passividade e atividade dos sentidos

Tomás de Aquino retomou fundamentalmente a doutrina precedente: “Est autem sensus quaedam potentia passiva quae nata est immutari ab exteriori sensibili” (Ia Pa, q. 78, a. 3); “scientia consistit in moveri et pati; est enim sensus in actu quaedam alteratio, quod autem alteratur patitur et movetur” (De Anima, II, 1-10).

A sensação é, portanto, o resultado de uma ação de um objeto sobre o sentido que, por este motivo, deve ser considerado como uma potência passiva. É preciso concluir que seja apenas isto? Não se fala também em atividade para os sentidos? Tomás de Aquino não o desconheceu. Muitas vezes, na sensação, parece dar um papel bastante ativo à faculdade de conhecer: “a visão mesma, considerada em sua realidade, não é uma paixão corporal, mas tem como causa principal a potência da alma” (De Sensu, 1-4). Como conciliar estes dois pontos de vista? Reconhecendo dois momentos no processo da sensação: um passivo, no qual o sentido é informado ou determinado pelo objeto exterior; o outro ativo, constituindo o ato mesmo de conhecer, no qual a potência informada se determina. Os comentadores adotaram esta explicação que tem por consequência acentuar, talvez mais que em Aristóteles, o caráter ativo da sensação. Inicial e fundamentalmente, porém, esta operação continua sendo uma passividade. Tomás de Aquino preocupou-se igualmente em precisar a natureza especial desta passividade que, como vimos, não deve ser confundida com a da matéria. Diz Tomás de Aquino (Ia Pa, q. 78, a. 3) que para um sujeito receptor existem dois modos de ser afetado: conforme uma modificação de ordem natural, immutatio naturalis, e conforme uma modificação de ordem psíquica, immutatio spiritualis; no primeiro caso, a forma é recebida no sujeito transformado conforme seu “ser de natureza”; no segundo caso, conforme seu “ser intencional” ou objetivo. Na sensação, ambas as transformações podem ser encontradas, mas a atividade psíquica de percepção é determinada, de modo próprio e imediato, pela modificação espiritual que constitui este tipo original de passividade que é característica do conhecimento.

Observamos que, para os antigos, as duas passividades encontravam-se associadas na atividade dos sentidos inferiores, tacto e gosto, onde o órgão aparecia efetivamente alterado: a mão que toca um objeto quente esquenta-se fisicamente, enquanto o sentido do tacto percebe psiquicamente o calor; o olfato e o ouvido comportavam modificações físicas apenas por parte do objeto, como o sino que vibra, por exemplo; quanto à vista, pensava-se que fosse pura recepção intencional sem modificação física, nem do órgão, nem do objeto. Atualmente, uma observação mais precisa permitir-nos-ia discernir, em todos os casos, uma alteração orgânica do sujeito. [Gardeil]