(in. Positivism; fr. Positivisme; al. Positivismus; it. Positivismo).
Este termo foi empregado pela primeira vez por Saint-Simon, para designar o método exato das ciências e sua extensão para a filosofia (De la religion Saint-Simonienne, 1830, p. 3). Foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e, graças a ele, passou a designar uma grande corrente filosófica que, na segunda metade do séc. XIX, teve numerosíssimas e variadas manifestações em todos os países do mundo ocidental. A característica do positivismo é a romantização da ciência, sua devoção como único guia da vida individual e social do homem, único conhecimento, única moral, única religião possível. Como Romantismo em ciência, o positivismo acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da organização técnico-industrial da sociedade moderna e expressa a exaltação otimista que acompanhou a origem do industrialismo. É possível distinguir duas formas históricas fundamentais do positivismo: o positivismo social de Saint-Simon, Comte e John Stuart Mill, nascido da exigência de constituir a ciência como fundamento de uma nova ordenação social e religiosa unitária; e o positivismo evolucionista de Spencer, que estende a todo o universo o conceito de progresso e procura impô-lo a todos os ramos da ciência (para o positivismo evolucionista, v. evolucionismo). As teses fundamentais do positivismo são as seguintes:
1) A ciência é o único conhecimento possível, e o método da ciência é o único válido: portanto, o recurso a causas ou princípios não acessíveis ao método da ciência não dá origem a conhecimentos; a metafísica, que recorre a tal método, não tem nenhum valor.
2) O método da ciência é puramente descritivo, no sentido de descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre os fatos expressos pelas leis, que permitem a previsão dos próprios fatos (Comte); ou no sentido de mostrar a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples (Spencer).
3a O método da ciência, por ser o único válido, deve ser estendido a todos os campos de indagação e da atividade humana; toda a vida humana, individual ou social, deve ser guiada por ele.
O positivismo presidiu à primeira participação ativa da ciência moderna na organização social e constitui até hoje uma das alternativas fundamentais em termos de conceito filosófico, mesmo depois de abandonadas as ilusões totalitárias do positivismo romântico, expressas na pretensão de absorver na ciência qualquer manifestação humana. [Abbagnano]
A doutrina filosófica de Augusto Comte e seus discípulos. Por extensão, tendência dos espíritos hostis à metafísica e desejosos de basear o conhecimento unicamente nos fatos. — O positivismo, formulado por Augusto Comte, apresenta-se como uma filosofia das ciências, uma política e uma religião: a primeira é conhecida por querer substituir a explicação “teológica” por uma causalidade transcendente ou a explicação “metafísica” por um simples conceito (a papoula faz dormir porque tem uma “virtude dormitiva”), uma explicação positiva pela “lei”; a política positivista visa instaurar uma ordem social adaptada à “idade industrial”, onde o poder espiritual distingue-se do político, onde a classe especulativa (sábios, artistas, filósofos) acha-se oposta à classe ativa (comerciantes, industriais, agricultores); finalmente, a religião positiva não tem por objeto um Deus transcendente e inacessível, mas é a religião da Humanidade. No Brasil, essa religião obteve um extraordinário sucesso, devido ao fato de ter o ministro brasileiro Benjamin Constant tentado organizar aqui o ensino segundo os princípios de Comte. O governo brasileiro chegou a declarar, no início da Primeira Guerra Mundial, que “se os princípios do positivismo tivessem sido melhor conhecidos na Europa, a guerra não teria rebentado”. (V. classificação das ciências, lei dos três estados) [Larousse]
O positivismo exige de toda ciência não só que parta de fatos tomados no sentido de objetos perceptíveis, como também que se limite a comprová-los e a uni-los por leis. O positivismo na filosofia moderna foi fundado por Hume, mas seu principal representante é Augusto Comte. Segundo ele, todas as ciências devem percorrer três fases de evolução: a teológica, que explica os acontecimentos pelo influxo supra-sensível de deuses ou de Deus; a metafísica, que trabalha com conceitos essenciais universais e com forças da natureza; por último, a positiva, que se limita a descrever os fatos e sua legitimidade (lei dos três estados). A filosofia não é mais do que a reunião das ciências positivas — Segundo o neopositivismo (positivismo lógico) Círculo de Viena), só é compreensível e possui sentido aquilo que pode comprovar-se pela experiência. Consequentemente, todos os assertos metafísicos carecem de sentido. O mesmo, se diga dos valores (valor) e normas. Apreciações são apenas a expressão dos sentimentos. Da mesma forma, a tarefa da filosofia, consoante a filosofia analítica, não consiste em descobrir, ao lado das ciências conhecimentos novos, que ultrapassam o âmbito científico, mas, sim mostrar, pela análise da linguagem, que as questões ou fórmulas metafísicas são desprovidas de sentido, porque baseadas em equívocos da lógica da linguagem.
Importa distinguir entre o positivismo como doutrina, que reduz o real ao experimental, e o método positivista, tal como é expresso por muitos cultores da moderna ciência natural. Segundo eles, só são imediatamente providos de sentido os enunciados que se referem de maneira imediata a nossas vivências sensoriais, nos quais se inclui implicitamente também a esperança de futuras vivências sensoriais, tal como é expressa nas leis naturais. Qualquer outro enunciado só adquire significação pelo fato de, em virtude de fixações terminológicas, ser equivalente a enunciados providos imediatamente de sentido. Contra esta auto-limitação metódica da ciência natural nada há que objetar, porque a superação de tais limites só é possível, de fato, sob pressuposições metafísicas tácitas. Mas se esta fixação metódica for apregoada obrigatória para toda ciência e, por esse meio, arvorada em doutrina positivista, então ela a si mesma se destrói. Porque a afirmação de que só comportam sentido os enunciados que exprimem imediatamente vivências sensoriais ou mediatamente lhes são equivalentes, ou é puro convênio terminológico não obrigatório ou é um enunciado revestido de significação. No segundo caso, deveria mostrar-se a vivência sensorial, de que ele deve ser a expressão, o que é impossível. Por conseguinte, o positivismo como doutrina só tem foros de possibilidade com a condição de sua afirmação fundamental se contradizer a si mesma; por outras palavras, é impossível. — Sobre o positivismo jurídico. — direito natural. — Brugger.
No seu sentido mais restrito e de acordo com o seu significado histórico, positivismo designa a doutrina e a escola fundadas por Auguste Comte. Esta doutrina compreende não só uma teoria da ciência, mas também, e muito especialmente, uma reforma da sociedade e uma religião. Como teoria do saber, o positivismo nega-se a admitir outra realidade que não sejam os fatos e a investigar outra coisa que não sejam as relações entre os fatos. Pelo menos no que se refere à explicação, o positivismo sublinha decididamente o como e evita responder ao quê, ao porquê e ao para e ao para quê. Junta-se a isso, naturalmente, uma decidida aversão à metafísica e isso a um extremo tal que, por vezes, se considerou que este traço carateriza insuperavelmente a tendência positivista.. Mas o positivismo rejeita não só o conhecimento metafísico e qualquer conhecimento a priori, mas também qualquer pretensão a uma intuição direta do inteligível. O positivismo pretende ao dado e nunca sair do dado. Disto derivam várias caraterísticas: hostilidade a qualquer construção e dedução; hostilidade à sistematização; redução da filosofia aos resultados da ciência e, finalmente, naturalismo.
No nosso século, chamou-se positivismo lógico à tentativa de unir a submissão ao puramente empírico com os recursos da lógica formal simbólica. Outras caraterísticas deste movimento são estas: a ideia da filosofia como um sistema de atos e não como um conjunto de proposições – a tendência anti-metafísica, mas não por considerar as proposições metafísicas como falsas, mas por considerá-las sem significação e contrárias às regras da sintaxe lógica; e o desenvolvimento da doutrina da verificação. [Ferrater]