(gr. hosiotes; lat. sanctitas; in. Holiness; fr. Sainteté; al. Heiligkeit; it. Santità).
Este termo tem dois significados fundamentais: 1) um objetivo, que designa a inviolabilidade e em geral um valor a ser reconhecido e salvaguardado; 2) um subjetivo, que designa o grau excelente e superior da virtude ou da religião como virtude.
No primeiro sentido chama-se de santo o que é sancionado ou garantido por uma lei humana ou divina: p. ex., a santidade das leis, do juramento, etc. No segundo sentido, é chamado de santo o ser que realiza em si a vida moral ou religiosa no seu grau mais elevado. No primeiro sentido, Platão diz “atribuir corretamente a todos o que é justo e santo” (Pol, 301 d); no segundo, ele nega que a santidade consista em “fazer coisas agradáveis aos deuses” (Eut., 6 e) e identifica a santidade com o grau supremo de virtude, que é a justiça (República, X, 6l5b; Leis, II, 663b, etc). Ainda neste segundo sentido, Tomás de Aquino identificava a santidade com a religião, isto é, com a mais alta virtude (Suma Teológica, II, 2, q. 81, a. 8), e Kant definia a santidade como “a conformidade completa da vontade à lei moral”. Assim, segundo Kant, a santidade é “uma perfeição de que não é capaz nenhum ser racional do mundo sensível em nenhum momento de sua existência”. Portanto, ela só pode ser admitida como limite do progresso infinito para a perfeição moral (Crít. R. Prática, I, II, cap. II, § 4). Por outro lado, Kant admite também a santidade no sentido objetivo, que ele define como inviolabilidade. Assim, diz que “a lei moral é santa (inviolável)” (Ibid., § 5) e que “a humanidade deve ser santa para nós em nossa pessoa” (Ibid., § 5): nesses casos, obviamente, a noção de santidade é de valor supremo, que não pode ser ignorado. Essas observações de Kant foram amplamente repetidas na filosofia moderna. [Abbagnano]
Na moderna filosofia dos valores e da religião o santo (sacro) é tido como o valor supremo, especificamente distinto dos demais valores e próprio do divino; a ele se dirige a religião. Segundo O. Otto, o santo é, antes demais nada, o “numinoso” e, como tal, é algo irracional que só pode ser caracterizado por sua ação sobre o sentimento, como mysterium tremendum e, ao mesmo tempo, fascinosum, ou seja, como força misteriosa, superpotente, ante a qual a criatura estremece de susto, mas que, por seu turno, a arrebata e beatifica. Por outro lado, para muitos teólogos a santidade parece não ser mais que a suprema bondade moral compreensível de um modo conceptualmente claro. — Ambas as concepções são unilaterais. A santidade é, primariamente, como santidade ontológica, a plenitude infinita do Ser divino, da bondade, do poder e da magnificência de Deus; é, portanto, a infinita majestade de Deus, que (em oposição à concepção irracionalista) pode ser de algum modo compreendida por nós mediante conceitos análogos, sem que por isso deixe de continuar sendo um mistério inefável, ante o qual estremecemos com profundo respeito. Santidade, em segundo lugar, designa a santidade “moral” de Deus, ou seja, a santidade de sua vontade, que essencialmente consiste no amor que Deus necessariamente abarca sua própria bondade infinita, arquétipo de toda perfeição criatural; também a santidade de Deus, assim entendida, é sempre para nós um mistério imperscrutável; o homem treme ante ela, possuído do sentimento de sua culpabilidade (Is, 6, 5), sentindo-se, não obstante, atraído irresistivelmente por sua pureza irradiante. — A santidade é atribuída às criaturas, mercê de uma especial vinculação com Deus; assim, as pessoas ou coisas são santas (sacer), na medida em que são totalmente consagradas ao serviço de Deus; as pessoas são santas (sanctus), na medida em que por sua vida moralmente perfeita estão unidas com Deus e lhe são semelhantes. — De Vries. [Brugger]