A obra não foi apenas a conclusão de esforços precedentes, mas também a fundamentação da ciência da natureza que veio depois, e teve o seu desenvolvimento tão favorecido como impedido. Quando hoje falamos da física clássica, temos em vista a figura do saber, do questionar e do fundar, estabelecida por Newton. Cinco anos após a publicação da Crítica da Razão Pura, cem anos decorridos após os «Primeiros fundamentos» de Newton, Kant publicou um escrito intitulado Primeiros Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza, em 1786. Trata-se de um equivalente, consciente e complementar, da obra de Newton, tendo como fundamento a posição alcançada na Crítica da Razão Pura. No final do prefácio do seu escrito, Kant refere-se expressamente à obra de Newton. O último decênio da sua atividade criadora foi ocupado por este tipo de questões (nos próximos meses será publicado, pela pela primeira vez de forma integral, o primeiro volume desta obra póstuma, na edição das obras de Kant ao cuidado da Academia Prussiana das Ciências).
Na medida em que damos uma olhadela à obra de Newton — mais do que isso não podemos fazê-lo aqui — lançamos também um olhar antecipado ao conceito kantiano de ciência. Mas, ao mesmo tempo, damos uma olhadela às representações fundamentais que, na física dos nossos dias, ainda possuem validade, embora não possuam validade exclusiva.
A obra é precedida por um curto parágrafo, intitulado «Definitiones», que dizem respeito à «quantitas materiae», à «quantitas motus», à força e, acima de tudo, à «vis centripeta». Segue-se ainda um «Scholium», que contém a série das célebres definições conceptuais acerca do tempo absoluto e relativo, do espaço absoluto e relativo, acerca do (83) lugar absoluto e relativo e, finalmente, acerca do movimento absoluto e relativo. Segue-se, então, um parágrafo intitulado «Axiomata, sive leges motus», «Axiomas ou leis do movimento». A ele liga-se o conteúdo próprio da obra. Esta está dividida em três livros: os dois primeiros tratam do movimento dos corpos, «de motu corporum», o terceiro trata do sistema do mundo, «de mundi systemate». (GA41)