referência

Verweisung

Rigorosamente, um instrumento nunca “é”. O instrumento só pode ser o que e num todo instrumental que sempre pertence a seu ser. Em sua essência, todo instrumento é “algo para…” Os diversos modos de “ser para” (Um-zu) como serventia, contribuição, aplicabilidade, manuseio constituem uma totalidade instrumental. Na estrutura “ser para” (Um-zu), acha-se uma REFERÊNCIA de algo para algo. Apenas nas análises seguintes é que o fenômeno indicado por esse termo se fará visível em sua gênese ontológica. Provisoriamente, trata-se somente de obter uma visão da multiplicidade dos fenômenos de REFERÊNCIA. O instrumento sempre corresponde a seu caráter instrumental a partir da pertinência a outros instrumentos: instrumento para escrever, pena, tinta, papel, suporte, mesa, lâmpada, móvel, janela, portas, quarto. Essas “coisas” nunca se mostram primeiro por si, para então encherem um quarto como um conjunto de coisas reais. Embora não apreendido tematicamente, o que primeiro vem ao encontro é o quarto, não como o “entre quatro paredes”, no sentido de espaço geométrico, mas como instrumento de habitação. É a partir dele que se mostra a “instalação” e, nela, os diversos instrumentos “singulares”. Antes deles, sempre já se descobriu uma totalidade instrumental. STMSC: §15

As referências determinam a estrutura do ser do manual enquanto instrumento. O “em si” próprio e evidente das “coisas” mais próximas encontram-se na ocupação que faz uso das coisas, embora sem tomá-las explicitamente, podendo deparar-se com o que não é passível de emprego. Um instrumento não pode ser empregado – isto significa: a REFERÊNCIA constitutiva entre o ser para (Um-zu) e um ser para isso (Dazu) acha-se perturbada. No subordinar-se da ocupação às referências, elas não são consideradas em si, elas estão “pre-sentes por aí” (»da«). Numa perturbação da REFERÊNCIA – na impossibilidade de emprego para…, a REFERÊNCIA se explicita, se bem que ainda não como estrutura ontológica, mas, onticamente, para a circunvisão, que se depara com o dano do utensílio. A circunvisão desperta a REFERÊNCIA a um específico ser para isso (Dazu), tornando assim visível não apenas tal ser, mas o contexto da obra, todo o “canteiro da obra” e, na verdade, como aquilo em que a ocupação sempre se detém. O conjunto instrumental não se evidencia como algo nunca visto e sim como um todo já sempre visto antecipadamente na circunvisão. Com esse todo, anuncia-se o mundo. STMSC: §16

Na interpretação provisória da estrutura de ser do manual (dos “instrumentos”), tornou-se visível o fenômeno da REFERÊNCIA, se bem que de maneira tão esquemática, que é preciso acentuar a necessidade de se descobrir o fenômeno apenas indicado em sua proveniência ontológica. Tornou-se também claro que REFERÊNCIA e totalidade referencial são, em algum sentido, constitutivas da própria mundanidade. Até o presente momento, vimos o mundo evidenciar-se somente para e em determinados modos da ocupação no mundo circundante do que está à mão, e este com sua manualidade. Quanto mais aprofundarmos, portanto, a compreensão de ser deste ente intramundano, tanto mais ampla e segura tornar-se-á a base fenomenal para a liberação do fenômeno do mundo. STMSC: §17

Partiremos mais uma vez do manual, só que agora com o propósito de apreender mais precisamente o fenômeno da própria REFERÊNCIA. Para este fim, tentaremos uma análise ontológica do instrumento em que se podem constatar vários sentidos de “REFERÊNCIA”. Tal “instrumento” nós o encontramos nos sinais. Com esta palavra designam-se muitas coisas: não apenas diversas espécies de sinal, mas o próprio ser sinal de… pode ser formalizado e transformado numa espécie de relação universal. Deste modo, a própria estrutura de sinal apresenta um fio ontológico capaz de orientar uma “caracterização” de todo e qualquer ente. STMSC: §17

Os sinais são, no entanto, antes de tudo, instrumentos cujo caráter instrumental específico consiste em mostrar. Dentre esses sinais temos as placas e pedras nos caminhos, as bóias de navegação, bandeiras, sinais, fumaça, etc. A ação de mostrar pode ser determinada como uma “espécie” de REFERÊNCIA. Num sentido extremamente formal, toda REFERÊNCIA é um relacionar. Relação, porém, não é gênero para “espécies” de referências que se diferenciam em sinais, símbolo, expressão e significado. Relação é uma determinação formal que, através da “formalização”, pode ser lida diretamente em cada espécie de conexão entre qualquer conteúdo e modo de ser. STMSC: §17

Toda REFERÊNCIA é uma relação, mas nem toda relação é uma REFERÊNCIA. Toda “ação de mostrar” é uma REFERÊNCIA, mas nem toda REFERÊNCIA mostra. Com isso também se diz: toda “ação de mostrar” é uma relação, mas nem toda relação mostra. Assim aparece o caráter formal e geral da relação. Para se investigar os fenômenos de REFERÊNCIA, sinal e significado, de nada adianta {CH: fundamental para se comprovar a possibilidade da pretensão da logística} caracterizá-los como a relação. Deve-se, em última instância, mostrar que a própria “relação”, devido a seu caráter formal geral, tem sua origem ontológica numa REFERÊNCIA. STMSC: §17

Se a presente análise se limita a interpretar a diferença entre sinal e o fenômeno de REFERÊNCIA, então, dentro dessa limitação, não se poderá investigar adequadamente a multiplicidade de todos os sinais possíveis. Dentre os sinais, existem anúncios, prenúncios, vestígios, marcas, distintivos cuja ação de mostrar difere em cada caso, mesmo abstraindo-se daquilo que cada vez serve como sinal. Dentre esses “sinais”, devem-se distinguir-se rastro, resto, monumento, documento, testemunho, símbolo, expressão, manifestação, significado. Tendo em vista seu caráter formal de relação, esses fenômenos se deixam facilmente formalizar; hoje, temos a tendência de submeter todos os entes a uma “interpretação” sob o fio condutor de “relação”. Trata-se de uma interpretação que sempre “dá certo” porque, no fundo, não diz nada como, por exemplo, o esquema de forma e conteúdo, usado com tanta facilidade. STMSC: §17

Escolhemos como exemplo de sinal aquele que, numa análise posterior, desempenhará a função de exemplo numa outra perspectiva. Recentemente, instalou-se nos veículos uma seta vermelha e móvel, cujo posicionamento mostra, cada vez, por exemplo, num cruzamento, qual o caminho que o carro vai seguir. O posicionamento da seta é acionado pelo motorista. Esse sinal é um instrumento que está à mão, não apenas na ocupação (dirigir) do motorista. Também os que não estão no veículo e justamente eles fazem uso desse instrumento, esquivando-se para o lado indicado ou ficando parados. Esse sinal está à mão dentro do mundo na totalidade do conjunto instrumental dos meios de transporte e regras de trânsito. Enquanto instrumento, esse instrumento-sinal constitui-se por REFERÊNCIA. Possui o caráter de “ser-para” (Um-zu), possui sua serventia definida, ele é para mostrar. Essa ação de mostrar do sinal pode ser apreendida como “REFERÊNCIA”. Deve-se, no entanto, observar: essa “REFERÊNCIA” enquanto sinal não é a estrutura ontológica do sinal enquanto instrumento. STMSC: §17

Enquanto ação de mostrar, a “REFERÊNCIA” funda-se, ao contrário, na estrutura ontológica do instrumento, isto é, na serventia. A serventia ainda não faz de um ente um sinal. Também o instrumento “martelo” se constitui por uma serventia, embora com isso o martelo não seja um sinal. A “REFERÊNCIA” mostrar é a concreção ôntica do para quê (Wozu) de uma serventia, que determina um instrumento específico. A REFERÊNCIAserventia para” é, em contrapartida, uma determinação ontológica categorial do instrumento como instrumento. Que o para quê (Wozu) se concretize na ação de mostrar, isto é apenas contingente para a constituição do instrumento como tal. A diferença entre REFERÊNCIA enquanto serventia e REFERÊNCIA enquanto sinal torna-se visível, a grosso modo, no exemplo do sinal. Ambas se identificam tão pouco que é somente em sua unidade que possibilitam a concreção de uma determinada espécie de instrumento. Quanto mais segura for, em princípio, a diferença entre a ação de mostrar e a REFERÊNCIA constitutiva do instrumento, tanto mais inquestionável será a remissão própria e mesmo privilegiada que o sinal tem com o modo de ser da totalidade instrumental, à mão dentro do mundo, e com a sua determinação mundana. No modo de lidar da ocupação, o instrumento-sinal tem um emprego preferencial. Do ponto de vista ontológico, porém, a simples constatação desse fato não é suficiente. Deve-se esclarecer ainda o fundamento e o sentido dessa preferência. STMSC: §17

Esta interpretação do sinal tinha apenas a finalidade de oferecer um apoio fenomenal para se caracterizar a REFERÊNCIA. A relação entre sinal e REFERÊNCIA é tríplice: 1. Na estrutura do instrumento em geral, a ação de mostrar, enquanto possível concreção do para quê (Wozu) de uma serventia, funda-se no ser para (Um-zu) (REFERÊNCIA). 2. A ação de mostrar do sinal, enquanto caráter instrumental do que se acha à mão, pertence a uma totalidade instrumental, a um conjunto referencial. 3. O sinal não está apenas à mão junto com outro instrumento, mas, em sua manualidade, o mundo circundante torna-se, cada vez, explicitamente acessível à circunvisão. O sinal está onticamente à mão e, enquanto é esse instrumento determinado, desempenha, ao mesmo tempo, a função de alguma coisa que indica a estrutura ontológica de manualidade, totalidade de referencial e mundanidade. Aí se enraíza o privilégio desse manual em meio ao mundo circundante, ocupado pela circunvisão. Se, portanto, a própria REFERÊNCIA deve ser, do ponto de vista ontológico, fundamento do sinal, ela mesma não pode ser concebida como sinal. Como a própria REFERÊNCIA constitui manualidade, ela não é a determinação ôntica de um manual. Em que sentido a REFERÊNCIA é a “pressuposição” ontológica do manual e em que medida, na qualidade de fundamento ontológico, é também constitutivo da mundanidade em geral? STMSC: §17

Indicou-se a constituição instrumental do manual como REFERÊNCIA. Como o mundo pode liberar em seu ser os entes dotados desse modo de ser? Por que esse ente é o que vem ao encontro em primeiro lugar? Consideramos a serventia, o dano, a possibilidade de emprego, etc. como referências determinadas. O para quê (Wozu) de uma serventia e o em quê (Wofür) de uma possibilidade de emprego delineiam a concreção possível da REFERÊNCIA. A “ação de mostrar” do sinal, o “martelar” do martelo não são, contudo, propriedades dos entes. Não são propriedades em sentido algum, caso esse termo deva designar a estrutura ontológica de uma determinação possível de coisas. Em todo caso, o manual é apropriado ou não apropriado e, nessas apropriações, suas “propriedades” acham-se, por assim dizer, articuladas, do mesmo modo que o ser simplesmente dado, na qualidade de modo possível de ser de um manual na manualidade. Como constituição do instrumento, a serventia (REFERÊNCIA) também não é o ser apropriado de um ente, mas a condição ontológica da possibilidade para que possa ser determinado por apropriações. O que diria, pois, nesse caso, REFERÊNCIA? O ser do manual tem a estrutura da REFERÊNCIA. Isso significa: ele possui em sisi mesmo o caráter de estar referido a. O ente se descobre enquanto referido a uma coisa como o ente que ele mesmo é. O ente tem com o ser que ele é algo junto. O caráter ontológico do manual é a conjuntura. Na conjuntura se diz: algo se deixa e faz junto a. É essa remissão de “com… junto…” que se pretende indicar com o termo REFERÊNCIA. STMSC: §18

O deixar e fazer previamente junto… com… funda-se num compreender de algo como deixar e fazer em conjunto, numa compreensão de ser e estar junto e de estar com de uma conjuntura. Isso e o que lhe subjaz mais remotamente como o ser para isso, em cuja conjuntura se dá o em virtude de para onde retorna, em última instância, todo para quê (Wozu), tudo isso já deve estar previamente aberto numa compreensibilidade. Mas em que a presença (Dasein) se compreende pré-ontologicamente como ser-no-mundo? Ao compreender o contexto de remissões supramencionado, a presença (Dasein) já se referiu a um ser para, a partir de um poder ser explícito ou implícito, próprio ou impróprio, em virtude do qual ela mesma é. Assim, delineia-se um ser para isso, como possível estar junto de um deixar e fazer em conjunto, o qual estruturalmente deixa e faz entrar junto com alguma coisa. A partir de um em virtude de, a presença (Dasein) sempre se refere ao estar com de uma conjuntura, ou seja, já permite sempre, em sendo, que o ente venha ao encontro como manual. A perspectiva dentro da qual se deixa e se faz o encontro prévio dos entes constitui o contexto em que a presença (Dasein) se compreende previamente segundo o modo de REFERÊNCIA. O fenômeno do mundo é o em quê (Worin) da compreensão referencial, enquanto perspectiva de um deixar e fazer encontrar um ente no modo de ser da conjuntura. A estrutura da perspectiva em que a presença (Dasein) se refere constitui a mundanidade do mundo. STMSC: §18

O compreender, que a seguir será analisado mais profundamente (cf §31), contém, numa abertura prévia, as remissões mencionadas. Detendo-se nessa familiaridade, o compreender atém-se a estas remissões como o contexto em que se movem as suas referências. O próprio compreender se deixa referenciar nessas e para essas remissões. Apreendemos o caráter de remissão dessas remissões de REFERÊNCIA como ação de signi-ficar. Na familiaridade com essas remissões, a presença (Dasein) “significa” para si mesma, ela oferece o seu ser e seu poder-ser a si mesma para uma compreensão originária, no tocante ao ser-no-mundo. O em virtude de significa um ser para, este um ser para isso, esse um estar junto em que se deixa e faz em conjunto, esse um estar com da conjuntura. Essas remissões estão acopladas entre si como totalidade originária. Elas são o que são enquanto ação de signi-ficar (Be-deuten), onde a própria presença (Dasein) se dá a compreender previamente a si mesma no seu ser-no-mundo. Chamamos de significância o todo das remissões dessa ação de significar (Bedeuten). A significância é o que constitui a estrutura de mundo em que a presença (Dasein) {CH: a presença (Dasein) em que o homem vigora} já é sempre como é. Em sua familiaridade com a significância, a presença (Dasein) é a condição ôntica de possibilidade para se poder descobrir os entes que num mundo vêm ao encontro no modo de ser da conjuntura (manualidade) e que se podem anunciar em seu em-si. A presença (Dasein) como tal é sempre esta presença (Dasein) com a qual já se descobre essencialmente um contexto de manuais. Sendo, a presença (Dasein) já se {CH: mas não como uma ação e feito, dotados de eu, de um sujeito. Mas, presença (Dasein) e ser} referiu a um “mundo” que lhe vem ao encontro, pois pertence essencialmente a seu ser uma referencialidade. STMSC: §18

Enquanto ser-no-mundo, a presença (Dasein) já descobriu a cada passo um “mundo”. Caracterizou-se esse descobrir, fundado na mundanidade do mundo, como liberação dos entes numa totalidade conjuntural. A ação liberadora de deixar e fazer em conjunto se perfaz no modo da REFERÊNCIA, guiada pela circunvisão e fundada numa compreensão prévia da significância. Mostra-se assim que, dentro de uma circunvisão, o ser-no-mundo é espacial. E somente porque a presença (Dasein) é espacial, tanto no modo de dis-tanciamento quanto no modo de direcionamento, o que se acha à mão no mundo circundante pode vir ao encontro em sua espacialidade. A liberação de uma totalidade conjuntural é, de maneira igualmente originária, um deixar e fazer em conjunto que, numa região, dis-tancia e direciona, ou seja, libera a pertinência espacial do que está à mão. Na significância, familiar à presença (Dasein) nas ocupações de seu ser-em, reside também a abertura essencial do espaço. STMSC: §24

A “descrição” do mundo circundante mais próximo, por exemplo, do mundo do artesão, mostrou que, com o instrumento em ação, também “vêm ao encontro” os outros, aos quais a “obra” se destina. No modo de ser desse manual, ou seja, em sua conjuntura, subsiste uma REFERÊNCIA essencial a possíveis portadores para os quais a obra está “talhada sob medida”. Do mesmo modo, junto com o material empregado, também vem ao encontro o seu produtor ou “fornecedor”, enquanto aquele que “serve” bem ou mal. O campo, por exemplo, onde passeamos “lá fora” mostra-se como o campo que pertence a alguém, que é por ele mantido em ordem; o livro usado foi comprado em tal livreiro, foi presenteado por… e assim por diante. Em seu ser-em-si, o barco ancorado na praia refere-se a um conhecido que nele viaja ou então um “barco desconhecido” mostra outros. Os outros que assim “vêm ao encontro”, no conjunto instrumental à mão no mundo circundante, não são algo acrescentado pelo pensamento a uma coisa já antes simplesmente dada. Todas essas coisas vêm ao encontro a partir do mundo em que elas estão à mão para os outros. Este mundo já é previamente sempre o meu. Na análise feita até aqui, a periferia daquilo que vem ao encontro dentro do mundo restringiu-se, de início, ao instrumento manual e à natureza simplesmente dada e, assim, aos entes destituídos do caráter da presença (Dasein). Esta restrição não apenas era necessária para simplificar a explicação, mas, sobretudo, porque o modo de ser da presença (Dasein) dos outros que vêm ao encontro dentro do mundo diferencia-se da manualidade e do ser simplesmente dado. O mundo da presença (Dasein) libera, portanto, entes que não apenas se distinguem dos instrumentos e das coisas mas que, de acordo com seu modo de ser de presença (Dasein), são e estão “no” mundo em que vêm ao encontro segundo o modo de ser-no-mundo. Não são algo simplesmente dado e nem algo à mão. São como a própria presença (Dasein) liberadora – são também co-presenças. Ao se querer identificar o mundo em geral com o ente intramundano, dever-se-ia então dizer: “mundo” é também presença (Dasein). STMSC: §26

Tanto a escuta quanto o compreender já aderiram previamente ao que foi falado como tal. A comunicação não “partilha” a REFERÊNCIA ontológica primordial com o referencial da fala, mas a convivência se move dentro de uma fala comum e numa ocupação com o falado. O seu empenho é para que se fale. O que se diz, o dito e a dicção empenham-se agora pela autenticidade e objetividade da fala e de sua compreensão. Por outro lado, dado que a fala perdeu ou jamais alcançou a REFERÊNCIA ontológica primária ao referencial da fala, ela nunca se comunica no modo de uma apropriação originária deste sobre o que se fala, contentando-se com repetir e passar adiante a fala. O falado na falação arrasta consigo círculos cada vez mais amplos, assumindo um caráter autoritário. As coisas são assim como são porque é assim que delas (impessoalmente) se fala. Repetindo e passando adiante a fala, potencia-se a falta de solidez. Nisso se constitui a falação. A falação não se restringe apenas à repetição oral da fala, mas expande-se no que escreve enquanto “escrivinhação”. Aqui, a repetição da fala não se funda tanto no ouvir dizer. Ela se alimenta do que se lê. A compreensão mediana do leitor nunca poderá distinguir o que foi haurido e conquistado originariamente do que não passa de mera repetição. E mais ainda, a própria compreensão mediana não tolera tal distinção, pois não necessita dela, já que tudo compreende. STMSC: §35