quê sou

Agostinho, geralmente considerado o primeiro a levantar a chamada questão antropológica na filosofia, sabia disso muito bem. Estabelece uma distinção entre as questões “Quem sou?” e “O que sou?”: a primeira é feita pelo homem a si próprio (“E dirigi-me a mim mesmo e disse-me: Tu, quem és tu? E respondi: Um homem” – tu, quis es? [Confissões, x. 6]), e a segunda é dirigida a Deus (“O que sou então, meu Deus? Qual é a minha natureza?” – Quid ergo sum, Deus meus? Quae natura sum? [x.17]). Pois no “grande mistério”, no grande profundum que é o homem [iv. 14], há “algo do homem [aliquid hominis] que o espírito do homem que nele está não sabe. Mas tu, Senhor, que o fizeste [fecisti eum], tudo sabes a seu respeito [eius omnia]” [x. 5]. Assim, a mais conhecida dessas frases que citei no texto, a quaestio mihi factus sum, é uma questão levantada na presença de Deus, “ante cujos olhos tornei-me uma questão para mim mesmo” (x. 33). Em resumo, a resposta à questão “Quem sou?” é simplesmente: “És um homem – seja isso o que for”; e a resposta à questão “O que sou?” só pode ser dada por Deus, que fez o homem. A questão da natureza do homem é uma questão teológica tanto quanto a questão da natureza de Deus; ambas só podem ser resolvidas dentro da estrutura de uma resposta divinamente revelada. [ArendtCH, Nota 2 Capítulo 1]