As tentativas muitas vezes ensaiadas para achar uma resposta sistemática ao «problema da indução» dentro da estrutura de uma teoria da probabilidade não foram, de maneira geral, consideradas como coroadas de êxito. O processo da indução tem sido usualmente concebido como a procura de relações mais ou menos estáveis e essenciais entre propriedades de objetos; e tem-se considerado o problema da indução como a descoberta de um princípio (o princípio da indução) que haveria de «justificar» as várias conclusões daquele processo. Posto nestes termos, é muito difícil saber de que modo o «problema» pode ser concebido em termos empíricos. A uma primeira aproximação, o «problema» parece implicar uma vã e infinita regressão; na verdade, o calcanhar de Aquiles das soluções tentadas tem habitualmente sido a natureza do princípio de indução proposto: como há-de justificar-se o próprio princípio? É relativamente pequeno o número de diferentes tipos de resposta que se têm dado a esta última questão; entre elas contam-se as seguintes: o princípio indutivo é uma proposição sintética a priori relativa à natureza das coisas em geral, é uma proposição a priori relativa à constituição fundamental do espírito humano, é uma generalização a partir da experiência e é um «pressuposto» ou «postulado» do processo científico. Levaria muito tempo examinar estas respostas em pormenor. É talvez suficiente notar que as duas primeiras implicam posições incompatíveis com as conclusões da moderna investigação lógica; que a terceira comete um petitio principii; e que a quarta, admitindo que tenha um sentido claro, não pode fornecer uma «justificação» do proposto princípio indutivo do processo da ciência ou das suas conclusões, pois que, de acordo com esta resposta, o princípio é simplesmente um instrumento do processo científico. A posição perfilhada na presente monografia é que não tem de exigir-se nenhum princípio prévio para justificar o processo da ciência, que a única justificação deste processo reside nas soluções específicas que ele oferece aos problemas que suscita e que um problema geral da indução, na sua formulação corrente, não existe. Uma vez que se verificou que a noção de probabilidade das teorias […] envolve sérias dificuldades, e desde que se afirmou que o grau de confirmação para uma teoria indica a que ponto a teoria foi comprovada pelo processo da ciência, o problema da indução que o autor considera genuíno é a formulação dos caracteres gerais do método científico, do método que, em suma, conduz a um número proporcionalmente maior de conclusões frutuosas de pesquisa do que aquelas que quaisquer outros métodos têm a seu favor.
[Ernest Nagel, Principles of the Theory of Probability, 3.a ed., 1946, p. 73.]