O princípio de Descartes: Eu penso, logo existo; e melhor: Eu penso, eu existo, é o primeiro axioma psicológico, ou o primeiro juízo intuitivo de existência pessoal. Pode-se enunciar assim: Um ente não existe para si mesmo a não ser enquanto o sabe ou o pensa. O sentimento ou o conhecimento do eu é a condição primeira e essencial de todo pensar.
O eu é uno, permanente, e sempre idêntico a si mesmo no tempo. Para que eu sinta a passagem de uma modificação a outra, é necessário que haja algo que permaneça, e isso que persiste, eu, é diferente do que mudou.
Todo esforço necessita um sujeito, ou uma força que o exerça, e um termo que resista. Este sujeito e este termo são essencialmente distintos um de outro pelo fato de consciência.
O sentimento imediato de um poder atuar ou de começar o movimento, é idêntico ao de meu existir.
Minha vontade é uma força motriz, ou causa eficiente dos movimentos que lhe atribuo.
Sou livre no exercício dos movimentos ou atos que procedem de mim, e coagido nas impressões que vêm de fora, ou de minha organização.
Só julgo acerca da existência de causas ou forças estranhas enquanto me sinto a mim mesmo imediatamente como causa ou força.
As impressões sob as quais sou passivo têm uma causa que não sou eu, ou que está fora de mim.
Toda qualidade que eu percebo fora de mim tem um sujeito.
O começo de todo movimento tem uma causa.
(Essai sur les fondements de la psychologie et sur ses rapports avec l’étude de la nature, parte II, seção IV, cap. IV) [Maine de Biran]