A palavra humana se apoia na linguagem, que é composta de palavras que se referem a coisas e que são como signos destas. A esse respeito, a palavra aparece como um instrumento, como meio, ao conferir um nome a algo que já está aí, de ter poder sobre ele, de poder manejá-lo simbolicamente. Mas, qualquer que seja o modo como a conceptualizemos, esta função instrumental da palavra repousa sobre um fundamento fenomenológico. Este é duplo. Por um lado, a palavra que designa a coisa – quer se trate de um signo oral ou visual – deve mostrar-se, ainda que no curso da linguagem corrente não prestemos atenção à própria palavra, mas somente à coisa [306] que ela designa. É esta coisa, por outro lado, que deve aparecer também, e tão mais ostensivamente quanto é a ela que a palavra visa. Assim, a palavra não pode dizer a coisa sem que a dê a ver. Na verdade, o que a palavra dá a ver não é somente a coisa de que fala, mas também o que diz dela, o conjunto das propriedades ou dos predicados que lhe atribui. (Michel Henry, MHSV)