moção da vontade

Na ordem da especificação, como acabamos de ver, a vontade é determinada’ ela inteligência, mas na ordem da eficiência ou do exercício, é a vontade que move a inteligência e, mais universalmente, encontra-se no princípio da atividade de todas as outras faculdades (Cf. Ia Pª, q. 82, a. 4).

A razão é que em todo sistema de potências ordenadas, aquela que tem por objeto o bem universal é motora das potências que só se relacionam com bens particulares. Assim, para tomar o exemplo aqui proposto, o rei que cuida do bem de todo o reino põe em movimento, por meio de suas ordens, cada um dos que estão prepostos nas diversas cidades. Ora, a vontade tem por objeto o bem e o fim considerados universalmente, enquanto as outras potências visam só os bens que lhes são próprios. A vontade, portanto, de si, e a experiência o confirma, põe em movimento as outras potências.

Em primeiro lugar, e de modo imediato, este impulso se exerce sobre a inteligência e sobre seus atos. Considerando-se o bem universal, o verdadeiro aparecê somente como um bem particular, o bem da inteligência. Assim, a vontade utiliza a inteligência para seus fins: é o que se produz, nós o vimos, no ato humano onde, sob a pressão da intenção do fim, a inteligência põe-se em busca dos meios próprios que podem trazer o fim, julga sobre qual deva ser preferido.

Com o concurso do juízo imperativo da inteligência, “imperium”, a vontade põe então em movimento as potências de conhecimento sensível, de apetência e de motricidade, cuja intervenção pode ser requerida nas condições da ação. Este poder da vontade sobre as outras faculdades não será sempre absoluto, podendo outros fatores intervir. Assim, sobre os sentidos internos ou as paixões, que estão submetidas a influências corporais, a vontade não tem mais que um poder político.

Um lugar à parte, entre os componentes da atividade voluntária, deve ser dado ao acompanhamento passional sensível. Nossa vontade mesma é a sede dos sentimentos espirituais puros, tais como o amor de Deus, ou a paixão da verdade. Mas, assim como nossa vida intelectual é estreitamente solidária com nossa atividade de conhecimento sensível, também nossa vontade está ligada à sensibilidade até em seus atos mais elevados. Ao moralista compete determinar, com precisão, as leis de ação e de reação dos dois poderes e suas consequências para a conduta do homem. Basta-nos aqui ter lembrado que depois de haver distinguido as faculdades psicológicas e seus atos, convém, para a síntese concreta da vida, tudo retomar na unidade. [Gardeil]