tédio

(in. Boredom; fr. Ennui; al. Langweile; it. Noia).

Moralistas e filósofos algumas vezes insistiram no caráter cósmico e radical desse sentimento. “Sem o divertimento” — dizia Pascal — “haveria o tédio, e este nos levaria a buscar um meio mais sólido para sair dele. Mas o divertimento nos deleita e assim nos faz chegar distraídos à morte” (Pensées, 171). Shopenhauer observou que “tão logo a miséria e a dor concedem uma trégua ao homem, o tédio chega tão perto que ele necessita de um passatempo”; por isso, segundo ele, a vida oscilava continuamente entre a dor e o tédio (Die Welt, I, § 57). Com mais profundidade e antecipando o existencialismo, Leopardi via no tédio a experiência da nulidade de tudo o que é: “O que é o tédio?” — perguntava. “Nenhum mal ou dor em especial (aliás, a ideia e a natureza do tédio excluem a presença de qualquer mal ou dor), mas apenas a vida plenamente sentida, experimentada, conhecida, plenamente presente no indivíduo, ocupando-o por inteiro” (Zibaldone, VI, p. 421). Heidegger repetiu essas ideias, percebendo no tédio o sentimento que revela a totalidade das coisas existentes, em sua indiferença: “O verdadeiro tédio não é aquele provocado por um livro, por um espetáculo ou por um divertimento que nos maçam, mas o que nos invade quando ‘nos entediamos’: o tédio profundo que, como névoa silenciosa, recolhe-se nos abismos de nosso existir, comunga homens e coisas, nós com tudo o que há em torno de nós, numa singular indiferença. Esse é o tédio que revela o existente em sua totalidade” (Was ist Metaphysik?, 5a ed., 1949, p. 28). Nesse sentido, o tédio está muito próximo da náusea, de que fala Sartre, também ela experiência da indiferença das coisas em sua totalidade. Seu precedente talvez possa ser vislumbrado na melancolia (Schwermut), que, segundo Kierkegaard, é a desembocadura inevitável da vida estética. “Se perguntarmos a um melancólico qual a razão para ser assim e o que o desgosta, responderá que não sabe, que não pode explicar. Nisso consiste a infinidade da melancolia” (Entweder-Oder, em Werke, II, p. 171). Nesse sentido, melancolia é a acídia medieval (Ibid., II, 168), sendo considerada por Kierkegaard a “histeria do espírito”, o pecado fundamental, porquanto “é pecado não querer com profundidade e sentimento” (Ibid., p. 171). [Abbagnano]