(in. Normal; fr. Normal; al. Normal; it. Normale).
1. Aquilo que está em conformidade com a norma.
2. Aquilo que está em conformidade com um hábito, com um costume, com uma média aproximada ou matemática, ou com o equilíbrio físico ou psíquico. Neste sentido, diz-se, p. ex., “levar vida normal”, para dizer uma vida segundo os costumes de certo grupo social, ou “tem peso normal” ou ” altura normal”, para dizer que tem peso ou altura correspondentes à média dos indivíduos da mesma idade, raça, etc, ou ” mente normal”, “um organismo normal”, para indicar a boa saúde mental ou física. Este uso do termo não é completamente impróprio porque, embora as normas às quais se refere sejam obtidas de generalizações empíricas, são empregadas como critério de juízo e estabelecem uma “normalidade”. [Abbagnano]
(do lat. norma, esquadria formada por duas peças perpendiculares).
conforme a regra. — A noção de “indivíduo normal” tem geralmente um sentido social. É o indivíduo cujo tamanho e tipo correspondem às estatísticas de seu país (um norte-americano de tamanho normal será anormalmente grande na Itália), cujo espírito reflete, além disso, todos os preconceitos sociais e os hábitos psicológicos de seu grupo. Nesse sentido, a educação anglo-saxônica preocupa-se mais em educar socialmente os indivíduos para fazer deles “bons ingleses” ou bons “norte-americanos”, indivíduos, em suma, socialmente “normais”, do que em ensinar conhecimentos. Essa investigação sobre o indivíduo normal, no sentido do “tipo médio exposto pelo recenseamento estatístico”, opõe-se ao tipo normal no sentido ideal, de norma, de protótipo, de forma perfeita: “a ordem normal das coisas requer a paz entre as sociedades; a justiça entre os cidadãos”. A noção de “normal” é, assim, fundamentalmente ambígua: oscila entre o conceito estatístico de “tipo médio” e o conceito normativo de “tipo ideal”; na medicina, por exemplo, o homem “normal” é o indivíduo perfeitamente são; esse indivíduo, entretanto, não existe, de um ponto de vista rigoroso, e “normalmente” todos os indivíduos encontram dificuldades biológicas de adaptação no decurso de sua vida. (V. O conhecimento da vida, de M. Ganguilhem.) (V. patológico.) [Larousse]
O que é conforme à norma. “Anormal” não deve ser confundido com “anormal” (a privativo e nomos, lei), apesar de uma parcial congruência do sentido.
Normal, portanto, no sentido próprio, é tudo o que é conforme à sua própria ideia do bem, ficando assim “normal” sinônimo de bom, justo e direito. Como a norma não é sempre uma regra abstrata, normal também pode significar a conformidade de um indivíduo com a ideia da sua espécie, que representa para ele a norma e o ideal ao qual aspira, não obstante tratar-se aqui de uma norma, que só empiricamente pode ser conhecida, cujo valor a priori só é presuntivo. Daí logicamente deduz-se o amplo emprego que se faz do termo na língua médica e, geralmente, na descrição de fenômenos patológicos. Contudo aqui se acha a raiz de um uso muito impróprio e superficial da palavra e que, particularmente, se afasta da acepção filosófica do termo. Pois normal, agora, se considera tudo o que é observado com uma mais ou menos pronunciada regularidade, originalmente partindo da representação ingênua, para em vista dessa regularidade, poder-se estabelecer um traço específico, mas ultimamente até sem essa justificativa. De maneira que um fato, encontrado com frequência, já por isso é chamado normal, ainda que seja patológico ou por qualquer outra razão perfeitamente anormal. Assim se fala de um certo número normal de suicídios, ou se diz normal que para aumentar a produção, os industriais tratem por todos os meios de incrementar o consumo. Entre esses extremos de normal = justo e normal = habitual ou costumeiro, ainda há uma série de acepções semantologicamente intermediárias. Com aplicação à sociologia, Durkheim estabelece: “Um fato social é normal para um determinado tipo social, considerado sob uma fase determinada e seus desenvolvimentos, quando ele se produz na média das sociedades dessa espécie, consideradas em fase análoga de evolução”. Aqui se mostra o valor a priori do normal, justificado como tal, pelo caráter específico que se tornou tão fraco que é preciso recorrer a um valor emprestado da “média” para poder proclamar um fato como normal.
Também a média, em sua acepção puramente quantitativa, pode motivar a atribuição do caráter normal de alguma coisa. Neste sentido fala-se, por exemplo, da temperatura normal, que é a média observada a uma mesma data durante anos de experiência. Na vida econômica fala-se da “ação normal” de um certo grupo industrial, o que significa a ação ou o procedimento que se deve esperar desse grupo sob determinadas condições. [MFSDIC]