Weber distingue claramente entre conhecer e avaliar, entre juízos de fato e juízos de valor, entre "o que é" e "o que deve ser". Para ele, a ciência social é avaliativa, no sentido de que procura a verdade, ou seja, procura apurar como ocorreram os fatos e por que ocorreram assim e não diferentemente. A ciência explica, não valora.
Dentro do trabalho de Weber, tal tomada de posição tem dois significados: um, epistemológico, consiste na defesa da liberdade da ciência em relação a valorações ético-político-religiosas (uma teoria científica não é católica nem protestante, não é liberal nem marxista); o outro, ético-pedagógico, consistia na defesa da ciência em relação às deformações demagógicas dos chamados "socialistas de cátedra", que subordinavam o valor da verdade a valores ético-políticos, isto é, subordinavam a cátedra aos ideais políticos.
Com base nisso, é oportuno fixar em alguns breves pontos as considerações de Weber sobre a questão da avaliabilidade:
a) O professor deve ter claro quando faz ciência e, ao contrário, quando faz política.
b) Dado que o estudante, pelo menos naquela época, não era interlocutor, Weber pergunta-se se inculcar aos outros as próprias ideias políticas usando a cátedra (jogando com o fato de ser cientista e sem que se dê a possibilidade do contraditório) não esconde efetivamente uma prepotência.
c) Admitida a distinção entre ciência e política, Weber afirma que, por exemplo, o anarquista, que nega por princípio a validade das convenções e do direito, pode ser excelente professor de direito, precisamente porque a sua intuição pode problematizar concepções que passam por "evidentes" aos olhos dos juristas. Por isso, Weber se opunha aos colegas que se recusavam a confiar uma cátedra universitária a professores socialistas ou marxistas.
d) O que Weber não tolera é que se difunda como verdades científicas aquilo que, na verdade, nada mais é do que opiniões pessoais ou subjetivas.
e) Admitidas a especialização universitária e a liberdade de opinião, Weber não compreende como o estudioso sinta a necessidade de inculcar nos estudantes em aula, além da matéria específica que constitui o objeto do seu ensino, também uma concepção do mundo, pois não existe especialização em "profecia pedagógica".
f) O professor que põe no mesmo saco a análise rigorosa e o juízo de valor pessoal conquista sucesso mortificando o auditório: com efeito, é fácil brincar de reformador onde não se deve enfrentar as forças e as tensões efetivas a serem reformadas.
g) Quando os estudantes são forçados ao silêncio (ou ao semi-silêncio, pelo medo do exame), se lhes está faltando com o respeito e a lealdade, ostentando as qualidades próprias e preferências pessoais.
h) Dado que a cátedra não permite paridade aos interlocutores, a simples honestidade exige que o professor que quer propagar os seus ideais sirva-se de meios que estão à disposição de todos os cidadãos: reuniões públicas (onde não se está imune ao contraditório), adesão a uma organização, a um círculo, a um partido, uso da imprensa, manifestações de rua etc.
i) Uma vez na cátedra, o professor deve estar a serviço da verdade e não dos grupos de poder ou dos grupos de pressão.
l) Se se pensasse que a sala de aula é lugar de debate ideológico, então seria preciso conceder o mesmo direito aos adversários, pois a sala de aula não é tribuna para um só interlocutor.
m) Se, durante uma lição, o professor não pode se conter em produzir avaliações, então deveria ter a coragem e a probidade de indicar aos alunos o que é puro raciocínio lógico ou explicação empírica e o que tem a ver com apreciações pessoais e convicções subjetivas.
n) Em essência, o professor não deve se aproveitar de sua posição de professor para fazer propaganda de seus valores. Os deveres do professor são dois: primeiro, ser cientista e ensinar os outros a se tornarem cientistas; segundo, ter a coragem de propor em discussão os seus valores pessoais, especialmente onde eles podem ser efetivamente discutidos e não onde se possa facilmente contrabandeá-los. Foi por isso que Weber, em sua vida de professor, sempre desdenhou a fácil formação de grupelhos de amigos de professor, grupinhos de amizade que vão em detrimento da formação científica dos alunos e da discussão crítica dos valores do professor.
o) A ciência é distinta dos valores, mas não está separada deles: uma vez fixado o objetivo, a ciência pode nos dar os meios mais apropriados para alcançá-lo, pode prever quais serão as prováveis consequências do empreendimento, pode nos dizer qual é ou será o "custo" da realização do fim a que nos propomos, pode nos mostrar que, dada uma situação de fato, certos fins são irrealizáveis ou momentaneamente irrealizáveis e pode nos dizer também que o fim desejado contrasta com outros valores. Mas, de qualquer modo, a ciência nunca nos dirá o que devemos fazer. O que devemos fazer? Como devemos viver? Se propormos essas interrogações à ciência, nunca teremos resposta, porque teremos batido à porta errada. Cada um de nós deve buscar essas respostas em si mesmo, seguindo a sua inspiração ou a sua fraqueza. O médico pode até nos curar, mas, enquanto médico, não está em condições de estabelecer se vale ou não vale à pena viver. [Reale]