númeno

(gr. noumenon; in. Noumenon; fr. Noumène; al. Noumenon; it. Noumenó).

Este termo foi introduzido por Kant para indicar o objeto do conhecimento intelectual puro, que é a coisa em si . Na dissertação de 1770, Kant diz: “O objeto da sensibilidade é o sensível; o que nada contém que não possa ser conhecido pela inteligência é o inteligível. O primeiro era chamado de fenômeno pelas escolas dos antigos; o segundo, de númeno” (De mundi sensibilis, etc, § 3). Na realidade, a palavra númeno às vezes é usada pelos filósofos gregos, não em contraposição a fenômeno, mas a sensível, como em Platão: “Se intelecção e opinião verdadeira são duas coisas diferentes, então sem dúvida existirão entes que, conquanto não sejam sensíveis para nós, são apenas pensados” (Tim., 51 d); algumas vezes é usada em contraposição ao objeto diretamente apreensível, como nos estoicos: “A compreensão se produz com a sensação — e então é compreensão de coisas brancas, pretas, ásperas ou lisas — ou com o raciocínio — e então é compreensão de nexos demonstrativos, como quando se demonstra que os deuses existem e que exercem a providência. Das coisas pensadas, algumas são pensadas segundo a ocasião, outras segundo a semelhança, outras segundo a composição e outras segundo contrariedades” (Dióg. L., VII, 52). É mais frequente nos antigos (sobretudo em Platão, em Aristóteles e nos neoplatônicos) o uso do termo inteligível (noetos), não em contraposição a fenômeno, mas a sensível (cf., p. ex., Aristóteles, Et. Nic, X, 4, 11 74 b34). [Abbagnano]


O termo númeno significa “aquilo que é pensado”. Como “ser pensado” entende-se no sentido de “aquilo que é pensado por meio da razão”; costuma equiparar-se númeno a inteligível. O mundo dos númenos é, pois, o mundo inteligível contraposto desde Platão ao mundo sensível ou mundo dos fenômenos.

númeno é um vocábulo técnico na filosofia de Kant. Este distingue, por vezes, o númeno do númeno negativo: “se por númeno – escreve Kant – queremos dizer uma coisa enquanto não é um objeto da nossa intuição sensível, e abstraída da nossa maneira de o intuir, trata-se de um númeno no sentido negativo da palavra. Mas se entendermos por númeno o objeto de uma intuição não sensível, pressupomos com isto uma maneira especial de intuição, isto é, a intuição intelectual que não possuímos e da qual não podemos entender nem sequer a sua possibilidade. Seria isto o númeno no sentido positivo da palavra” (Crítica da Razão Pura, I, segunda parte, primeira divisão, segundo livro, terceiro capítulo). Neste caso, o significado de númeno positivo e de coisa em si são equivalentes, ambos designam, em geral, aquilo que está fora do âmbito da experiência possível.

Para a interpretação da filosofia de Kant, é fundamental determinar o caráter da noção de númeno. Se a considerarmos como um mero conceitolimite, a teoria do conhecimento de Kant adquire um forte tom fenomenista; se, pelo contrário, se destacar a sua importância, a teoria do conhecimento de Kant inclina-se acentuadamente para o idealismo. [Ferrater]