii blasfemias; De recta fide; Scholia delncarnatione Unigeniti; Adversus nollentes confiten Sanctan Vlrginem esse Deiparam; Quod unus sit Christus etc. Do ponto de vista apologético, é interessante sua Apologia contra Juliano, resposta aos três livros Contra os galileus, publicados pelo apóstata em 363.

Em forma de Homilias e sermões chegaram-nos as Cartas ou Homilias pascais, escritas às Igrejas do Egito entre os anos 414-442. Nelas exorta ao jejum e à abstinência, à vigilância e à oração, à esmola e obras de misericórdia. De seus sermões ficaram-nos somente 22.0 sermão 4 é o sermão mariano mais famoso da Antiguidade.

“A volumosa correspondência de Cirilo é muito importante para a história civil e eclesiástica, para a doutrina e o direito da Igreja, para as relações do Oriente e Ocidente, para a rivalidade entre escolas teológicas e entre sedes episcopais” (Quasten, Patrologia, II, 137-138). Imprescindíveis são também para a história do dogma as cartas escritas a Nestório.

O Papa Celestino honrou-lhe com esses títulos: “bonus fidei catholicae defensor”, “vir apostolicus” e “probatissimus sacerdos”. A Igreja grega o considerou, depois de sua morte, como a suprema autoridade em questões cristológicas.

BJJ3LIOGRAFIA: Operas, PG 68-77. (Santidrián)