transcendência

Transzendenz

Suspendendo-se dentro do nada o ser-aí (Dasein) já sempre está além do ente (Seiende) em sua totalidade (Ganze). Este estar além do ente designamos a transcendência (Transzendenz). Se o ser-aí, nas raízes de sua essência (Wesen), não exercesse o ato de transcender, e isto expressamos agora dizendo: se o ser-aí não estivesse suspenso previamente dentro do nada (Nichts), ele jamais poderia entrar em relação com o ente e, portanto, também não consigo mesmo. (MHeidegger O QUE É METAFÍSICA?)


Uma observação terminológica preliminar regulará o uso da palavratranscendência” e preparará a determinação do fenômeno com ela visado. Transcendência significa ultrapassagem (Überstieg). Transcendente (Transzendent) (transcendendo) é aquilo que realiza a ultrapassagem, que se demora no ultrapassar. Este é, como acontecer (Geschehen), peculiar a um ente (Seiende). Formalmente, a ultrapassagem pode ser compreendida como uma “relação” (Beziehung) que se estende “de” algo (etwas) “para” algo. Da ultrapassagem faz parte, então, algo tal como o elemento em direção ao qual se realiza a ultrapassagem; isto é designado, na maioria das vezes, de maneira inexata como o “transcendente”. E, finalmente, em cada ultrapassagem algo é transcendido. Estes momentos são deduzidos de um acontecimento “espacial” (räumlichen); é a esse acontecimento que a expressão (Ausdruck) primeiramente visa.

A transcendência, na significação terminológica que deverá ser clarificada e demonstrada, refere-se àquilo que é próprio do ser-aí humano (menschlichen Dasein), e isto não, por certo, como um modo de comportamento (Verhaltungsweise) entre outros possíveis, de vez em quando posto em exercício, mas como constituição fundamental (Grundverfassung) deste ente, uma constituição que acontece antes de todo comportamento. Não há dúvida, o ser-aí humano, enquanto existe “espacialmente”, possui, entre outras possibilidades (Möglichkeit), também a de um “ultrapassar” um espaço, uma barreira física ou um fosso. A transcendência, contudo, é a ultrapassagem que possibilita algo tal como existência (Existenz) em geral e, por conseguinte, também um movimentar-“se”-no-espaço (»Sich«-bewegen-im-Raume).

Se se escolhe para o ente que nós mesmos sempre somos a cada vez e que compreendemos como “ser-aí” a expressão “sujeito” (Subjekt), então a transcendência designa a essência do sujeito (Wesen des Subjekts), ela é a estrutura básica da subjetividade (Grundstruktur der Subjektivität). O sujeito nunca existe antes como “sujeito”, para então, caso subsistam objetos (Objekt), também transcender (transzendieren); mas ser-sujeito quer dizer: ser um ente na e como transcendência (in und als Transzendenz Seiendes sein). O problema da transcendência (Transzendenzproblem) nunca pode ser exposto de tal modo que se procure uma decisão (Entscheidung) sobre se a transcendência pode convir ou não ao sujeito; a compreensão (Verständnis) da transcendência já é muito mais a decisão quanto a se realmente temos ou não em mente algo assim como a “subjetividade” ou se apenas tomamos em consideração por assim dizer um esqueleto de sujeito (Rumpfsubjekt). (GA9:137-138; tr. Giachini & Stein:149)