lugares

(gr. topoi; lat. loci; in. Topics; fr. Lieux; al. Örter; it. Luoghi).

Segundo Aristóteles, são os objetos dos raciocínios dialéticos e retóricos, “assuntos comuns à ética, à política, à física e a muitas outras disciplinas, como p. ex. o argumento do mais e do menos” (Ret., I, 2, 1358 a 10). Estes seriam os lugares-comuns. Mas existem também, segundo Aristóteles, lugares especiais ou próprios, que são os artigos constituídos por proposições pertencentes, p. ex., à física, mas nos quais é impossível fundar proposições concernentes à ética, ou reciprocamente. Os lugares-comuns não têm objeto específico, por isso não aumentam o conhecimento das coisas; os lugares-próprios, entretanto, especialmente se utilizam proposições oportunamente escolhidas, contribuem para o conhecimento das ciências especiais (Ret., I, 2, 1358 a 21). Os retores latinos salientaram a importância desse tipo de estudo, sobretudo dos lugares-comuns, para a arte oratória, pois não aumentam o saber, mas são instrumentos de persuasão (Cícero, Top, 2, 7; De oral, II, 36, 152; Quintiliano, Inst., V, 10, 20). Através das obras lógicas de Boécio (De diff. topicis, I; P. L, 64B, col. 1174), essa noção passou para a lógica medieval. Pedro Hispano define os lugares como “a sede de um argumento ou daquilo de que se extrai um argumento conveniente à questão proposta” (Summ. log., 5. 06).

Como se disse, a parte da lógica que estuda os lugares é a Tópica. Para Cícero, era a parte inventiva da lógica, a que excogita os argumentos úteis ao convencimento, mais do que ao juízo sobre sua validade. E repreendeu os estoicos por haverem cultivado somente a dialética, negligenciando a Tópica (Top, 2, 6). Mas, na realidade, Aristóteles não alude à capacidade inventiva da Tópica, entendendo-a mais como um estudo voltado a reunir sob um número restrito de tópicos (que são exatamente os L) os argumentos que estejam presentes em várias ciências ou em várias partes de uma mesma ciência. De qualquer forma, a crença no caráter inventivo da Tópica passou para a tradição (através de Boécio, De diff. top., I; P. lugares, 64s, col. 1173); aliás, quando se começou a reconhecer o caráter improdutivo da lógica aristotélica, a ela foi contraposta a importância da Tópica como arte de invenção. Foi o que fizeram Pedro Ramus (Dialecticae institutiones, 1543) e Vico (De antiquissima italorum sapientia 1710), que considerou a Tópica como a arte do engenho, que é a faculdade da invenção. Ainda, em lógica hamburgensis (1638), de Jungius, há um vasto estudo sobre os lugares lógicos, sob o titulo de Dialética (livro V). Mas a Lógica de Port-Royal (1662) já afirmava a escassa utilidade do estudo dos Tópicos. Arnauld disse: “Para formar os homens numa eloquência judiciosa e sólida, seria útil ensinar-lhes a calar mais que a falar, ou seja, a suprimir e eliminar os pensamentos baixos, comuns e falsos mais que a produzir, como fazem; um amontoado confuso de raciocínios bons e maus, com os quais se enchem livros e discursos” (Log., cap. 17). O estudo dos lugares desse gênero serve, portanto, apenas para reconhecê-los e evitá-los. A Lógica de Port-Royal enumerava três espécies deles: gramaticais, lógicos e metafísicos (Ibid., cap. 18). Posteriormente, o estudo dos lugares deixou de fazer parte integrante da lógica. Kant generaliza o conceito de lugar lógico entendendo por ele “qualquer conceito, qualquer título sob o qual se agrupem muitos conhecimentos”, e fala de uma “Tópica transcendental”, cujo objeto é “a determinação do lugar que cabe a cada conceito na sensibilidade ou no conceito puro, segundo a diversidade do seu uso” (Crít. R. Pura, Anal. dos princ, Nota às anfibolias dos conceitos da reflexão). Nesse sentido, a Tópica coincide com a “doutrina dos elementos” da Crítica da Razão Pura. [Abbagnano]