método semiótico

O uso do vocábulo ‘semiótica’ assim como a divisão geral desta disciplina filosófica, são devidos a Charles Morris, designando a ciência geral dos signos. São os signos, objeto da semiótica, importantes, e mesmo necessários, para o método científico, pelas seguintes razões arroladas por Bochenski:

1. A ciência é uma obra social que somente mediante o trabalho coletivo pode cristalizar em realidade. Este trabalho coletivo requer a comunicação do saber, possível através dos signos: palavras faladas e escritas. As palavras não sào, pois, alguma coisa acessória, mas um meio essencial da ciência.

2. As palavras, por outro lado, são alguma coisa material, acontecimentos. Se com elas se consegue que os conceitos sejam melhor e mais claramente formulados, ter-se-á facilitado enormemente o trabalho dos cientistas. E é que o entendimento humano funciona muito melhor manejando coisas materiais, para cuja apreensão está mais capacitado. Pense-se na operação de contar: pode-se fazer mentalmente, mas é muito mais fácil se se calcula com signos escritos.

3. Existe uma terceira razão, que faz com que as palavras sejam úteis para a ciência. A expressão do pensamento mediante signos é uma espécie de obra de arte. É um fato geralmente admitido que o artista normalmente é guiado em sua obra criadora por uma ideia que, de ordinário, não corresponde plenamente à obra já terminada. Ao longo da realização se elabora e se perfila esta ideia. Assim, amiúde acontece com a expressão: o conceito deve ser comunicado com palavras, faz-se mais preciso no ato da expressão. Prescindimos de se as palavras são veículos dos conceitos ou de se podem ter uma função autônoma. Apenas como simples meios de expressão já são de suma importância.

A ideia principal da ciência dos signos ou semiótica, que serve, também, de base para a sua divisão, pode ser formulada assim: quando alguém comunica alguma coisa a outrem, a palavra empregada se refere a uma tríplice ordem de objetos:

a) Em primeiro lugar, a palavra pertence a uma linguagem, isto é, tem determinadas relações com as demais palavras desta linguagem: está, por exemplo, entre outras duas palavras (por exemplo, a conjunção ‘e’) ou no princípio na frase etc. Estas relações são chamadas sintáticas: são relações das palavras entre si.

b) Em segundo lugar, tem o que chamamos significação: as palavras significam alguma coisa, querem comunicar a outrem alguma coisa concreta. Ao lado da relação sintática temos, pois, a relação das palavras com seu significado. Esta relação c chamada semântica.

c) Finalmente, a palavra é pronunciada por alguém e dirigida a outrem. Existe, portanto, uma terceira classe de relações: as que medeiam entre as palavras e os homens que as empregam, e sío chamadas pragmáticas.

Estas três relações das palavras têm entre si uma determinada vinculação. A relação pragmática supõe a semântica e a sintática; a semântica supõe a sintática. Uma palavra sem sentido não pode servir para entender-se, e para que uma palavra tenha sentido deve estar em determinadas relações com as outras palavras. Ao contrário, a relação sintática não supõe as outras duas e é possível estudar a semântica sem atender à pragmática.

A ordem entre as classes de relações é semelhante à que existe entre as três dimensões de um corpo geométrico. A palavra, em sua totalidade, é como um corpo tridimensional: apenas pela abstração podemos prescindir das duas primeiras classes de relações (a sintática e a semântica), ou de uma só (a sintática), o mesmo que em geometria podemos prescindir da superfície de um corpo ou de sua forma reta. O desenho abaixo explica esta comparação:

figurasemiotica

Diante disso, cumpre destacar expressamente que a palavra da qual se fala em semiótica é a palavra material, ou seja, se se trata da palavra escrita, minúsculos borrões de tinta seca no papel. É evidente — diz Bochenski — que é preciso tomar o vocábulo palavra neste sentido, posto que deve opor-se ao que significa (e que nada tem que ver com o vocábulo ‘palavra’ da linguagem corrente). Consequência importante desta concepção c que jamais necessitamos duas vezes uma mesma palavra num único enunciado, e muito menos em distintos inundados. Bochenski dá o seguinte exemplo tirado do princípio de identidade: “Edvar é Edvar”. Consoante a concepção semiótica, temos aqui uma série de pequenos borrões de tinta seca. Os borrões que lemos no princípio da proposição na palavra “Edvar” não são idênticos aos que estão no final da frase, pois se trata de dois diferentes borrões de tinta impressos em diferentes lugares do papel, o que não seria possível se fossem uma mesma coisa. Quando na linguagem comum se diz ‘a mesma palavra’, subentende-se que são ‘duas palavras que têm aproximadamente a mesma forma e a mesma significação’. Na semiótica, pelo contrário, fala-se neste caso de duas palavras da mesma forma. O que não quer dizer que a forma de ambas as palavras seja igual; basta examiná-las com uma potente lupa para comprovar que não é este o caso. O que se quer dizer é que sua estrutura gráfica geral é igual. [LWVita]