SPELAION

spélaion = caverna. Latim: spelunca

Alegoria criada por Platão no início do livro VII da República (514a-518b) para representar a condição humana e a missão do filósofo.

A caverna representa o mundo sensível, lugar dos corpos nos quais se encarnaram as almas depois da queda do mundo inteligível. A penumbra na qual eles estão mergulhados é a penumbra do conhecimento obscuro, do qual as almas só conseguirão libertar-se pela purificação (katharsis / kátharsis) e pela dialética (dialektike / dialektiké), para obter o conhecimento inteligível, representado pela luz solar.

Pode-se resumir assim a alegoria da caverna:

Alegoria

Significado

Os homens, desde o nascimento, estão acorrentados numa

morada subterrânea.

Os homens, desde a encarnação, estão mergulhados na

penumbra do corpo.

Das realidades exteriores, às quais dão as costas, eles

só conhecem a projeção das sombras na parede.

Eles só conhecem as verdadeiras Realidades eternas pelo

mundo sensível, que é sombra do mundo real (doxa / dóxa).

O prisioneiro liberto é incapaz de se mover no mundo

real; fica ofuscado e não pode distinguir os verdadeiros objetos.

A libertação da alma é difícil e dolorosa: nos

primeiros graus da katharsis / kátharsis, não é possível conhecer as Essências.

Os prisioneiros arrastados para fora revoltam-se e

preferem voltar para a caverna.

Devido a essa dificuldade, a maioria dos homens rejeita

a filosofia.

Se

eles quiserem realmente ver o mundo superior, precisarão proceder de

modo sistemático: ver primeiramente as sombras dos homens e suas

imagens na água, para depois ver os objetos; em seguida, verão à noite

a lua e as estrelas e, finalmente, o próprio sol.

Se quiserem realmente ver o mundo superior, precisarão

passar pela dialética: primeiramente, a conjectura (eikasia / eikasía),

depois a percepção (pistis / pístis), em seguida o conhecimento das

Essências (eide / eíde) e por fim o conhecimento do próprio Bem

(agathon / Agathón).

Então, eles ficam sabendo que é o sol que governa o

mundo sensível, e que ele também era a causa das sombras na parede.

Então, o filósofo vê que o Bem é a causa das Essências,

assim como do mundo sensível.

Aquele que, habituado à visão do sol, volta à caverna,

fica com os olhos feridos pela visão.

O filósofo só sente indiferença pelo mundo sensível e

por seus prazeres: nele só encontra incômodo e desagrado.

Apesar disso, retorna, por piedade pelos companheiros

de outrora.

No entanto, ele se mistura aos homens para trazer-lhes

a verdade.

Mas

estes zombam de sua atitude desprendida e se recusam a segui-lo para o

alto; sentem até mesmo ódio por ele e procuram matá-lo.

Mas estes não reconhecem sua santidade e se negam à

conversão. Preferem livrar-se dele definitivamente, como ocorreu com

Sócrates.