Para compreender, portanto, uma proposição como esta: A Nação Romântica é um Princípio Anímico, basta associar a ideia de Nação às vivências do Inconsciente. A oposição entre Espírito e Alma nasceu com o movimento Sturn und Drang, embora nem sempre fosse explícita, embora muitas vezes fosse confusa, e a palavra Espírito englobasse também, frequentemente, o significado de Alma. Posteriormente essa distinção se tornou clara, vindo Ludwig Klages, em sua obra, a opor o Espírito e a Alma, como dois polos em luta. [NOTA: Sobre os diferentes significados da palavra Espírito (Geist) e suas implicações psicológicas, vide C. G. Jung, Symbolik des Getetes, Zürich, 1948; obra escrita com a colaboração de Riwkaf Schärf, na parte referente ao significado de “Satan”. Ludwig Klages, que foi um dos últimos românticos, explicitou a oposição entre Espírito e Alma, em sua obra Der Geist als Widersacher der Seele, três volumes publicados em Leipzig, de 1929 a 1932.]
Princípio anímico significa princípio irracional e vital; os românticos, como Herder, como Schleiermacher e Fries sempre acreditaram no poder cognoscitivo do sentimento e do pressentimento. Faculdades noturnas que se opõem à razão diurna; esta oposição é o tema essencial de Görres e Novalis.
Se, na teoria da ordem social, tomamos a palavra Espírito, não no seu sentido mais amplo, e sim no sentido de faculdade puramente racional, de faculdade científica e organizatória, então a Alma se lhe opõe como princípio de vida, como força da solidariedade tribal e não da solidariedade contratualista e premeditada. O Espírito é racionalização, esquematização e técnica, mas a Alma são as forças cósmicas, obscuras, a fonte das energias irrefreáveis. A luta entre o Romantismo e a Ilustração foi essa luta entre a Alma e o Espírito. Em todas as obras românticas encontramos a repercussão dessa antítese. Na sociologia, por exemplo, a oposição entre Comunidade e Sociedade, a Comunidade fundada no sangue e na Alma, a Sociedade na razão e no Espírito. A oposição entre Cultura e Civilização em Oswald Spengler é a oposição entre Alma e Espírito. — A volta ao noturno, ao passional, ao voluntarioso, ao primordial, ao mítico, ao pré-consciente, ao que está cheio de vida, ao princípio materno, ao histórico, ao legendário, são as motivações da literatura romântica. Disto decorre a tese de que o Espírito, como razão científica, apreende o ser falsificando-o, paralisando o fluxo vivente, solidificando e estratificando o ritmo cósmico. A verdadeira volta à Natureza é a volta à Alma, por oposição ao Espírito.
E era justo afinal que os românticos pusessem como base das doutrinas do Volk, da comunidade e da Nação, este princípio anímico: É que a crença, a fé, a Weltanschauung, o Mito, a Música, a Poesia não são racionalmente demonstráveis. Irrompem dos arcanos do Inconsciente como Valores absolutos, como os únicos valores que realmente valem. Os valores são emocionais: Não podem ser apreendidos por nenhuma faculdade racional, mas só e unicamente pela intuição anímica [Max Scheler demonstrou, ao longo de toda sua obra, que os Valores são objeto de um sentir intencional originário.]. Os valores podem ser imutáveis e eternos, porém o Volk, ou a personalidade que os exprime, são receptáculos duma particular captação dos Valores, isto é, duma cosmo–visão originária, que coincide, no Volk, com a sua particular missão no mundo. Assim os Valores, mesmo eternos, assumem características particulares em cada cosmo–visão originária. [Barbuy]