Em que direção deve-se olhar para que se possa caracterizar fenomenalmente o ser-em como tal? A resposta encontra-se, quando se recorda o que, na indicação do fenômeno, já foi confiado a VISÃO FENOMENOLÓGICA: o ser-em difere da interioridade de algo simplesmente dado “em” um outro; o ser-em não é propriedade de um sujeito simplesmente dado, separada ou apenas provocada pelo ser simplesmente dado do “mundo”; ao contrário, o ser-em é um modo de ser essencial do próprio sujeito. Que mais se apresentaria neste fenômeno do que um commercium simplesmente dado entre um sujeito simplesmente dado e um objeto simplesmente dado? Esta interpretação aproximar-se-ia dos dados fenomenais se dissesse: a presença (Dasein) é o ser deste “entre”. Mesmo assim, a orientação pelo “entre” continuaria provocando mal-entendidos, pois impediria de se ver a indeterminação ontológica do ponto de partida de um ente em meio ao qual “é e está” este entre como tal. Nesse caso, o entre já estaria sendo concebido como resultado da conveniência entre duas coisas simplesmente dadas. O seu ponto de partida prévio já explode o fenômeno e seria insensato tentar recompô-lo novamente a partir de seus fragmentos. Não é apenas que falte a “argamassa”. Também o “esquema”, segundo o qual a integração pode realizar-se, foi explodido ou jamais se desvendou. Do ponto de vista ontológico, é decisivo evitar previamente a fragmentação do fenômeno, o que significa assegurar o seu teor fenomenal positivo. Que sejam necessárias muitas circunstâncias para que isso se cumpra ontologicamente, isso foi, ontologicamente desvirtuado em tais proporções no modo tradicional de tratar o “problema do conhecimento” que chegou a se distorcer, a ponto de se tornar invisível. STMSC: §28
Como se apresenta, portanto, a posição prévia da situação hermenêutica até aqui considerada? Quando e como a análise existencial, que parte da cotidianidade, forçou toda a presença (Dasein) – esse ente do seu “princípio” ao seu “fim” – a entrar na VISÃO FENOMENOLÓGICA propiciadora do tema? De fato, afirmou-se que a cura é a totalidade do todo estrutural da constituição da presença (Dasein). Mas o ponto de partida da interpretação já não impõe a renúncia da possibilidade de apreender a presença (Dasein) como um todo? A cotidianidade é justamente o ser “entre” nascimento e morte. E, se a existência determina o ser da presença (Dasein) e o poder-ser também constitui {CH: simultaneamente o já ser} sua essência, então a presença (Dasein), enquanto existir, deve, em podendo ser, ainda não ser alguma coisa. O ente, cuja essência é constituída pela existência resiste, de modo essencial, à sua possível apreensão como ente total. A situação hermenêutica não apenas não assegurou a “posição” de todo o ente, como é até questionável se isso, por fim, se pode alcançar e se uma interpretação ontológica originária da presença (Dasein) não estará fadada ao fracasso, considerando-se o modo de ser do próprio ente tematizado. STMSC: §45
A análise preparatória tornou acessível uma multiplicidade de fenômenos. Embora fundada no todo estrutural da cura, esta multiplicidade não pode ser desconsiderada pela VISÃO FENOMENOLÓGICA. Enquanto articulada, a totalidade originária da constituição da presença (Dasein) não exclui esta multiplicidade, ao contrário, ela a exige. Originariedade da constituição da presença (Dasein) não coincide nem com simplicidade nem com unicidade de um elemento último de construção. A origem ontológica do ser da presença (Dasein) não é “inferior” ao que dela surge. A origem ontológica já o sobrepuja em poder e, no âmbito ontológico, todo “surgir” é degeneração. Para o senso comum, a tendência ontológica para a “origem” nunca se transforma em evidência ôntica. Ao contrário, esta tendência abre justamente o que há de questionável em toda evidência. STMSC: §67
Para que os fenômenos obtidos na análise preparatória possam ser reconduzidos à VISÃO FENOMENOLÓGICA, basta uma indicação a respeito dos estágios percorridos. A delimitação da cura resultou da análise da abertura constitutiva do ser do “pre” (das Da). O esclarecimento deste fenômeno trouxe consigo a interpretação provisória da constituição fundamental da presença (Dasein), a saber, o ser-no-mundo. A investigação teve início com esta caracterização a fim de assegurar, desde o começo, um horizonte fenomenal suficiente frente às determinações ontológicas prévias da presença (Dasein), em sua maior parte inadequadas e não expressas. Ser-no-mundo foi caracterizado, numa primeira aproximação, na perspectiva do fenômeno do mundo. E, na verdade, a explicação partiu da caracterização ôntico-ontológica do que está à mão e do que é simplesmente dado “em” um mundo circundante para, então, destacando a intramundanidade, nela tornar visível o fenômeno da mundanidade. A estrutura da mundanidade, a significância, demonstrou-se, no entanto, conectada com o para onde o compreender, que pertence essencialmente à abertura, projeta-se, isto é, com o poder-ser da presença (Dasein), em virtude da qual ela existe. STMSC: §67