(in. Optimism; fr. Optimisme; al. Optimismus; it. Ottimismo).
Este termo começou a difundir-se na cultura europeia durante as discussões filosóficas sobre a ordem e a bondade do mundo suscitadas pelo terremoto de Lisboa, em 1755. Num Poema sobre o terremoto de Lisboa (1755), Voltaire combatera a máxima “tudo está bem”, considerando-a um insulto às dores da vida; alguns anos depois, no romance Cândido ou o otimismo (1759), fizera uma sátira feroz a essa máxima e à atitude que ela implica. O otimismo, porém, tinha outros defensores, entre os quais Kant, que no mesmo ano de 1759 publicou um opúsculo intitulado “Ensaios de algumas considerações sobre o otimismo” (Versuch einiger Betrachtungen überden Optimismus) (que depois repudiou), em que defendia a bondade do mundo com base na tese leibniziana de que “quando Deus faz uma escolha, escolhe sempre o melhor”. Como dizia Voltaire, o otimismo outra coisa não é senão a teoria do finalismo universal. Assim, em seu romance, o Doutor Pangloss, mestre de “metafísico-teólogo-cosmolonigologia” diz: “Está demonstrado que as coisas não podem ser de outra maneira: visto que tudo foi feito para um fim, tudo se dirige necessariamente ao melhor fim. Notai que o nariz foi feito para suportar lentes e por isso usamos lentes”. Leibniz dissera que “Deus escolheu o mundo mais perfeito, ou seja, o mais simples em hipóteses e ao mesmo tempo o mais rico em fenômenos” (Disc. de mét. § 6), e que, “se no mundo não houvesse o mínimo mal, não seria mais o mundo que, depois de tudo considerado e somado, foi julgado o melhor pelo criador que o escolheu” ( Théod., 1,9). Isto pode ser expresso pela frase com que Cândido constantemente conclui suas infelizes peripécias (“Vivemos no melhor dos mundos possíveis”), que se tornou a expressão popular do otimismo. O otimismo é característico das doutrinas que admitem o finalismo universal, especialmente: 1) as doutrinas espiritualistas de fundo teológico, tais como a metafísica aristotélica e a escolástica, o leibnizianismo e as formas modernas e contemporâneas do consciencialismo espiritualista; 2) das doutrinas idealistas (no sentido romântico do termo), que compartilham o princípio da coincidência entre realidade e racionalidade (expresso por Voltaire com a frase “as coisas não podem ser de outro modo”), tipificadas pela doutrina de Hegel. O oposto do otimismo não é o pessimismo, que, na formulação de Schopenhauer, apesar de apregoar que “a vida é dor”, julga que o mundo está organizado com vistas à melhor ordem (Die Welt, I, § 28), mas sim a negação do finalismo, com o reconhecimento do caráter imperfeito, acidental e problemático das ordens observáveis no universo. [Abbagnano]
atitude ou doutrina segundo a qual a soma de bens no mundo ultrapassa a dos males (Leibniz). — Mais especificamente, o otimismo é a crença na bondade natural do homem (Rousseau), a fé no progresso do gênero humano e da civilização (os enciclopedistas do século XVIII). O otimismo é uma forma de coragem e de caráter que consiste em pensar que nem tudo está perdido, que nosso trabalho cotidiano é útil, que o mundo é perfectível e que podemos concorrer para o seu progresso. Nessa qualidade, o otimismo é o fermento indispensável de todas as formas da atividade humana e mesmo o princípio primeiro de toda moral: o homem não agiria se pensasse que sua ação fosse necessariamente inútil, que o outro fosse necessariamente mau etc. No fundo, o otimismo é apenas uma retomada consciente do movimento original da vida, que é um movimento criador e progressivo. [Larousse]
Em sentido psicológico (1), é aquela disposição de ânimo que propende para ver tudo pelo lado bom. Em sentido metafísico, denomina-se otimismo a doutrina, segundo a qual o mundo existente, como expressão necessária da sabedoria e da bondade de Deus, é o melhor de todos os mundos possíveis (2) (Leibniz, iluminismo), ou também a doutrina de que tudo quanto há no mundo é fundamentalmente bom e de que o mal consiste apenas na finitude do ente (3) (estoicos, Spinoza). A doutrina escolástica pode ser qualificada de otimismo moderado (4); segundo ela o ente tem em si valor, e o mal, que não é mera diminuição de um bem, mas o não-ser do que deve-ser, é, no entanto, guiado pela sabedoria e bondade de Deus, embora nem sempre nos seja dado penetrar seus desígnios em casos particulares ( Teodiceia). — O otimismo cultural (Lessing, Herder, Fichte, Hegel, marxismo) conta com uma suposta evolução contínua da humanidade e de sua cultura para estádios mais elevados: o mal físico e até o mal moral é somente uma transição necessária, que será absorvida num bem superior. — O otimismo (2), em sua forma mais radical, ignora que o infinito nunca pode encontrar no finito sua expressão absolutamente necessária. O mundo saiu, sem dúvida, da sabedoria e bondade infinitas, mas apesar disso não é o melhor, porque o finito por natureza não permite nenhum máximo, pelo contrário pode ser superado em cada fase de sua realização. O mal não é mera limitação, mas deficiência. Nem o autor do mal moral pode justificá-lo, apelando para as consequências boas necessárias do mesmo. — Brugger.