problema da sensação

O psicólogo moderno, ao abordar a teoria peripatética da sensação, não pode deixar de se sentir um tanto desambientado, impressão que não lhe advém tão somente pelo encontro de uma técnica científica de outra época, mas ainda porque se vê diante de uma problemática bastante diferente daquela com que está acostumado. Na teoria antiga, com efeito, a preocupação que parece impor-se imediatamente é a do caráter ativo ou passivo da faculdade de conhecer, o que, desde o início, engaja-nos nas perspectivas de uma metafísica do ato e da potência, bem distante de nossas concepções atuais.

Como quer que seja, para Aristóteles a sensação aparece originariamente como uma passividade: sentir é antes de tudo padecer ou alterar-se, sendo que, nesta concepção, o princípio ativo é o objeta percebido. Tal ponto de partida manifesta claramente uma reação contra a teoria platônica do conhecimento que minimizava o papel do objeto sensível. Para o Estagirita, é a própria coisa exterior que, de algum modo, vem afetar a potência sensível: “a sensação resulta de um movimento padecido e de uma paixão”. Convém, todavia, notar que a alteração do sentido não é de modo algum redutível à alteração de uma realidade física submetida a uma ação corrosiva. A potência de conhecer, ao menos quando se trata de sensações normais, não é de modo algum deteriorada no seu comportamento passivo, nele encontrando mesmo seu aperfeiçoamento autêntico; a recepção da forma tem aqui um caráter muito particular: dir-se-á que o sentido é aquilo que é capaz de receber a forma sem a matéria. Teremos ocasião de ver como Tomás de Aquino soube tirar proveito desta ideia. Basta agora reter que, para seu mestre, a sensação é sobretudo caracterizada pela passividade. [Gardeil]