VIDE psiquiatria
O domínio da psicopatologia se estende a todo fenômeno psíquico que se possa apreender em conceitos de significação constante e com possibilidades de comunicação. Pouco importa que o mesmo fenômeno, objeto de percepção estética, avaliação ética ou interesse histórico, seja também investigado de modo psicopatológico. Trata-se de dois mundos que nada têm a ver um com o outro. De resto entre habilidade e ciência não há fronteiras definidas. Ao contrário, as fronteiras da ciência sempre mais invadem o terreno da habilidade. Mas com isso a habilidade não é suprimida. Adquire antes novos horizontes. Onde, porém, é possível ciência, sempre a preferimos à habilidade. Sempre que puder ser substituída pela ciência, desautorizamos a habilidade pessoal intuitiva, que, naturalmente, se engana muitas vezes.
O objeto da psicopatologia é o fenômeno psíquico realmente consciente. Queremos saber o que os homens vivenciam e como o fazem. Pretendemos conhecer a envergadura das realidades psíquicas. E não queremos investigar apenas as vivências humanas em si mas também as condições e causas de que dependem os nexos em que se estruturam, as relações em que se encontram, e os modos em que, de alguma maneira, se exteriorizam objetivamente. Mas nem todos os fenômenos psíquicos constituem nosso objeto. Apenas os “patológicos”. Assim como, na medicina somática, se duvida, a respeito de uma questão particular, se seu objeto é fisiológico ou patológico, e de fato a fisiologia e patologia dependem uma da outra, trabalham com os mesmos conceitos fundamentais e se entrelaçam mutuamente sem limites distintos, assim também a psicologia e a psicopatologia não estão, em princípio, separadas. Pertencem uma à outra e aprendem mutuamente uma com a outra. Não existem limites precisos entre ambas e muitas questões são tratadas igualmente por psicólogos como por psicopatologistas. Isso se deve ao fato de o conceito de doença não ser uniforme. Há vários conceitos de enfermidade e todos aqueles que, teoricamente, se pode apreender de maneira precisa, têm de admitir, quando aplicados à realidade, casos fronteiriços e transições. Não damos nenhum valor a um conceito preciso de enfermidade mental e, na escolha do material, atemo-nos sobretudo ao costume da divisão de trabalho até aqui em vigor. Não damos nenhuma importância quando se diz que muitas outras coisas também são mórbidas ou que isso ou aquilo não o é. Só na última parte é que vamos discutir o conceito de enfermidade. Já de antemão confessamos que, muitas vezes, separamos com certa arbitrariedade o material do âmbito global da psicologia à qual a psicopatologia pertence como a fisiologia patológica pertence à fisiologia. [PG]