teoria da ciência

(in. Science of science; fr. Doctrine de la science; al. Wissenschaftslehre; it. Dottrina della scienza).

Expressão com a qual Fichte designou “a ciência das ciências em geral”, isto é, a ciência que expõe de modo sistemático o princípio fundamental em que se apoiam todas as outras ciências. “Qualquer ciência possível tem um princípio fundamental que nela não pode ser demonstrado, mas que já deve ter sido verificado antes dela. Ora, onde deve ser demonstrado esse princípio fundamental? Sem dúvida na ciência que deve fundamentar todas as ciências possíveis” (Über dem Begriff der Wissenschaftslehre, 1794, § 2; trad. it., pp. 11-12). Fichte identificava a teoria da ciência com a filosofia, vendo o seu princípio fundamental no Eu.

Essa expressão ainda é usada hoje, quase sempre com referência a Fichte. Todavia, B. Bolzano adotou-a como título de uma obra para indicar a doutrina que expõe as regras de divisão do campo em cada ciência e de aprendizado do próprio saber (Wissenschaftslehre, 1837, I, § 6; cf. IV, § 392 ss.). Mas, para a disciplina que considera as formas ou os procedimentos do conhecimento científico, têm sido usadas mais frequentemente as palavras epistemologia e metodologia. [Abbagnano]


A teoria da ciência é a filosofia da ciência. Sua missão é elucidar plenamente a essência e possibilidade do saber científico, classificar as ciências, suas pressuposições seus métodos. Na medida em que põe o problema da possibilidade da ciência, isto é, de suas condições e limites como conhecimento universalmente válido, a teoria da ciência converte-se numa gnoseologia (teoria do conhecimento) particular das ciências, numa crítica das ciências. Considerada como doutrina dos métodos, constitui a lógica especial das ciências, e, nessa qualidade, tem principalmente de tirar a limpo os métodos de “invenção” (inventio), isto é, os métodos de que toda ciência se serve para investigar seu objeto e chegar a novos conhecimentos; neste particular, é preciso ter em conta que a intuição criadora não pode ser reduzida a regras, mas tão-somente sua comprovação e fundamentação.

A base mais importante para a classificação das ciências, subministra-a o objeto correspondente das mesmas. Assim, numa primeira divisão, a filosofia e a teologia, mercê de seu modo de encarar as coisas de um ponto de vista compreensivo e universal, contrapõem-se às ciências particulares, cada uma das quais tem por objeto um domínio intra-mundano limitado. Estas classificam-se em três grupos: ciências matemáticas (matemática), ciências da natureza e ciências do espírito; as ciências da natureza consideram as coisas, tais como são “por natureza”, isto é, com a intervenção da ação livre do homem; as ciências do espírito estudam as obras da atividade espiritual humana; pelo que, também se denominam ciências da cultura. Hoje com frequência também se incluem a filosofia e a teologia entre as “ciências do espírito”. Debaixo de outro aspecto, distinguem-se ciências experimentais, que se circunscrevem ao campo da experiência, e ciências especulativas, ou seja, as ciências que pelo esforço do pensamento ultrapassam as fronteiras da experiência e se propõem como fim o conhecimento puro, isto é, não endereçado à aplicação ativa do supra-sensível. A ciência experimental denomina-se exata, quando se apoia em medições rigorosas e em cálculos matemáticos. Sob outro aspecto, às ciências puramente teoréticas ou especulativas, que se circunscrevem ao conhecimento do que existe independentemente do nosso pensamento, opõem-se as ciências normativas (práticas), que estabelecem normas para o pensar, o querer e o agir do homem.

As pressuposições últimas de todas as ciências são de natureza filosófica (metafísica). A crítica da ciência põe a claro estes pressupostos; mas, como muitas vezes foi exercida sob a influência do positivismo, mostrou-se incapaz de fundamentar a validade deles. Chegou-se, assim, a uma crise da ciência, que é, acima de tudo, crise de seus fundamentos. Sem admitir um conhecimento da essência (conhecimento da essência) e dos princípios do conhecimento incondicionalmente válidos, não é possível esperar uma solução satisfatória de seus problemas. — De Vries. [Brugger]


A teoria da ciência, finalmente, é decomposta em teoria formal e doutrina material da ciência. A primeira chamamos de lógica; a última, de teoria do conhecimento. [HESSEN]