Musa

Invocada pelo poeta no começo de um canto, a Musa deve dar a conhecer os acontecimentos do passado. A palavra do poeta tal e como se desenvolve na atividade poética é solidária de duas noções complementares: a Musa e a Memória. Estas duas potências religiosas desenham a configuração geral que confere à Aletheia poética sua significação geral e profunda.

Qual é o significado da Musa? Qual é a função da Memória? Frequentemente se notou no panteão grego a presença de divindades que levam o nome de sentimentos, paixões, atitudes mentais, qualidades intelectuais, etc.. Moûsa é uma dessas potências religiosas que sobrepassam ao homem “no mesmo momento em que este sente interiormente sua presença”. Com efeito pela mesma razão que a metis, faculdade intelectual, responde a Metis, esposa de Zeus, e themis, que é a noção social, responde à Themis, outra esposa de Zeus, um número comum mousa corresponde, no plano profano, à Musa do panteão grego. Numerosos testemunhos da época clássica nos permitem pensar que a mousa, em sua acepção não vulgar, quer dizer a palavra cantada, a palavra ritmada. Este duplo valor de mousanome comum e força divina — deixa-se captar em um discurso antgo (palaios logos) transmitido por Fílon de Alexandria. [Marcel Detienne, Os mestres da verdade na Grécia arcaica]