quietude

O que significa quietude? Quieto não é de maneira alguma o que não soa. Não soar é somente não estar na movimentação de entoar e soar. Mas a falta de movimentação não se limita à emissão de sons e à sua suspensão e nem deve ser assumida como repouso em sentido próprio. A falta de movimentação é somente o outro lado do repouso. A falta de movimentação está pousada sobre o repouso. O modo de ser do repouso é aquietar. Pensado rigorosamente como o aquietar do quieto, o repouso movimenta-se muito mais do que um movimento e tem muito mais movimentação do que qualquer moção.

A di-ferença aquieta ao mesmo tempo de dois modos: deixa quietas as coisas no seu fazer-se coisa, deixa quieto o mundo no seu fazer-se mundo. Assim quietos, coisa e mundo nunca recusam a di-ferença. Ao contrário. Eles a salvam na quietude e, assim fazendo, a di-ferença é ela mesma quietude.

Quando coisa e mundo estão quietos no seu próprio, a di-ferença convoca mundo e coisa para o meio de sua intimidade. A di-ferença chama. Convocando os dois para o seu rasgo, a di-ferença os recolhe desde si mesma. Convocar recolhendo é soar. No soar, acontece algo inteiramente diverso do que produzir e expandir um ruído.

Ao recolher mundo e coisa na dor simples da intimidade, a di-ferença chama os dois para vir a ser a sua essência. A di-ferença é o chamado a partir do qual se convoca todo chamar para pertencer ao seu chamado. O chamado da di-ferença já sempre recolheu em si todo chamar. A convocação que recolhe junto de si, recolhendo para si, é sonância no sentido de consonância.

A evocação e convocação da di-ferença é quietude no seu duplo sentido. O chamar recolhedor, ou seja, o chamado, tal como a diferença evoca mundo e coisa, é a consonância do quieto. A linguagem fala quando o chamado da di-ferença evoca e convoca mundo e coisa para a simplicidade de sua intimidade.

A linguagem fala como consonância do quieto. A quietude aquieta-se dando suporte ao modo de ser de mundo e coisa. Dar suporte a mundo e coisa no modo da quietude é o acontecimento apropriador da di-ferença. A linguagem, a consonância do quieto, dá-se apropriando a di-ferença. A linguagem vigora como a di-ferença que se apropria em mundo e coisa. [Heidegger – Caminho da Linguagem]