princípio de finalidade

Por princípio de finalidade costuma entender-se, na filosofia escolástica, a proposição que diz: toda operação é dirigida a um fim (omne agens agit propler finem); e, por vezes, também esta outra, conexa com a primeira, mas não de sentido equivalente: urna tendencia natural não pode ser vã (impossibile est desiderium naturale esse vanum). Para distingui-las, chamaremos a primeira princípio de apetição do fim, e a segunda principio de infrustrabilidade do fim. Como princípios do conhecimento (princípios do conhecimento), revestidos de alcance metafísico, nenhum dos dois princípios pode encontrar sua fundamentação na experiencia da finalidade, mas unicamente na intelecção apriorística da essência. O princípio de apetição do fim entende-se facilmente, referindo-o a toda operação resultante da reflexão racional (importa, porém, observar, que para a operação de Deus, não existe um fim que deva ser alcançado, mas a própria bondade divina constitui seu motivo [criação]). Mas também uma operação, que não provenha de modo imediato da reflexão racional, é, em derradeira instância, teleologicamente determinada, visto proceder de um apetite natural, instinto no ser natural como força que impele a uma determinada operação e que, em última instância, só tem sua explicação na mente do Criador que estabelece os fins.

O princípio de infrustrabilidade do fim diz, além disso, que o fim do apetite natural é também alcançável; pois tal apetite seria “destituído de sentido”, se se dirigisse a um fim inteiramente impossível ou se à natureza das próprias coisas faltassem as disposições indispensáveis para a consecução de dito fim. Isto não exclui uma frustração do apetite em casos particulares, devida, p. ex., a forças contra-operantes e, por sua parte, também dirigidas teleologicamente; mais ainda, tal frustração é, não raro, necessária, em vista de fins superiores. Nos apetites naturais subordinados, os casos de malogro do fim imediato podem mesmo ser numerosos (pense-se, por exemplo, no número relativamente diminuto de sementes que chegam a se desenvolver). Discute-se se o princípio de infrustrabilidade do fim é um “princípio” no sentido de uma proposição imediata ou quase imediatamente inteligível. Em todo caso, ele encontra sua fundamentação na sabedoria do Criador. — De Vries. [Brugger]


O estudo da causalidade na natureza já forneceu a ocasião de abordar a noção de finalidade. Mas é aqui que convém encarar esta noção em toda sua universalidade. A causa final, acabamos de dizer, só pode corresponder a um bem, e, inversamente, todo bem é um fim. Do ponto de vista da atividade ou do ser em tendência, todo agente age portanto em vista de um fim, o que é a própria fórmula do princípio dito de finalidade:

Omne agens agit propter finem.

Diversas justificações, em planos diferentes, podem ser dadas deste princípio. Mas a razão metafísica mais profunda da necessidade de um fim para toda ação se encontra no fato de que um agente, que do ponto de vista de sua atividade está em potência, carece para agir, de ser determinado. Ele agirá somente se for determinado a alguma coisa de certo que tenha função de fim.

“Si enim agens non esset determinatum ad aliquem affectum, non magis ageret hoc quam illud. Ad hoc ergo quod determinatum effectum producat, necesse est quod determinetur ad aliquid certum, quod habet rationem finis”.
Ia IIae, q. 1, a. 2

No fundo, é ainda a doutrina fundamental da ordenação essencial da potência ao ato — ou da determinação daquela a partir deste — que entra em jogo

Restaria mostrar, como o faz Tomás de Aquino no artigo que acabamos de citar, que esse princípio se aplica analogicamente Um é o exercício da finalidade na natureza inanimada, que é essencialmente movida rumo a um fim, e outro nos seres racionais que se movem a si mesmos na direção de um fim que conhecem. E é ainda outra coisa na medida em que se vê transposto na própria atividade divina. [Gardeil]