peso

Schwergewicht

Para a compreensão da doutrina do eterno retorno, tão importante quanto o fato de Nietzsche comunicá-la pela primeira vez na conclusão de A gaia ciência (Fröhlichen Wissenschaft) é o modo como ele caracteriza aí, de antemão, o pensamento do eterno retorno. O aforismo em questão traz o título: “O peso mais pesado” (Das größte Schwergewicht). O pensamento como peso (Der Gedanke als Schwergewicht)! O que nos representamos ao ouvirmos a expressão “peso”? O peso impede o movimento vacilante, traz consigo uma quietude (Ruhe) e firmeza (Festigkeit), atrai todas as forças (Kraft) para si, as reúne e dá determinação. Um peso puxa ao mesmo tempo para baixo e nos compele, com isso, constantemente para nos mantermos eretos. No entanto, ele também se mostra como o risco de escorregar para baixo e permanecer embaixo. Dessa feita, um peso é também um obstáculo que exige ser constantemente tomado e superado. Todavia, um peso não cria novas forças. Ao contrário, ele transforma a direção de seu movimento e cria, assim, novas leis de movimento para a força disponível.

Ora, mas como é que um pensamento pode ser um peso, isto é, como é que ele pode se mostrar como determinante sob os modos citados da fixação, da reunião, da atração, da obstaculização e da alteração de direção? E o que ele deve determinar? A quem o peso deve ser anexado e em quem ele deve ser inculcado? Quem deve levá-lo para cima consigo, a fim de que não permaneça embaixo? Nietzsche o diz quase no fim do aforismo: o pensamento residiria como a questão “tu queres isso uma vez mais e ainda incontáveis vezes?” por toda parte e o (190) tempo todo sobre o nosso agir. O que se tem em vista com o termo “agir” (Handeln) não é aqui meramente a atividade prática, nem tampouco o agir ético, mas muito mais o todo das relações do homem com o ente e consigo mesmo. O pensamento do eterno retorno deve ser um “peso”, isto é, deve ser determinante para o encontrar-se conjuntamente em meio ao ente na totalidade. (GA6T1:241; tr. Casanova:GA6MAC:189-190)